Review com spoilers: A Casa do Dragão 1×05 Iluminamos o Caminho

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Review com spoilers: A Casa do Dragão 1×05 Iluminamos o Caminho

Por Melissa de Viveiros

Atenção: Alerta de Spoilers!

House of the Dragon atingiu o meio de sua temporada neste domingo (18), com o quinto episódio, “Iluminamos o Caminho”. E, se a principal representação da Casa Hightower neste episódio faz por merecer a homenagem no título, este é facilmente o pior capítulo da série até agora, caindo em problemas herdados diretamente de Game of Thrones.

É claro que sei que a opinião predominante na internet não é esta – a maioria do público parece contente com o choque como valor principal, que evita reflexões sobre qualquer problema narrativo. É a fórmula utilizada pela série antecessora da HBO, principalmente desde sua quinta temporada, mas da qual muitos só reclamaram no final, ainda sem perceber que foi essa construção – ou a falta dela – que resultaram em uma conclusão insatisfatória.

Tal como na série de antes, o quinto episódio de A Casa do Dragão não se importa que atos tenham consequências, que é o que consolidou Game of Thrones como uma produção com grande mérito. Foi o choque como objetivo que causou seu declínio, mas a sucessora parece determinada a seguir exatamente o mesmo caminho.

Episódio começa com Daemon e a primeira aparição de Rhea Royce. (Reprodução: HBO)

Mas, retornando ao princípio antes de chegar no ponto mais baixo da trama, o episódio teve um bom início ao colocar Daemon diante de sua esposa, Rhea Royce. A coitada só apareceu para morrer, mas o momento é muito bem colocado, e deixa clara a frieza e crueldade de que o Targaryen é capaz para atingir seus objetivos, ainda que tire um pouco da ambiguidade com a qual ele vinha sendo apresentado. Se no episódio anterior ele tentou usar a sobrinha e vacilou por culpa no último momento, aqui é óbvio que não há remorso, e talvez até uma certa alegria em causar a morte dolorosa da esposa que nunca amou.

O personagem de Matt Smith sempre se destaca, e a cena não é exceção. Sua atuação não precisa ser exagerada, e se sobressai até mesmo por combinar certa sutileza e dramaticidade. Tudo se torna ainda melhor quando, confrontado sobre ter causado a morte dela, a resposta vem cheia de cinismo e ainda mais crueldade e indiferença. Mesmo com pouco tempo de tela, é impossível não dar todo foco a ele quando Daemon está em cena. A equipe por trás da série claramente sabe disso, mas faltou esforço para justificar o retorno fácil do príncipe para a corte depois de seu grave desentendimento com o irmão. É mais uma coisa que não se dão ao trabalho de explicar, e que faz as consequências nessa história parecerem inexistentes.

Otto e Alicent tem uma das melhores cenas do episódio. (Reprodução: HBO)

Rhys Ifans como Otto, embora faça um bom trabalho, tem apenas um momento curto no episódio. A cena dele se despedindo de Alicent, vivida pela última vez na temporada por Emily Carey, é essencial para o desenvolvimento dela. Além da coerência em estabelecer que, ambiciosa ou não, ela e seus filhos apresentam um risco para Rhaenyra ser rainha, o choque de realidade que ela sofre, bem como a dor do conflito, são muito bem apresentados.

Mesmo sendo simples, o momento se destaca pelo desenvolvimento de personagem que traz e o bom diálogo entre eles. Há mais envolvido no jogo dos tronos que confiança ou mesmo ambição; e, no caso de Alicent, ela foi levada para um caminho sem volta, ainda que inicialmente não tivesse muita escolha. Agora, porém, ela é forçada a encarar sua realidade, e a decidir como enfrentá-la, não só por si mesma, mas por sua família.

Isso tudo culmina no ponto alto do episódio, quando a rainha entra no banquete de casamento de Rhaenyra atrasada, e usando um belíssimo vestido verde. Trazendo todos os olhares para si, ela demonstra não só sua lealdade ao pai e à sua casa, mas também consolida seu poder por si própria, sem a timidez e incerteza de momentos anteriores. Alicent rouba a cena, e como parte do público é um deleite vê-la nesse momento, considerando onde ela começou e tudo pelo que passou na série até agora. Seu desenvolvimento é apresentado com coerência e crescimento, o que dá o devido peso ao momento em que ela dá um show de poder suave, conquistando seu espaço dentro da política da corte sem depender de mais ninguém.

Emily Carey se despede de Alicent na primeira temporada em grande estilo. (Reprodução: HBO)

“Iluminamos o Caminho”, os dizeres da Casa Hightower, é um nome apto para um episódio onde Alicent brilha tanto. De tudo que o episódio apresenta, a formação do “partido” da rainha, os chamados Verdes nos livros, é o mais bem trabalhado. Mesmo que não pelas ações da própria Alicent, o apoio a Aegon vinha sendo apresentado repetidamente. O que acontece aqui é que ela toma as rédeas, e o faz de modo que condiz com tudo que foi apresentado até agora.

Outro personagem bem apresentado é Larys Strong (Matthew Needham), em uma cena que é também essencial para Alicent, mas cujo destaque é, sem dúvidas, dele. Embora os menos atentos possam não ter acompanhado bem a introdução do personagem na série, o filho de Lyonel Strong já está por aí há algum tempo, em situações que permitem a ele saber de muito do que ocorre na corte do rei Viserys.

Agora, ele coloca seu conhecimento em prática tecendo intriga com maestria. É por meio dele que Alicent fica sabendo do chá que Rhaenyra recebeu no episódio anterior, e mesmo assim ele o faz de modo sutil, supostamente aceitando que a princesa e a rainha são aliadas, ao mesmo tempo em que semeia a discórdia entre elas.

