Cavaleiro da Lua 1×03: O Tipo Amigável

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Cavaleiro da Lua 1×03: O Tipo Amigável

Por Gus Fiaux

Cavaleiro da Lua é medíocre. Antes de me apresentar, achei que seria importante deixar claro a minha opinião sobre a série até o momento. Como produção da Marvel Studios, ela cumpre todos os requisitos do que já se espera: é bobinha, engraçada, cheia de piadinhas e easter-eggs. Como adaptação das HQs do personagem, é uma patacoada.

Você deve ter sentido falta das reviews de séries aqui do site. Depois de uma crítica dos dois primeiros episódios, que foi escrita pelo meu amigo Evandro Lira, assumirei o restante da temporada. E se você espera ler elogios e rasgação de seda para o mais novo capítulo do Universo Cinematográfico da Marvel, talvez passe raiva aqui.

A questão é: eu sempre fui muito fã do Cavaleiro da Lua. De verdade. Sim, eu li boa parte das HQs do herói. Mas a série, até agora pelo menos, se mostra incapaz de deixar de lado tiques e manias que já se espera de qualquer obra do MCU, mesmo quando isso compromete ativamente a atmosfera e o lado mais sombrio do personagem.

Layla El-Faouly e Marc Spector compartilham um momento íntimo no Egito.

Pode parecer ressentimento e papo de nerdola que sempre chega dizendo: “ai, mas no gibi não é assim!”, mas todo o ponto é que, ao longo dos dois primeiros episódios, Cavaleiro da Lua não só é uma adaptação que tem medo das raízes do próprio personagem, como também não parece saber dizer a que veio. Desde Thor (2011) não temos uma apresentação tão genérica para um novo personagem nesse vasto universo de histórias.

E o que mais me incomodou, para dizer a verdade, foi tudo que envolve Steven Grant – que toma um papel central nos primeiros capítulos. Se nas HQs ele é só mais um playboy milionário que financia todas as aventuras de seu alter ego mascarado, na série ele parece apenas um palhaço, exibindo caretas e diálogos que deviam ser engraçados mas beiram a vergonha alheia – o cringe, na linguagem dos mais jovens.

Felizmente, o terceiro capítulo veio para mudar um pouco o foco e dar o protagonismo para Marc Spector, a faceta “original” desse personagem. Agora, ele está no Egito, em busca do túmulo de Ammit, e procura chegar lá antes que Arthur Harrow e seus asseclas consigam descobrir e ressuscitar a Deusa-Fera. Mas o que poderia ser um respiro de ar puro para a série se perde em mais uma série de decisões questionáveis.

As participações do Sr. da Lua continuam sendo o ponto baixo da temporada.

Não há como negar: “O Tipo Amigável”, como se chama o episódio, é o melhor da temporada até agora. Mas isso não quer dizer muita coisa quando, em três episódios, não temos uma noção clara de quem é Marc Spector e o que o motiva além de ser Avatar de Khonshu. É a primeira série da Marvel no Disney+ a apresentar um personagem que ainda não havia aparecido no MCU, mas faz isso como se já o conhecêssemos de anos.

Até momentos bonitos e que poderiam ser interessantes, como todo o diálogo que ele tem com Layla El-Faouly em um barco, soa vazio e genérico, porque a série está mais preocupada em anunciar o grande vem aí para os próximos capítulos, em vez de realmente desenvolver a relação desses personagens e o que torna seu passado tão complexo. Não dá para jogar uma personagem ali do nada pedindo o divórcio e cobrar nosso investimento emocional.

Para piorar, ainda temos a participação do Sr. da Lua. Nos quadrinhos, é uma das identidades mais divertidas e únicas do Cavaleiro. Com seu terno e gravata, ele é mais violento, sombrio e gosta que seus inimigos o vejam de longe, para que sintam o medo em seus corações. Todas as aparições desse personagem na série – que não passa da identidade “heroica” de Steven Grant – são irritantes e apertam os freios da trama.

Para não dizer que tudo foi ruim, essa cena aqui é espetacular!

Claro, há acertos. Dessa vez, a direção de Mohamed Diab funciona um pouco melhor que a montagem frenética e amadora da dupla Justin Benson Aaron Moorhead (que dirigiram os dois primeiros episódios). Ele traz um certo dinamismo para a narrativa e consegue extrair emoções mais verossímeis de Oscar Isaac – e ajuda muito que Steven Grant seja um personagem em segundo plano aqui, o que dá mais espaço para o lado dramático de Spector.

Há coisas bem legais, como a cena em que Khonshu e o Sr. da Lua “movem” o céu e resgatam as constelações como eram há dois milênios, ou então toda a assembleia dos avatares de deuses egípcios, que consegue inserir questões e ideias que podem ser trabalhadas melhor no futuro. Por fim, ainda temos indícios fortes de que Jake Lockley está por aí, e deve ser a personalidade mais macabra e violenta do Cavaleiro da Lua.

Dito isso, o terceiro episódio ainda repete vários dos erros dos dois primeiros. Qualquer momento de sentimento e emoção genuína logo é cortado por uma piadinha sem graça, ao mesmo tempo em que a série mostra sua completa aversão por violência, cortando qualquer cena de luta com um “apagão” de alguma das personalidades do herói. O cliffhanger final – Khonshu é aprisionado em uma estátua e Marc agora está sozinho – até poderia ser interessante, mas ainda não tivemos qualquer ligação emocional com o personagem para nos importarmos com isso.

Enfim, Cavaleiro da Lua é uma decepção pessoal, até agora. A série não parece se importar nem um pouco com o legado e o material-base do personagem que está adaptando. Na verdade, é quase como se a Marvel Studios e a Disney estivessem ativamente tentando apagar tudo que torna esse personagem tão único – ou seja, os elementos de horror e a seriedade de suas histórias. Tem quem goste dessa abordagem higienizada, mas não é o meu caso.

Cavaleiro da Lua é lançada semanalmente no Disney+, às quartas-feiras.

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