A vitória histórica de Parasita

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A vitória histórica de Parasita

Por Gus Fiaux

No último domingo (09), o mundo celebrou a nonagésima segunda edição do Academy Awards – a cerimônia que premia os melhores filmes do ano, mais conhecida como o Oscar. E podemos dizer, sem a menor sombra de dúvidas, que foi uma das edições mais surpreendentes dos últimos anos.

Nas categorias, os filmes “favoritos” acabaram perdendo destaque, com exceção dos prêmios de atuação e algumas categorias técnicas. Porém, a grande surpresa do ano veio de fora. Parasita, o filme sul-coreano dirigido por Bong Joon-Ho, acabou saindo com o prêmio de Melhor Filme, em uma reviravolta histórica.

É a primeira vez que o Oscar premia, em sua categoria principal, um filme totalmente falado em língua estrangeira, fruto das mudanças pelas quais a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas – a organização responsável pelo prêmio – tem passado pelos últimos anos.

Mas afinal, o que é Parasita e qual é sua importância?

Lançado em 2019, Parasita (título original: Gisaengchung) é o sétimo longa-metragem dirigido por Bong Joon-Ho. O cineasta sul-coreano conquistou grande reconhecimento nos Estados Unidos, tendo dirigido filmes como O Expresso do Amanhã Okja. 

O filme segue a história de uma família pobre da Coréia que vê a oportunidade de trabalhar em uma casa rica, conforme tecem planos de “substituir” todos os empregados que lá residem. A narrativa começa leve, com traços de comédia e humor que logo são substituídos por um poderoso suspense com crítica social.

E embora o filme esteja finalmente conquistando o público norte-americano, graças à sua vitória no Oscar, seu reconhecimento já data de muitos meses, uma vez que o longa recebeu a Palma de Ouro no prestigiado Festival Internacional de Cannes, considerado o maior festival de filmes do mundo.

Lá, o longa conquistou a admiração do público e foi ganhando espaço sobretudo nos Estados Unidos, principalmente graças à jogada de marketing genial da distribuidora do filme, a NEON – para ter uma ideia, o elenco e a equipe de produção se mudaram para Los Angeles para que pudessem participar das coletivas de imprensa e eventos de divulgação do longa.

No Oscar, o filme se saiu como o grande vitorioso da noite, conquistando quatro estatuetas dentro das seis categorias nas quais era indicado – todos prêmios de grande porte. As vitórias foram: Melhor Roteiro Original, Melhor Direção, Melhor Filme Internacional e Melhor Filme.

Por que a vitória de Parasita é tão importante?

Com sua vitória no Academy Awards, Parasita quebrou muitas barreiras para o cinema mundial na maior premiação dedicada à sétima arte. O filme se tornou o primeiro longa-metragem de língua não-inglesa e produzido em um país “estrangeiro” a conquistar a cerimônia que, até então, só premiava filmes norte-americanos ou produzidos em países de língua inglesa.

Pode parecer algo pequeno, mas não é. O Oscar sempre se vendeu como uma celebração do cinema mundial, mas o que vimos ao longo de mais de noventa anos foi uma premiação voltada apenas para a produção de Hollywood e, quando muito, do Reino Unido.

A vitória de Parasita abre novas portas porque, com ela, já temos o precedente para que, no futuro, outros filmes “internacionais” se saiam vitoriosos. Quem sabe, daqui a alguns anos, até mesmo o Brasil pode disputar a vaga de Melhor Filme. 

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Como essa vitória foi possível?

Inúmeros fatores são responsáveis pela virada histórica provocada por Parasita no último domingo. O filme já tinha um grande lobby devido às estratégias de distribuição da Neon, mas outras mudanças internas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas colaboraram para isso.

A principal delas foi a decisão feita, há alguns anos, de convidar cineastas e artistas de várias nacionalidades para preencher vagas votantes da organização. Como já explicamos aqui, a Academia é responsável por decidir quais filmes entram na premiação e quais recebem as estatuetas douradas.

Essa decisão foi tomada após as críticas sofridas por edições anteriores da cerimônia, que apostaram no seguro e resolveram dar prêmios para a mesma “panelinha” de sempre, mesmo com opções melhores entre os indicados. Além disso, boa parte dessa mudança se deu graças às críticas em relação à falta de diversidade e representação entre os votantes e os indicados.

Claro que a indústria se move a passos pequenos. Um bom exemplo disso é que, apesar de Parasita ter sido o pioneiro a levar Melhor Filme, o ano passado quase nos trouxe essa reviravolta com Roma, de Alfonso Cuáron. O filme era um dos favoritos, tendo recebido inúmeros prêmios de sindicatos, mas acabou não levando o prêmio principal do Oscar, em uma das derrotas mais injustas dos últimos anos.

Agora, Parasita veio para mostrar como a Academia está aberta para um cinema que não é apenas norte-americano. Em outras palavras, a vitória do filme representa a vitória do cinema, independente de nacionalidade, idioma ou realizadores. É um feito histórico que marca muito bem o começo desta nova década.

Com isso, nos resta esperar para ver como serão as próximas edições, e se elas vão aprender também com as críticas da 92ª edição – que não foram poucas. Mas que a vitória de Parasita fez história, não temos como negar. E que o mundo se abra para mais filmes!

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Na galeria abaixo, fique com algumas imagens de Parasita:

Ainda não há informações sobre quando Parasita vai chegar em DVD Blu-Ray ao Brasil, ou quando será lançado em uma plataforma de streaming.