Loki: O que esperar da segunda temporada da série? Assistimos aos primeiros episódios

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Loki: O que esperar da segunda temporada da série? Assistimos aos primeiros episódios

Por Jaqueline Sousa

Gostaria de ter mais tempo. Essa é, provavelmente, a frase que mais passa pela cabeça das figuras que impulsionam a narrativa de Loki, a série do Universo Cinematográfico da Marvel que acompanha um dos personagens mais carismáticos e queridos da franquia. Com Tom Hiddleston estampando cada peça de divulgação, o programa do Disney+ retorna com uma nova temporada (a única produção live-action seriada do Marvel Studios que, até o momento, conseguiu esse feito) em meio a uma crise criativa que vem afetando números de bilheterias, quedas de audiência e uma sensação de que a era dos super-heróis ficou para trás.

O que a segunda temporada de Loki tem a dizer de novo, então, diante desse cenário tão desanimador para o estúdio comandado por Kevin Feige? Bom, a impressão que fica, assistindo aos primeiros episódios do capítulo dois, é que a Marvel ainda não está pronta para largar o velho e desgastado osso que vem roendo desde que Homem de Ferro (2008) chegou aos cinemas e provocou um verdadeiro pandemônio no cinema de super-heróis. E não há carisma no mundo – nem mesmo o de Hiddleston – que consiga sustentar isso por muito tempo.

Loki em mais uma corrida contra o tempo

Se tem um personagem no MCU que nunca teve tempo o suficiente para conseguir se desenvolver como poderia, esse alguém é Loki. Sempre caindo nas sombras de seu irmão Thor (Chris Hemsworth), o Deus da Trapaça conseguiu ser mais do que a franquia esperava dele justamente pela performance de Tom Hiddleston, que caiu nas graças do público com uma interpretação sarcástica e interessante do vilão (ou anti-herói, dependendo de como você o vê). Ainda assim, nada parecia o bastante. Não havia tempo, digamos.

Em vista disso, uma série focada em Loki parecia o melhor dos mundos para quem queria conhecer mais do personagem – e, quem sabe, vê-lo em um arco de redenção satisfatório que os filmes não conseguem oferecer. Mas não foi exatamente isso que a série criada por Michael Waldron, que não se envolveu com o novo capítulo, explorou quando veio ao mundo em 2021, já que Kevin Feige precisa de tempo para explicar as mil ideias mirabolantes e os conceitos complexos (que no fundo são mais rasos que uma piscina feita para crianças) que irão impulsionar as próximas narrativas do MCU. Afinal, vale tudo para garantir a antecipação do “vem aí”. Um “vem aí” que nunca parece chegar e muito menos levar para algum lugar interessante.

Segunda temporada de Loki tenta lidar com seus problemas internos, mas ainda não consegue sair da superfície.

A segunda temporada de Loki, então, poderia ser um novo fôlego para consertar os erros do passado – o ritmo descompassado da narrativa, personagens que pareciam correr em círculos e a noção de que você estava assistindo a um filme de seis horas ao invés de uma série – mas não é exatamente isso que ocorre. Pode até parecer implicância por bater na mesma tecla de sempre, porém não há muito o que se dizer quando uma franquia insiste em bombardear seu público com produções superficiais, vazias e totalmente esquecíveis.

Com roteiros assinados por Eric Martin, que também esteve envolvido na primeira temporada de Loki, o segundo capítulo do programa parte diretamente dos eventos finais do primeiro ano, que introduziram no MCU o já tão explorado conceito de multiverso que intitula a nova grande saga do estúdio, um mundo pós Saga do Infinito que ainda tenta (re)encontrar a relevância que um dia teve.

Diante disso, Loki precisa agora lidar com as consequências da morte d’Aquele que Permanece (Jonathan Majors) – uma das variantes de Kang, o grande novo vilão do MCU que deu as caras em Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania (2023) e que, assim como Thanos coletava Joias do Infinito, coleta uma infinidade de Variantes por aí. Assim, com a Linha do Tempo Sagrada ameaçada e Autoridade da Variância Temporal (AVT) em ruínas, Loki se junta a Mobius (Owen Wilson), Hunter B-15 (Wunmi Mosaku) e uma equipe inusitada para conseguir colocar as coisas em ordem, enquanto aprende o real significado de heroísmo.

Loki e companhia tentam arrumar uma bagunça temporal para salvar o universo.