Sinceramente, estava sentindo saudades de um personagem assim. Há um quê de Varys na construção do personagem que não precisava ser assim, mas não é prejudicial demais, pelo menos inicialmente. Faltava alguém que estivesse em meio ao elenco para fazer essa movimentação, instigar por objetivos próprios nem tão claros assim. Sabendo do papel do personagem nos livros, espero que ele continue bem aproveitado e causando, de modo sutil, na corte de Viserys.

Corlys Velaryon, vivido por Steve Toussaint, também merece elogios, assim como a Rhaenys de Eve Best. O lorde Velaryon é orgulhoso, ambicioso e não sem defeitos, mas é difícil não gostar dele, quando ele é o único disposto a “bater de frente” com o rei patético que o reino atualmente tem. As afrontas ficam dentro do que é plausível, ainda que sejam óbvias, e as motivações de Corlys, principalmente quando ele fala da injustiça sofrida por sua esposa, só o tornam mais humano, dando mais camadas à aparente arrogância do Serpente Marinha.

A própria Rhaenys, em toda cena que aparece na série até agora, parece uma personagem até mais interessante que nomes centrais, tal como o próprio Viserys. Entre todo o elenco, ela se mostra a mais realista, seja no conselho que deu a Rhaenyra anteriormente, em como se recusa a fingir que seu filho vai se tornar algo que não é, ou mesmo em se conformar e deixar para trás que o trono não seria seu. Comedida, forte e extremamente sensata, ela pode não ser o centro de várias intrigas, mas não deixa de ser uma personagem notável, que pode protagonizar bons momentos se receber o devido espaço.

Juntos, o casal brilha ainda mais. Este é de longe o casal mais poderoso de Westeros, e dá gosto vê-los em cena. Além de se complementarem como personagens e permitirem que vejamos lados deles até então não mostrados, os atores fazem seu trabalho com maestria.

O verdadeiro casalzão de Westeros. (Reprodução: HBO)

Rhaenyra, por sua vez, não se destaca tanto no episódio, o que é uma pena, dado que este também é o último da temporada em que Milly Alcock viverá a personagem. É interessante vê-la abraçar o casamento como algo político e necessário, fazendo sua própria barganha com o noivo Laenor (Theo James) para tornar a situação mais suportável para ambos. Mesmo o momento em que ela afirma “Eu sou a Coroa” é um tanto quanto fraco, e embora o casamento seja dela, a princesa está longe de ser o principal destaque do episódio.

O jovem Velaryon também ganha mais profundidade pessoal por meio de seu romance, ainda que este seja muito mal explorado. Joffrey Lonmouth (Solly McLeod), seu amante, é apresentado apenas de forma estereotípica, sem profundidade ou carisma, e no fim servindo apenas como alvo da brutalidade de Criston Cole.

Laenor e Joffrey tinham potencial para muito mais do que a série oferece. (Reprodução: HBO)

O cavaleiro branco de Rhaenyra, vivido por Fabien Frankel, é de longe a pior parte de todo o episódio. Se outros ganham profundidade e expansão, o personagem tem um arco mal construído que sofre com o pouco tempo de desenvolvimento que teve devido aos saltos temporais. Não é dado tempo o suficiente para que o relacionamento dele com Rhaenyra tenha a profundidade que sua quebra precisava que tivesse para que o momento fosse impactante. Ao invés disso, Cole parece se entregar completamente a uma ideia romântica e tola, que sequer parece de acordo com o personagem como ele foi apresentado até o momento.

Pior ainda é que isso o leve por um caminho cada vez mais absurdo, culminando na violência gratuita vista durante o banquete celebrando o início das festividades de casamento de Rhaenyra e Laenor. Em que mundo um cavaleiro da Guarda Real espancar um convidado até a morte em meio à festa, colocando a própria herdeira do trono em risco por causa do tumulto, não resultaria em uma punição imediata? Já reclamei antes da gratuidade e falta de consequências da violência até agora, mas esse foi de longe o auge disso tudo, fazendo com que um episódio que poderia ser bom terminasse de maneira mal feita e, francamente, porcamente apresentada simplesmente pelo choque.

Ainda deixaram ele sair andando livremente, tirar sua armadura, e ir tentar tirar a própria vida tempos depois — não dá para levar a sério. (Reprodução: HBO)

A cena é confusa, as motivações não são claras, o escalamento tem um ritmo estranho, as atitudes por si só são incoerentes e a falta de consequência só torna tudo pior. Que Cole, um cavaleiro de origem humilde, saísse da cena com vida e liberdade já é absurdo por si só; que ele vá manter seu posto como cavaleiro chega a ser ridículo.

Assim como Game of Thrones fez, principalmente a partir da quinta temporada, House of the Dragon parece não entender que, mais que um momento chocante, é preciso a construção até ele e as consequências do mesmo. É isso que torna o Casamento Vermelho tão emblemático na obra de Martin, ou faz com que o casamento de Joffrey seja tão marcante. Não é só a violência, o choque, o sangue – não basta a piada de que “casamentos em Westeros são sempre sangrentos”. Não é isso que torna uma história boa, e por mais que parte do público bata palmas e saia tão anestesiado pela surpresa do fim que não reflete sobre o que aconteceu, isso não se sustenta para sempre. A lição está em Game of Thrones, mas não parece ter sido entendida.

Esta semana, fica o gosto amargo de um final péssimo que sugere que o pior pode ainda estar por vir. A Casa do Dragão vinha caminhando bem, e é uma pena que tenha se afundado tanto em seu quinto episódio – certamente o pior até agora.

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