6 Motivos do porquê Velma sempre foi LGBTQIA+ e só você não percebeu

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6 Motivos do porquê Velma sempre foi LGBTQIA+ e só você não percebeu

Por Junno Sena

“OH MEU DEUS! A VELMA SER LÉSBICA É FINALMENTE CANÔNICO NOS FILMES”, disse um usuário do Twitter após o lançamento do novo filme Trick or Treat, Scooby-Doo! (Doces ou Travessuras, Scooby-Doo! em tradução literal). No longa, conhecemos Coco Diablo, uma estilista que faz o coração de Velma bater mais rápido.

A cena ganhou a internet, com direito ao Google celebrando a “saída do armário” de Velma com uma página interativa. A revelação era mais do que esperada para alguns, mas, parte do público ficou confuso com a “mudança”, apontando a sexualidade da personagem como uma tentativa para “politizar” Scooby-Doo!

Porém, na história de Velma, o que não faltou na história foram motivos para a comunidade LGBTQIA+ abraçar esse ícone queer. Separamos aqui todos os motivos do porquê Velma sempre foi LGBT+ e só você não percebeu. Confira!

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Foi inspirada em Sheila Kuehl, uma “tomboy”

William Hanna e Joseph Barbera, criadores de Scooby-Doo!, desenharam Velma inspirados em uma atriz mirim da época, Sheila Kuehl.

A garota dava vida a uma “tomboy” — termo que descrevia garotas que gostavam de atividade associadas ao gênero masculino —, na série sitcom dos anos 50, The Stu Erwin Show. Anos depois, Kuehl deixou a carreira de atriz para se tornar a primeira legisladora do estado da Califórnia abertamente gay. Então Velma, desde sua inspiração, sempre foi lésbica.

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Velma é o tipo de personagem “codificada como queer”

Queer coding ou codificação queer é um termo bonito para descrever personagens que são lidos como LGBTQIA+ pelo público, mas não são explicitamente confirmados no cânone. Alguns exemplos clássicos estão em Scar, de Rei Leão, que atribui ao vilão uma sexualidade queer — termo guarda-chuva para pessoas que não se identificam no espectro binário de gênero — devido a sua postura e modo de falar, assim como Úrsula, Jafar, Ele, de Meninas Superpoderosas e outros vilões.

A prática de “codificar personagens queer” teve início em 1930 no cinema. Na época, o Código Hays estabelecia um padrão para o que era permitido ou não ser mostrado na tela. A censura desse código incluía relações homossexuais, o que fez com que diretores e roteiristas tomassem alternativas para tratar do que desejavam, mas de forma não explícita.

Além de vilões, outros personagens acabaram caindo na rede de personagens “queer codeds”. Entre eles, estava Velma Dinkley. A investigadora se destacou por ser a “inteligente” do grupo. Com ideais progressistas, falas feministas e sem envolvimentos românticos aparentes, não demorou para ser ligada à comunidade LGBTQIA+.

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Esquema de cores

Por Velma ter se tornado uma figura queer de sucesso, alguns fãs começaram a especular se haviam outros indícios da sexualidade da personagem. Uma teoria que pode fazer alguns virarem os olhos é o fato das roupas de Velma e Daphne possuírem uma paleta de cores similar a da bandeira do orgulho lésbico. Verdade ou não, o laranja de Velma e o rosa de Daphne sempre combinaram.

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James Gunn tentou fazê-la lésbica em Sooby-Doo (2001)

Em 2020, o diretor de Guardiões da Galáxia, James Gunn, revelou em um tweet que ele tentou fazer uma “Velma lésbica” na adaptação para o cinema de Sooby-Doo. “Mas o estúdio rejeitou a ideia em todas as versões, até que a sexualidade da personagem se tornou ambígua e, na sequência, ganhou um namorado”, explicou.

As mudanças feitas pelo estúdio, que apagaram a sexualidade da personagem, incluiu o corte de uma cena onde ela e Daphne se beijavam. “Não foi apenas para se divertir… Inicialmente na cena de troca de almas, Velma e Daphne não conseguiam reunir suas almas de volta na floresta, e então a maneira que encontraram foi se beijando e as almas voltaram ao alinhamento adequado. Linda Cardellini é uma beijoqueira e tanto.”

Outra cena deletada foi a de Velma cantando “Can’t Take My Eyes of You” para Daphne. O curioso desse exemplo é que a versão final no filme mostra a investigadora bêbada olhando tanto para Daphne quanto para Fred. A cena se tornou um dos pilares para afirmar que a personagem é LGBTQIA+.

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A Velma de Scooby-Doo! Mistério S/A era lésbica no original

A animação de 2010 de Scooby-Doo!, que trazia um visual atualizado e uma trama sombria, iria seguir a ideia de uma Velma lésbica. De acordo com o produtor Tony Cervone, o time criativo nunca teve a oportunidade de deixar explícita a sexualidade da personagem.

Em contrapartida, Marcie ganhou o coração do público no lugar ao invés do de Velma. As duas tiveram um relacionamento próximo na animação, fazendo com que passassem a “shippar” as duas. Em um post do Instagram, Cervone disse: “Velma e Marcie são um casal. Você pode não concordar, mas essa foi a minha intenção”.

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Já foi interpretada por Hayley Kiyoko

Os filmes de 2009 de Scooby-Doo não são os favoritos dos fãs. Pelo contrário: os efeitos do cachorro, as atuações e o enredo deixam a desejar. Porém, no meio de várias falhas, havia Hayley Kiyoko.

A atriz e cantora teve um auge no meio dos filmes e séries infantis após dar as caras em Os Feiticeiros de Waverly Place e Lemonade Mouth. No meio desta carreira, Hayley deu vida a uma Velma mais nova.

Uma curiosidade da vida da artista é que, ela demorou anos para conseguir se aceitar como uma mulher lésbica. Entre diversos papéis que a colocavam como uma personagem hétero, Hayley abriu sua sexualidade para o público em 2015.

A trajetória de Hayley e Velma não é muito diferente. Hoje em dia, é uma das artistas lésbicas mais proeminentes da indústria fonográfica, sendo conhecida como a “Jesus lésbica”. Entre alguns destaques estão as músicas Girls Like Girls, Feelings, Expectations e Gravel to Tempo.

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Bônus: A famosa olhada de Velma para Daphne

Desenhos antigos são uma fonte inestimável de memes. Entre expressões curiosas e cenas sem sentido para a atualidade, existem momentos da série original de Scooby-Doo que foram, constantemente, reproduzidos como a confirmação de que Velma sempre foi LGBTQIA+.

Em uma delas, Daphne e Velma estão deitadas em uma cama e a investigadora olha de rabo de olho para a amiga. Outra cena da animação original que chamou a atenção é como, após acharem que capturaram um fantasma, Fred e Velma começam a ouvir gemidos. Velma diz: “Parece a Daphne!”, reconhecendo rápido demais o chamado da amiga.

Mesmo com essas cenas se apoiando em segundas intenções e metáforas, Velma se tornou um modelo para pessoas LGBTQIA+ se identificarem em Scooby-Doo. Em outras palavras, a cabeça da Mistérios S/A ganhou a comunidade antes mesmo de sair do armário. É sobre isso e está tudo bem.