[Indie+ #6] Equilibrando a fofura de Tunic com os sustos de Nun Massacre

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[Indie+ #6] Equilibrando a fofura de Tunic com os sustos de Nun Massacre

Por Arthur Eloi

Março chegou ao fim, mas nossa jornada por Elden Ring, Horizon: Forbidden West e muitos outros blockbusters ainda não. Nesse tempo, claro, os jogos indie não pararam de sair, e a Indie+ retorna para destacar dois títulos que podem até ter passado batido por você, mas que merecem sua atenção!

Tunic: Zeldinha honesto com uma raposa fofa

Tunic surpreende pelo seu visual de encher os olhos, e pelo seu mundo vasto que pede para ser explorado. Entre cavernas subterrâneas, criptas escuras e florestas esverdeadas, tudo se torna ainda mais impressionante ao descobrir que o game foi, em grande parte, desenvolvido por uma única pessoa.

A parte legal de acompanhar jogos independentes é que, assim como as obras, os estúdios surgem de toda forma, tamanho e parte do mundo. Com ferramentas como Godot e Unity amplamente acessíveis, se tornou comum encontrar desenvolvedores solo, que no máximo utilizam a força de colaboradores para lapidar seus trabalhos. Tunic se encaixa nisso, e o seu tempo considerável de desenvolvimento demonstra isso.

O game foi anunciado lá em 2015, quando o canadense Andrew Shouldice deixou seu emprego para criar um projeto chamado Secret Legend, inspirado nos clássicos de The Legend of Zelda que brilharam no Nintendinho. Mesmo após conseguir apoio da distribuidora Finji (Night in the Woods, Overland), Shouldice ainda precisou de sete bons anos trabalhando no projeto. Apesar de ter sido rebatizado no meio do caminho, a essência continua a mesma: um jogo de combate e exploração clássico, com visão isométrica e protagonizado por uma raposa fofa.

Os ambientes de Tunic são de encher os olhos

Tunic conquista pelo seu mundo vibrante. Assim como o jogador, o protagonista está perdido em uma terra desconhecida, repleta de construções anciãs e segredos que desafiam a lógica. A escrita é irreconhecível, em um idioma inventado para o game, portanto é preciso deixar a própria curiosidade aflorar e cutucar cada parte do mapa em busca de cumprir uma listinha de objetivos, como ativar sinos em lados opostos do mundo ou derrotar poderosos chefões que se colocam no seu caminho.

A trama do jogo não é lá essas coisas, e se perde facilmente no próprio mistério, mas a experiência ainda é excelente pela forma que instiga a exploração de maneira orgânica. Cada área do mapa é interconectada por atalhos que fogem do óbvio, normalmente camuflados no cenário, o que pede por atenção redobrada e que te encoraja a vagar por novos rumos. Já os colecionáveis encontrados pelo mundo formam um belíssimo manual de jogo, com mapas e explicações para os sistemas acompanhados de impressionantes ilustrações.

Completar o manual de jogo não só ajuda a tomar rumo em Tunic, como também compensar pelas belíssimas ilustrações

Não é só o manual que impressiona pela beleza, mas sim toda a estética do jogo, que conquista nas cores quentes, na iluminação e no carismático traço do protagonista e dos inimigos. Mas não deixe o visual fofinho te enganar: Tunic é um game frequentemente impiedoso. Os inimigos batem forte, sua vida e energia se drenam rápido, e é preciso dominar tanto o espaço entre você e os oponentes quanto saber as horas certas para esquivar, defender com o escudo ou atacar com a espada.

Sua dificuldade é parte intencional, pelo posicionamento de monstros e seus padrões de ataque, e parte acidental. Os controles são um pouco truncados e imprecisos, e acaba sendo fácil acertar ataques no ar ou então levar dano mesmo durante uma esquiva. Assim como tudo no restante do game, o combate é um exercício de tentativa-e-erro – o que não é tão satisfatório quando outros indies modernos, como o excelente Death’s Door, cuja jogabilidade é afinadíssima. É possível relevar, visto que é o trabalho de um único homem, mas se prepare para uma pequena dose de frustração nas lutas, seja contra inimigos comuns ou chefes gigantescos.

De certa forma, Tunic é uma experiência retrô além da nostalgia barata, que é inteiramente moldada pela sensação de tentar desvendar e crescer em um jogo mesmo sem entender o idioma dos textos ou saber exatamente o que fazer. É um game que pede para ser destrinchado, e que recompensa seu esforço com bons segredos e um visual bastante agradável.

