A Casa do Dragão: Por que faz sentido Corlys Velaryon ser negro na série?

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A Casa do Dragão: Por que faz sentido Corlys Velaryon ser negro na série?

Por Junno Sena

A Casa do Dragão pode ser uma prequela de Game of Thrones, mas isso não significa que ambas as produções serão idênticas. Com um novo elenco e personagens, uma surpresa para alguns fãs dos livros de George R. R. Martin foi a “mudança” de etnia de Corlys Velaryon, também conhecido como a Serpente Marinha. Mesmo que alguns não acreditem na possibilidade de uma pessoa negra e loira, a verdade é que a etnia do personagem faz sentido.

O primeiro episódio de A Casa do Dragão chegou a HBO neste final de semana. Entre dragões, tronos de ferro e tramas familiares, um tema retornou a ser debatido pelo público: a escalação de atores negros para personagens que não foram, necessariamente, descritos como negros nos livros.

Corlys Velaryon é negro nos livros?

Steve Toussaint é uma das escalações negras de A Casa do Dragão

Nesse aspecto, quem chamou atenção foi Corlys Velaryon. Interpretado por Steve Toussaint, o personagem não é descrito como negro em nenhum dos livros onde é mencionado. Porém, também não é dito que o personagem é branco.

Corlys nunca teve uma descrição do seu tom de pele. E, por uma questão de que a maioria dos personagens de Game of Thrones são brancos — assim como boa parte da histórias de “alta fantasia” —, imaginaram que ele também seria branco.

Como uma forma de explicar a crítica a escalação do ator, alguns ainda apontaram o fato dos descendentes de Velaryon terem a pele mais clara, logo, Corlys também deveria ser assim. Deixando explicações genéticas de lado, a verdade é que não é assim tão simples. Corlys ser negro pode ser uma resposta ao fato da Casa Velaryon já ter viajado todo o mundo.

O contato com outros povos pode ter ocasionado relações diversas e, assim, causado uma miscigenação na linhagem da casa. Levando todo tipo de cor e etnia para a família Velaryon.

Mas uma pessoa preta e loira?

Crianças negras aborígines de cabelo loiro

Já outras críticas ao redor do personagem se apoiam na “verossimilhança” em existir um personagem negro que seja loiro. Para o infortúnio de alguns, negros loiros existem.

Um exemplo são os aborígines australianos e melanésios que possuem cabelos loiros naturais e, muitas vezes, quase platinados.

Foi comprovado cientificamente que possuem cabelos loiros naturais devido a um gene totalmente diferente o dos europeus. O que significa que povos distintos foram capazes de desenvolver características semelhantes através de genes diferentes.

Em entrevista para a Entertainment Weekly, os criadores de A Casa do Dragão, Ryan Condal e Miguel Sapochnik, comentaram a procura por um elenco diverso:

“O mundo está muito diferente agora do que há dez anos atrás quando Game of Thrones começou. E é diferente de vinte anos atrás quando Peter Jackson fez O Senhor dos Anéis. Esses tipos de história precisam ser mais inclusivas do que foram originalmente”, explicou Condal. “Era muito importante, para mim e Miguel que criássemos uma série que não fosse apenas várias pessoas brancas na tela, para ser franco”. 

Enquanto isso na Terra Média

Disa, personagem negra da série Anéis do Poder

A “mudança” de Corlys vem de mãos dadas com outra polêmica no mundo da fantasia. A nova série baseada em Senhor dos Anéis de J. R. R. Tolkien e produzida pela Amazon, Os Anéis do Poder, trouxe o inusitado conceito de “elfo negro”.

Sempre imaginados com uma estética branca e europeia, a possibilidade de um elfo de etnia negra fez com que alguns fãs ficassem incomodados.

Aspectos narrativos como a ligação cultural com a natureza e o posicionamento revolucionário contra uma hegemonia, que poderiam ser facilmente  atribuídos a cultura negra, foram ignorados por conta de uma simples “divergência” visual.

No vídeo O Senhor dos Anéis: Questões Raciais, o youtuber Ora Thiago destrincha um pouco mais do assunto:

Pessoas negras existem

O principal ponto que dá base para a existência de um “Corlys Velaryon negro” vai além de pontas soltas nos livros ou contextos biológicos, mas se apoia em algo que Game of Thrones ignorou ao longo de suas oito temporadas: o fato que pessoas negras existem e elas não precisam estar sempre vinculadas a tramas raciais.

Assim como explicita Ora Thiago em seu vídeo, a ideia dessa Idade Média fantasiosa é a definição de uma fantasia hegemônica branca. O filme de Peter Jackson evidencia isso em cada frame, onde o mundo élfico é branco e iluminado. Já os Orcs, são negros e vivem na escuridão.

Imagem da série A Casa do Dragão

Esses aspectos podem parecer pequenos, mas espelham o contexto que Tolkien viveu. Assim como foi responsável por dar base a escrita de Martin com Crônicas de Fogo e Gelo.

No fim, contextos são feitos e desfeitos. Estamos em uma época onde há a possibilidade de deixar de lado essa “hegemonia branca”, afinal, se é possível imaginar elfos e dragões, não é difícil aceitar a possibilidade que pessoas negras existam nessas história.

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