Review: A Casa do Dragão 1×01 – Os Herdeiros do Dragão

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Review: A Casa do Dragão 1×01 – Os Herdeiros do Dragão

Por Melissa de Viveiros

Game of Thrones foi um grande fenômeno da televisão. Esta frase, apesar de simples, dificilmente é ponto de debate: conquistando uma audiência mundial gigantesca, batendo recordes e vencendo prêmios, a série era ponto de debate entre fãs dos mais variados tipos, todos esperando ansiosamente o próximo domingo, ou a próxima temporada.

Se comparar a isso não é tarefa fácil – mas é exatamente ao se apoiar demais nesse legado que House of the Dragon erra. Em seu primeiro capítulo, a série mostra ter tudo para ser mais que digna de carregar a reputação de sua antecessora. Mas, se GoT terminou deixando um gosto amargo para muitos fãs, o retorno desse universo à TV mostra que seu impacto ainda assim não deve ser subestimado — e que, talvez, a nova série venha a ser tudo que os fãs esperavam após as primeiras temporadas da primeira.

A série focada nos Targaryen acerta ao enfatizar fatores semelhantes aos que construíram o sucesso da produção original: uma intriga política complexa diante da disputa pelo trono. É claro que figurinos, efeitos e tudo mais mantém a qualidade esperada da HBO, mas é a trama e os personagens complexos que cativam e deixam o gostinho de querer saber o que mais vem aí.

O início serve como uma grande contextualização para o que vai acontecer, mas não perde tempo com exposição demais. Apesar de abrir com um resumo de acontecimentos passados, dali em diante somos colocados diante de personagens vivendo suas vidas, e começamos a conhecê-los em meio a isso, da princesa Rhaenyra, mais interessada em voar em seu dragão do que servir como uma dama da corte, à Alicent Hightower, uma jovem que precisa se conformar com sua posição e as ambições do pai, ou Daemon Targaryen e seu lado violento, bem como sua ambição.

Matt Smith e Milly Alcock se destacam como Daemon e Rhaenyra Targaryen. (Reprodução: HBO)

Mais do que contar sobre esses e outros personagens, vemos isso acontecer em tela, fato importante para a construção deles. E a trama em si também não perde tempo em dizer a que veio, estabelecendo a tensão existente ao redor do Trono de Ferro, causada pela linha de sucessão do Rei Viserys. A série não segura o espectador pela mão, não subestima sua inteligência e capacidade de acompanhar os eventos da trama, e isso é um de seus maiores acertos no primeiro episódio.

Talvez seja injusto sequer esperar algo inovador de uma produção derivada, e isso definitivamente não é encontrado aqui. House of the Dragon é um spin-off de Game of Thrones, e mantém a identidade visual de sua antecessora, além de ter o mesmo tom. A sensação é, de fato, de que estamos revisitando Westeros – em um outro ponto no tempo, mas ainda assim um lugar familiar, dadas as semelhanças entre as duas.

Isso não é um problema. De fato, o maior problema entre essa conexão é a falta de confiança que a emissora por vezes parece ter no projeto, enfatizando essa relação desnecessariamente. Era mesmo importante destacar o nome de Daenerys Targaryen na introdução? Ou insistir em mencionar o “grande conflito pelo mundo” que precisará de um Targaryen para unir os povos? Será que essa profecia sequer será relevante no restante da série?

Visuais remetem a Game of Thrones, mas o grande problema é quando a narrativa também o faz de modo exagerado. (Reprodução: HBO)

Se apoiar em tom e estética semelhante, ou mesmo um ponto geral que tem certa similaridade com o início de Game of Thrones – a disputa pelo Trono de Ferro – parece mais que suficiente para que as duas produções da HBO estejam ligadas sem uma dependência exagerada. House of the Dragon precisa ter coragem de crescer e voar para longe das asas de sua antecessora, ou arrisca se tornar lembrada apenas por tentar se apegar à fama do que veio antes.

Todas as peças para o sucesso da nova obra estão ali. A série acerta ao colocar Rhaenyra e Alicent tão próximas, em estabelecer a relação dos irmãos Viserys e Daemon, em mostrar a ambição de Otto Hightower ou mesmo deixar explícito o ressentimento de Corlys Velaryon por sua esposa, Rhaenys Targaryen, ter sido deixada de lado na linha de sucessão. Tudo pode parecer pequeno agora, mas cada um desses personagens tem o potencial de se tornar tão memorável quanto Cersei, Tywin, Ned Stark, Sansa, e tantos outros na produção original. 

Como adaptação a série já demonstra tomar certas liberdades em relação à Fogo e Sangue, livro de George R. R. Martin no qual se baseia. A aproximação de Alicent e Rhaenyra é um exemplo disso, mas um que demonstra como mudanças nem sempre são negativas, desde que construídas de modo que faça sentido e seja interessante. Até o momento, os fãs mais ferrenhos tem pouco do que reclamar, com a breve menção à profecia da “Canção de Gelo e Fogo” sendo uma das adições mais polêmicas.

Proximidade entre Alicent (Emily Carey) e Rhaenyra (Milly Alcock) é uma das melhores adições originais da série no primeiro episódio. (Reprodução: HBO)

Apesar disso, a série tem espaço o bastante para trabalhar seus personagens livremente, ao mesmo tempo em que possui um “guia” com fim já estabelecido no qual se basear. Isso pode provar muito benéfico, trazendo novidades como o primeiro episódio já fez, mas sem descaracterizar a criação de Martin.

Esse é um início que promete muito, e deixa o gostinho de quero mais, tal como o anúncio de Rhaenyra como herdeira da coroa. Com uma premissa interessante, personagens que se mostram carismáticos e complexos, visuais e figurinos bonitos e, é claro, dragões, violência e nudez que se tornaram característicos de Game of Thrones, House of the Dragon se mostra uma herdeira digna – e com potencial, inclusive, de ultrapassar sua antecessora.

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