NOTA: 8,5/10

 

Tunic está disponível para Xbox One, Xbox Series X | S e PC. O jogo foi lançado direto no catálogo do Xbox Game Pass, e essa review utilizou a versão de Xbox One encontrada no serviço.

Nun Massacre: Desgraceira trash para ter pesadelos com uma freira assassina

Seguindo na contramão da fofura de Tunic, a Indie+ também traz uma dose de desgraceira lo-fi. Puppet Combo já se tornou uma presença recorrente aqui na nossa coluna, e com razão: ele costuma nos fazer gritar de medo com jogos curtos, com gráficos retrô e infestados de jumpscares intensos. Como o desenvolvedor costuma lançar seus títulos apenas no PC, sempre vale uma menção nos raros casos em que algum deles chega ao console.

Meses depois do excelente Murder House, é a vez de Nun Massacre – provavelmente o game mais famoso do desenvolvedor – chegar ao Nintendo Switch, PlayStation 4 e PlayStation 5. Aqui, o jogador se encontra preso em um internato sombrio no meio de uma tempestade, após receber uma carta misteriosa falando sobre a filha da protagonista. Trancado do lado de dentro, é preciso vagar pelos corredores em busca de uma escapatória e de respostas, mas uma freira assassina vaga pelo lugar sedenta por sangue.

A Freira assassina, com faca em mãos e olhos arrancados, é tão letal quanto o Xenomorfo de Alien: Isolation

Ainda que seja inspirado pelo visual e mecânicas de jogos do PS1, a jogabilidade stealth dá um ar de Alien: Isolation, em que é preciso explorar sempre com um pé atrás, tomando cuidado com toda curva e escadaria para não dar de cara com a criatura. Assim como o Xenomorfo, a inteligência artificial da Freira é surpreendentemente perversa, o que torna muito difícil um confronto com o jogador não terminar em morte. Ela não só vasculha os corredores, como também pode te perseguir por escadarias, tubulações e te tirar de esconderijos. Não há lugar seguro contra a sua raiva, o que cria uma atmosfera pesada de incerteza.

O visual de baixa fidelidade ajuda muito nessa sensação de desconforto. A tela é tomada por estática sempre que a Freira está por perto, o que ajuda a obstruir sua visão. Vultos no final de um corredor escuro podem ser tanto visões da mente quanto a criatura se escondendo para te pegar desprevenido – literalmente, já que é algo que a antagonista realmente faz.

As dicas do Puppet Combo para ter a “melhor” experiência com Nun Massacre

Essa tensão se mantém presente em todas as versões do game, mas se torna ainda mais especial se jogada no modo portátil do Switch. Ter o console em mãos, explorando o local escuro através da pequena telinha, e com fones de ouvido dá uma sensação de imersão ainda mais macabra a experiência toda.

Dependendo de como você lida com sustos, tudo pode ficar cansativo rápido, mas felizmente a experiência é curta e pode ser concluída em menos de uma hora. Além das fugas intensas e dos jumpscares horripilantes, a trama do jogo – que não é exatamente o principal aqui, convenhamos – é surpreendentemente boa. A protagonista é motivada a visitar o internato após receber notícias de que sua filha que lá estuda ficou repentinamente doente, e que é preciso ir buscá-la. Por todo o local é possível encontrar cartas, diários e fitas falando sobre os horrores cometidos na instituição, o que dá uma motivação extra para se arriscar e desvendar as desgraças que ocorreram dentro daquelas paredes.

Nun Massacre é muito mais simples que Murder House, mas é outro acerto de peso de Puppet Combo. Ainda que o game seja inspirado em A Freira (2018), filme derivado de Invocação do Mal, toda a produção do desenvolvedor se aproxima mais com as obras de Exploitation (ou, no caso, Nunsploitation): filmes trash bastante apelativos e divertidos. É um conto de horror de baixo orçamento feito para te fazer gritar com frequência – e não dá para dizer que não alcança todos os seus objetivos.

NOTA: 9/10

 

Nun Massacre está disponível para PC (via Itch.io), Nintendo Switch e PS4/PS5. A review foi feita com base na versão de Switch, graças à uma key enviada pelo próprio desenvolvedor.

E você, quais jogos indie você anda curtindo por fora dos grandes lançamentos do ano? Tem alguma indicação para a Indie+? Deixe tudo nos comentários abaixo, e nos vemos na próxima edição!

Enquanto isso, aproveite e confira: