HBO Max vai acabar? Entenda o caso por trás do streaming

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HBO Max vai acabar? Entenda o caso por trás do streaming

Por Arthur Eloi

A HBO Max ficou em alta nas últimas semanas. Por causa de algum lançamento bombástico? Finalmente resolveram os problemas da plataforma? Na verdade, muito pelo contrário: o futuro do serviço se tornou preocupante após as várias mudanças na direção da Warner Bros. Discovery.

Como bem indica o novo nome, a companhia passou por uma fusão entre a Warner Bros. e a Discovery, e com isso o executivo David Zaslav, que era o chefão da Discovery, assumiu o posto de CEO desta nova empresa. Discutir a dança das cadeiras dos bastidores pode até soar meio tedioso, mas é vital para entender decisões que nos afetam diretamente como consumidores.

A chegada de Zaslav criou todo um rebuliço no alto escalão da corporação. Os vários executivos que antes comandavam a empresa, direcionando para um futuro mais digital e com o streaming como figura central, deixaram a companhia. E o novo CEO nunca escondeu seus objetivos: cortar custos.

David Zaslav assumiu o cargo de CEO da Warner Bros. Discovery com o objetivo de enxugar US$3 bilhões em gastos

Zaslav chegou com a missão de enxugar ao máximo os gastos da companhia, com a meta de economizar um total de US$3 bilhões, seja na questão dos funcionários ou até mesmo na produção de conteúdo – que é o tópico mais sensível ao público-geral. Acontece que, para criar qualquer veículo de sucesso, seja uma emissora de TV ou uma plataforma de streaming, é preciso investir muita grana em conteúdo, acreditando que tudo eventualmente se pagará.

A Warner Bros. depositou toda sua confiança na HBO Max, ao ponto de até colocar sua relação com os cineastas da casa em risco após anunciar lançamentos simultâneos nas telonas e em casa. A decisão irritou Patty Jenkins (Mulher-Maravilha) e Denis Villeneuve (Duna), e tirou Christopher Nolan do sério ao ponto dele romper duas décadas de parceria e seguir com a Universal Pictures na produção e distribuição de seu próximo filme, Oppenheimer.

Antiga administração da WarnerMedia botava tanta fé na HBO Max que até sacrificou sua relação com Christopher Nolan em prol do streaming

A estratégia foi ousada, e até dá para dizer que funcionou. A HBO Max recentemente bateu a marca de 76,8 milhões de assinantes, algo surpreendente considerando que a plataforma tem pouco mais de um ano de idade, e que sequer está disponível em todos os países. O público assinante, porém, é sedento por conteúdo, e é aí que Zaslav se torna uma figura polêmica.

O novo CEO não acredita em grandes investimentos para plataformas de streaming, e já começou a tomar decisões que refletem isso. Batgirl, filme da heroína da DC Comics, virou manchete ao ser cancelado mesmo após entrar em estágio de pós-produção, depois que a empresa já tinha desembolsado US$90 milhões no projeto. O mesmo vale para a continuação de Scooby! O Filme, que rodou tão próximo de ser concluída que os compositores se recusaram a não gravar a trilha sonora, visto que os músicos já tinham sido contratados, e os estúdios devidamente alugados.

Parecem decisões precipitadas, e até podem ser mesmo, mas Zaslav tem uma visão de futuro muito diferente de seus antecessores. Esses projetos cancelados podem ser categorizados como despesas da fusão entre as empresas, o que rende uma boa isenção fiscal na hora de sentar com o contador para pagar impostos, efetivamente “recuperando” uma parte da grana investida (no caso, deixando de gastar valores parecidos em impostos). E o fim de Batgirl sinaliza só o início de uma avalanche de mudanças.

Batgirl, que teria retorno de Michael Keaton como Batman e já estava em fase de finalização, foi o primeiro indicador de uma leva de mudanças

Para os fãs de heróis, o CEO já deixou claro que mudará as coisas na forma que as obras da DC Comics são tocadas. Zaslav sente que há muito potencial nos maiores heróis da casa, como Batman, Mulher-Maravilha e principalmente o Superman, portanto projetos de heróis secundários devem ser cada vez menos recorrentes – especialmente se custar caro sem a garantia de serem blockbusters, daqueles que lotam salas de cinema.

“Salas de cinema” são um ponto-chave para toda essa virada. A HBO Max não deve mais ser o carro-chefe da nova administração, e sim uma plataforma com foco em disponibilizar conteúdos feitos para TV e cinema ao invés de ganhar custosas obras originais. E, claro, é preciso tocar no grande elefante branco no meio da sala.

A HBO Max não existirá por muito mais tempo, pelo menos não na forma como conhecemos atualmente. Durante uma chamada com investidores, Zaslav revelou um serviço de streaming que combinará conteúdos da plataforma com os do Discovery+. As obras originais deste serviço inédito seguirão outra lógica: conteúdo mais barato, e geralmente focado em programas não-roteirizados, como reality shows.

Não significa que não haverá mais nenhum jeito de curtir Euphoria ou Batman no streaming, mas sim que obras desse calibre não serão feitas exclusivamente para o serviço digital. A HBO – o canal de TV, lembra dele? – continuará operando do mesmo jeito, com séries de alto nível de produção e qualidade, e transmitidas na televisão antes de chegarem ao catálogo virtual.

Na nova administração, não espere ver um investimento do porte de A Casa do Dragão feito exclusivamente para streaming

O mesmo vale para os filmes. Depois da antiga administração da Warner Bros. irritar seus diretores e atores por conta de especificidades nebulosas desse modelo de lançamento híbrido, os novos chefes querem retomar o cinema como prioridade. Os filmes serão gigantes, blockbusters daqueles que todo mundo comenta, e só depois de saírem das telonas que um lançamento em streaming será cogitado.

Tudo isso vem direto da boca de David Zaslav, que afirmou durante a chamada para investidores (via THR):

Nós vamos abraçar por completo o lançamento nos cinemas, pois acreditamos que cria interesse e demanda […] Somos fiéis no modelo de TV a cabo, e esperamos que isso seja uma grande fonte de renda para nós.

A nova estratégia já está sendo bastante divisiva entre o público, especialmente por conta de declarações lamentáveis de Zaslav que pintam a HBO Max como uma plataforma “masculina”, e o Discovery+ (com seus realities e programas de competição) como algo voltado para mulheres. Assim como essa fala, o direcionamento soa retrógrado em um mundo em que as plataformas de streaming já são uma realidade há mais de uma década, e parece com uma tentativa de resgatar um passado do audiovisual que talvez não funcione mais.

Seja como for, o fim da HBO Max paira no ar, mas ainda não há data para a plataforma bater as botas. Até lá, aproveite bem suas maratonas – especialmente pelo fato de que muitas obras originais já estão sumindo do catálogo, sem mais nem menos.

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