Crítica: Demon Slayer – Para a Vila do Espadachim prova que a animação da franquia está a nível de cinema

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Crítica: Demon Slayer – Para a Vila do Espadachim prova que a animação da franquia está a nível de cinema

Por Gabriel Mattos

Atenção: Alerta de Spoilers!

A terceira temporada de Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba estreia em 9 de abril, adaptando o Arco da Vila dos Ferreiros. Depois de um longo hiato, jornada de Tanjiro e Nezuko Kamado continua em um novo cenário, com novos inimigos e aliados. E para começar esta nova fase com o pé direito, a Konnichiwa! resolver antecipar a exibição da primeira hora da temporada da melhor maneira possível — nas telas do cinema sob o título Demon Slayer – Para a Vila do Espadachim. Confira o que achamos desse projeto!

Ficha técnica

Título: Demon Slayer – Para a Vila do Espadachim

 

Direção: Haruo Sotozaki

 

Roteiro: Koyoharu Gotouge

 

Data de lançamento: 30 de março de 2023

 

País de origem: Japão

 

Duração: 1h 50min

 

Sinopse: Tanjiro precisa dar um fim definitivo as Luas Superiores 6, mas esta ação desencadeará a fúria de Muzan Kibutsuji. Depois que a poeira baixa, o Caçador de Onis segue com sua irmã para a Vila dos Ferreiros em busca de uma nova espada.

Pôster nacional de Kimetsu no Yaiba: Demon Slayer – Para a Vila do Espadachim

Para a Vila do Espadachim é um bom filme?

Em Para a Vila do Espadachim, os produtores combinaram o primeiro episódio, de uma hora, do arco ainda inédito do anime com os dois episódios finais do Arco do Distrito do Entretenimento“Jamais vou desistir”, que traz o desfecho da luta contra as Luas Superiores, e “Não importa quantas vezes eu reviva“, que mostra a triste história de origem dos irmãos onis.

E a entrega é exatamente como maratonar os episódios por conta própria, sem nenhum esforço de montagem para tentar construir uma história contínua, que simule de fato um filme. Causa uma certa estranheza este desprendimento de uma estrutura narrativa mais tradicional, sem uma introdução formal ou qualquer construção de tensão. Para o público casual ou quem procura uma experiência cinematográfica plena, o especial não tem um grande apelo. Afinal, Para a Vila do Espadachim não funciona como um filme.

Como é rever a segunda temporada de Demon Slayer?

Gyutaru continua sendo desconfortável, mas suas batalhas são um espetáculo visual (C. Crunchyroll)

Algo equivalente poderia ter sido alcançado com uma seleção mais criteriosa dos momentos de destaque da segunda temporada, amarrando cenas da apresentação do Distrito com pontos de impacto da luta contra os demônios, porém esta jamais foi a intenção. Tudo que o longa se propõe é disponibilizar um palco à altura da primorosa animação do estúdio Ufotable, em que todo o glamour das batalhas consiga despertar o seu verdadeiro potencial — e nisso, o especial tem pleno êxito.

Quem assistiu a segunda temporada sabe como o ponto alto da história foi o combate dos jovens Tanjiro, Inosuke e Zenitsu ao lado do hashira Tengen contra os irmãos demônios Daki e Gyutaru. Mais que o próprio roteiro, o que chamou atenção foi a qualidade incomparável da animação, que levou muitos a suspeitarem de um orçamento a nível cinema. E na telona, os embates ganham proporções verdadeiramente épicas.

Batalha final impressiona ainda mais nos cinemas (C. Crunchyroll)

O combate, dinâmico e colorido, ganha uma nova vida no cinema. Cada golpe de espada para rebater o Kekkijutsu de Gyutaru brilha com força. E os relâmpagos de Zenitsu e Tenzei também enchem os olhos neste novo formato. Poder apreciar mais uma vez esta luta tão marcante do anime é um grande presente, que poderia ter ficado ainda melhor com a inclusão do episódio anterior, “Quando Eu Derrotar os Onis Superiores”.

