[REVIEW] Silvestre – A essência pagã da natureza
[REVIEW] Silvestre – A essência pagã da natureza
Uma jornada espiritual na forma de uma HQ!
Vocês devem estar acostumados a ler por aqui sobre quadrinhos estrangeiros, super-heróis e tudo o que é derivado desses universos fantásticos. Hoje, no entanto, os convido para uma experiência diferente. Que tal falarmos de uma HQ nacional, prestigiada e com um tom bem diferente do que estamos acostumados, sobre a mística da natureza e a essência pagã e primitiva do homem? Se você topar, é aqui que começamos a falar sobre Silvestre.
Silvestre é um novo lançamento da Darkside Books – editora parceira da Legião dos Heróis. A graphic novel é escrita e ilustrada por Wagner Willian, um autor potiguar que já mostrou mais de uma vez seu talento no Brasil e no mundo, através de obras como Lobisomem Sem Barba, Bulldogma e O Martírio de Joana Dark Side, todas obras vencedoras de importantes premiações de quadrinhos – como o Prêmio Jabuti e o Troféu HQMix.
O estilo de Willian é um pouco diferente do que podemos ver em HQs “tradicionais”, por assim dizer. Suas histórias sempre têm um teor mais transcendental, acompanhadas por uma arte que lembra bastante as aquarelas do renascentismo. E em Silvestre, não é diferente. Aqui, o autor usa e abusa de seu talento para contar uma narrativa sobre a natureza e o primitivismo intrínseco do homem.
Mas afinal, qual é a história de Silvestre? Bem, aqui temos uma tarefa mais complicada, já que a história segue uma narrativa fragmentada, com muitos inserts e divagações, todas levando a um lugar imprevisível. Não é uma história com ação, tiro, porrada e bomba – e é justamente isso que torna sua beleza tão… natural e intimista.
Mas se fôssemos sumarizar uma pequena parcela da história de Silvestre, posso dizer que – em algum momento da história – se trata de um homem morando em uma floresta. Esse homem prepara uma torta e o cheiro logo atrai os mais diferentes e peculiares convidados. Temos desde animais silvestres a divindades pagãs e figuras folclóricas das mais diversas culturas – como o Curupira e a Baba Yaga -, todos reunidos para um esplendoroso banquete.
No entanto, isso é apenas uma pequena parcela do que está nas páginas de Silvestre. A graphic novel não procura um caminho – em vez disso, ela segue sua jornada em atalhos, provando que muitas vezes, o percurso é o principal elemento de uma jornada. É uma história belíssima, sanguinária e trágica sobre o animal selvagem que reside em todos os nós – ou ao menos, naqueles que não abandonaram a natureza dentro de si.
Ainda assim, há quem possa achar que a história da HQ “não faz sentido”. E de certo ponto de vista, ela certamente não faz. Mas o trabalho de Wagner Willian vai além da racionalidade narrativa e da linearidade temporal. A prova disso são as primeiras páginas, que nos apresentam com pequenos contos, histórias e anedotas sobre animais da floresta. É quase como se nos tornássemos presa e predador, e precisássemos nos reger pelas leis mais simples da natureza.
O trabalho de edição dessa obra de arte – e não poderia ser caracterizado como menos – também é algo digno de nota, desde as ilustrações ímpares de Willian, que conseguem nos passar uma sinestesia única (em certo momento da leitura, posso jurar que ouvi barulho de rio e cheiro de terra molhada), até o trabalho impecável e astuto do letreiramento, que às vezes propõe alguns jogos com o que está sendo escrito.
Em suma, Silvestre é uma leitura difícil, mas recompensadora. Mais do que desenhos bonitos, ela carrega um peso especial. É quase como se víssemos os sentimentos e os pensamentos do autor tomando vida nas páginas – o que é um mérito impressionante para aqueles que se debruçaram sobre a obra. É mais do que uma simples graphic novel – é uma história sobre a dualidade humana, primitiva e pagã, contada sobre obras de arte.
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Na galeria a seguir, fique com algumas imagens da edição da Darkside Books:
Silvestre está disponível para venda nas livrarias. Você também pode comprar a HQ no site oficial da Darkside.