The Boys: Quarta temporada reafirma que série não tem medo de ser política

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The Boys: Quarta temporada reafirma que série não tem medo de ser política

Por Daniella Cadavez

A quarta temporada de The Boys estreou nesta quinta-feira no Prime Video com três episódios. E se você ainda tinha dúvidas de que trata-se de uma série (também) sobre política; depois dessa temporada você vai ter certeza mesmo.

Eu explico. The Boys é uma produção que sempre se propôs a questionar: a sociedade, o comportamento humano, as questões políticas e sociais. E sempre fez isso de uma forma polêmica e engraçada, o que a torna mais acessível ao público geral e talvez, por isso mesmo, desperte tantas discussões.

Segundo o criador da série, Eric Kripke, The Boys sempre foi uma critica aberta à direita conservadora americana e uma produção que, apesar de baseada nos quadrinhos,  utiliza-se de acontecimentos políticos e sociais como base para a suas temporadas.

Ou seja, a série sempre foi muito além da definição simplista de uma história sobre super-heróis corrompidos, com muito sexo, sangue e bizarrices. E, como vimos ao longo das últimas temporadas, à medida em que os discursos se polarizam aqui no mundo real, a mensagem e as reflexões de The Boys vão ficando também mais diretas e incisivas.

Portanto, sim, a política dá o tom desta nova temporada de The Boys — aberta e escancaradamente. E ouso dizer que dessa vez a série não poupa ninguém: do extremismo da direita conservadora ao discurso quase utópico e pouco eficaz da esquerda.

Acredito que essa será a temporada mais incômoda da série. Aquela que, certamente, vai gerar mais discussão e reclamações nas redes sociais (de todos os lados); mas que também deve gerar mais reflexões. Isso porque é a temporada que mais se relaciona com a realidade americana nesse momento.

Julgamento do Capitão Pátria faz paralelo com a situação atual dos Estados Unidos.

Vamos ao contexto. A série começa com dois momentos importantes: o julgamento do Capitão Pátria (Antony Starr) e as eleições presidenciais, onde Victoria Neuman (Claudia Doumit) concorre como vice-presidente. Nesse momento, no mundo real, os EUA enfrentam uma situação semelhante, conforme o país se prepara para uma nova eleição presidencial, enquanto acompanha o julgamento de seu ex-presidente Donald Trump – figura inclusive que serviu de inspiração para o próprio Capitão Pátria, segundo Eric Kripke.

Logo no começo a temporada já aborda temas importantes e delicados como o crescimento da direita conservadora e seu discurso extremista e cheio de ódio (sempre baseado em ‘valores morais’), a divulgação de fake News na mídia e nas redes sociais e a repercussão dessas Fake News em todas as esferas… Aliás, pode-se dizer que The Boys nunca foi tão mundialmente atual já que esses temas estão hoje presentes em diversos outros países, inclusive aqui no Brasil.

Com o final da série confirmado para a próxima temporada, fica cada vez mais claro que a história está chegando, enfim, ao seu ápice. Ou, melhor dizendo, ao cerne do problema.

“Ah, então significa que, mais uma vez, eles vão passar a temporada inteira atrás do Capitão Pátria para perder a oportunidade de derrotá-lo no último minuto?”. Sim, provavelmente. Billy Bruto (Karl Urban) e sua equipe continuam de um lado, agora amparados pela CIA; Capitão Pátria, Vought e ‘Os Sete’ do outro.

Mas a discussão aqui vai muito além de uma simples diferença entre mocinhos e vilões, ou bem vs mal. O tom da temporada nos prepara para a series finale e começa a questionar se o problema, mais do que os “supers”, não está mesmo intrinsecamente ligado ao ser humano, pelo menos, essa é a minha teoria.

A questão não é mais derrotar o Capitão Pátria, a Vought ou Victoria Neumann. Aos poucos, The Boys vai nos mostrando que eles – assim como  Tempesta (Aya Cash) e Soldier Boy (Jensen Ackles) – são apenas repetições de um mesmo padrão de ideologias que, no fim do dia, só incitam o ódio e a violência. Um sistema que se renova de forma cíclica e que, de tempos em tempos, como vemos agora, ganha força o suficiente para gerar uma onda de destruição.

Quanto mais violento o Capitão Pátria fica, mais ele adorado pelo público.

Afinal, quanto pior são as ações do Capitão Pátria, mais há uma parcela considerável da população a seu favor e justificando, sem pestanejar, os seus atos. Soou familiar para vocês? Em uma conversa com a Sister Sage (Susan Heyward), no início desta temporada, o próprio Capitão Pátria, questiona: se ele salva as pessoas, o público o adora; se ele explode a cabeça de alguém no meio da rua, o público também o adora. “Não faz sentido”, diz.

Ou seja, independente do Super a ser derrotado, The Boys caminha para questionar se o real vilão não somos nós mesmos, seres humanos, que repetimos padrões de comportamento de forma cíclica e que temos uma inclinação à adoração do discurso do ódio.

Mas talvez ainda haja esperança para um final feliz — ou um pouco melhor —  nessa história e ela pode estar nas mãos da próxima geração.

De um lado, sabemos que a história de Gen V se entrelaça com a desta temporada de The Boys e que a próxima temporada do spin-off será sua continuação. Por outro lado, vale ficar de olho no desenvolvimento de Ryan (Cameron Crovetti) e em sua introdução ao mundo dos “Supers”, uma vez que ele decidiu ficar ao lado do pai, Capitão Pátria. Considerando que Ryan é o primeiro Super a receber o seu “dom” de forma natural, seria ele a chave para quebrar esse ciclo vicioso ou a força final para a destruição total?

Por fim, sobre os episódios em si: os fãs podem esperar todos os elementos polêmicos e exagerados característicos da série,  assim como as sátiras e tiradas engraçadas. The Boys sempre leva o exagero ao limite, mas ainda assim consegue surpreender e também tirar algumas risadas no caminho.

The Boys terá episódios semanais, no Prime Video, sempre às quintas-feiras.

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