Um episódio mais intenso teria funcionado melhor com essa proposta, de trazer um espetáculo explosivo para os fãs de Demon Slayer, do que reprisar a melancólica conclusão da segunda temporada. A trágica infância de Daki e Gyutaru não deixa de ser comovente, mas perde um pouco o impacto quando já sabemos a história. E acaba por prejudicar o ritmo da experiência geral, servindo como apenas um obstáculo de meia hora que parece demorar milênios antes da chegada do episódio inédito.

A pré-estreia da terceira temporada empolga?

Calmaria do novo episódio funciona como um respiro após uma overdose de ação (C. Konnichiwa)

Mas quando o prelúdio da terceira temporada finalmente começa, não decepciona nem por um segundo. O novo episódio, como não deveria deixar de ser, é uma introdução ao Arco da Vila dos Ferreiros, apresentando todas as peças que serão cruciais nesta nova fase. Contudo, mesmo sem lutas ou qualquer resquício de ação, a trama consegue seduzir quase que instantaneamente, sem perder a atenção do público nem por um segundo.

O segredo são os personagens, esbanjando um carisma de sobra. Ao longo de quase uma hora, o roteiro introduz os principais vilões e aliados que serão importantes ao longo de toda a temporada, despertando o interesse de conhecer mais sobre cada um deles. Funciona como uma semente que começa a germinar neste primeiro episódio, mas só dará frutos conforme a história progredir no anime.

Incorporar o conclave dos Lua Superiores neste momento inicial, em que o público acabou de ver na prática o quão perigosos são, foi uma jogada de mestre. A atmosfera de perigo é palpável, mesmo que não tenha nenhuma ameaça clara em tela. Fica claro que todos presentes são psicopatas cruéis, capazes de cometer atrocidades, e há uma sensação de que as coisas podem dar errado a qualquer momento, criando uma gostosa tensão ao longo da cena.

Doma, Lua Superior 2, tem uma presença magnética (C. Konnichiwa)

Dentre os vilões apresentados, o destaque fica para Doma e Kokushibo com suas personalidades opostas. Dublado por Guilherme Briggs, o mais poderoso dos onis instiga a curiosidade com seu jeito reservado e intimidador e uma aparente conexão com o clã Kamado. Doma, por outro lado, encanta com sua personalidade imprevisível. Roubam completamente a atenção em meio aos demais Lua Superiores, até mesmo de Hatengu e Gyokko — que vão retornar como os principais antagonistas deste arco e não empolgam tanto em um primeiro momento.

Do lado dos aliados, que surgem em um momento de calmaria na jornada de Tanjiro, quem chama mais atenção é a Hashira do Amor. Mesmo incorporando clichês desgastados de animes e uma sexualização barata que não combina com a franquia, Mitsuri conquista com a sua pureza. Ter alguém intenso sempre funciona bem com a personalidade passiva de Tanjiro e a própria fetichização que a personagem poderia instigar acaba dando margem para o herói trabalhar seu lado mais protetor.

Ainda não ficou claro aonde a história pretende chegar, mas o objetivo inicial de Tanjiro na Vila dos Ferreiros cria uma excelente oportunidade para expandir a mitologia dos Caçadores de Onis. O enredo deixa algumas curiosas migalhas que podem levar a descobertas interessantes sobre a organização, culminando em um momento bastante misterioso com o Hashira da Névoa, Muichiro Tokito.

Mitsuri funciona como aliada de Tanjiro (C. Konnichiwa)

O final deixa um gancho empolgante para o que está por vir e ser como o clímax perfeito para quem está animado para o retorno do anime, que acontece no próximo domingo, dia 9 de abril.

A saída temporária de Inosuke e Zenitsu renova a franquia, permitindo observar como funciona a dinâmica de Tanjiro com uma nova configuração de protagonistas. E os novos elementos expandem o universo da série, indicando um caminho animador para o futuro da história. Levando em conta tudo apresentado pela prévia, a nova temporada promete entregar um nível de qualidade tão elevado quanto o Arco do Distrito do Entretenimento. Os fãs de Demon Slayer têm muitos motivos para comemorar.

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