Loki sempre brincou com o conceito de tempo desde seus primeiros instantes. Seja pela figura da Senhorita Minutos ou até mesmo pelos corredores um tanto quanto kafkianos da AVT, o programa do Disney+ traz temáticas pertinentes àquele que parece ser o maior inimigo dos seres humanos (e também de deuses poderosos): a passagem do tempo. Estamos sempre correndo contra ele, sempre tentando mudar alguma coisa aqui ou acolá que nos faça ganhar mais segundos, mesmo que o pozinho da ampulheta caia sem possibilidade de interrupção. Mas não importa quantas vezes um Marty McFly volte ou avance no futuro: como dizia Cazuza, o tempo não para.

Os primeiros episódios da segunda temporada de Loki seguem a mesma linha, adicionando outras camadas nessa discussão, como a existência do livre-arbítrio (se é que ele existe em um universo onde uma agência controla o tempo) e as escolhas que fazemos durante nossa jornada na Terra que impulsionam o nosso futuro para uma direção ou outra. O Deus da Trapaça parece enfrentar tais questionamentos, enquanto tenta buscar um heroísmo esquecido dentro de si para salvar a AVT (e o próprio universo) de um colapso praticamente iminente. Juntamente a isso, ainda há todo o dilema envolvendo as ações de Sylvie (Sophia Di Martino), que tenta encontrar um novo lugar para si longe de toda a turbulência das ramificações e escolhas do passado.

Ke Huy Quan é o grande destaque da segunda temporada de Loki.

Mas não é Loki, nem Sylvie e nem as piadas milimetricamente posicionadas de Mobius que garantem bons momentos no início da segunda temporada. Quem faz isso é o ator Ke Huy Quan, que emocionou no Oscar deste ano ao levar para casa sua primeira estatueta por Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo (2022). Mostrando que de multiverso ele entende mais do que ninguém, o carismático artista interpreta Ouroboros, ou O.B. para os íntimos, um talentoso faz-tudo da AVT que ajuda Loki e companhia a arrumar a bagunça temporal que vem ameaçando o destino do universo (ou universos, no plural).

Ke Huy Quan foi uma adição mais do que certeira da Marvel. Mesmo quando a série peca novamente em encontrar um bom ritmo, o intérprete de Ouroboros consegue captar sua atenção com uma delicadeza cativante. Mesmo quando a direção de Justin Benson e Aaron Moorhead deixa a desejar nas tentativas de tomadas mais inventivas, é Ke Huy Quan quem vem ao resgate com mais um comentário espirituoso e divertido.

Novo ano, os mesmos velhos problemas

Ainda assim, uma pessoa sozinha não opera milagres em uma produção tão grandiosa quanto Loki. Hiddleston continua conduzindo o personagem de maneira impecável, e a dinâmica entre o Deus da Trapaça e Mobius ganha um pouco mais de desenvolvimento apesar da falta de tempo e espaço para isso, mas ainda existe um problema de ritmo incômodo no começo da série que, novamente, a aproxima mais de um filme com muitas horas de duração do que de um programa de TV propriamente dito.

É um capítulo que, pelo menos à primeira vista, tenta focar em suas questões internas, algo que também coloca em xeque a participação de Jonathan Majors diante das polêmicas nas quais o ator se envolveu após ser preso em março deste ano por acusações de agressão. Na trama, não é o Kang de Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, ou Aquele que Permanece que retorna e, sim, Victor Timely, uma outra Variante do vilão que, de certa maneira, tem uma participação bastante ativa nos momentos iniciais da segunda temporada de Loki, com uma relevância distinta daquela apresentada anteriormente — seja na série ou no filme. Mesmo que exista um ponto de virada em sua jornada, a presença de Timely ainda é um propulsor da narrativa deste segundo ano.

Victor Timely, nova variante de Kang, tem uma participação ativa no início da segunda temporada da série.

Por outro lado, o capítulo dois da série estrelada por Tom Hiddleston traz boas adições à trama, como o carismático Ouroboros, mas peca novamente em tentar ser relevante no meio de uma enxurrada de produções igualmente nada inventivas do MCU. Caminhando de mãos dadas com visuais apáticos e efeitos questionáveis (nada de novo sob o sol), a série que tinha tudo para expandir a popularidade do Deus da Trapaça e  fazer um desenvolvimento aprofundado de seu personagem titular, na verdade, não consegue sair da mesmice enfadonha que vem acometendo a franquia há anos.

O grande trunfo do programa, que ainda não sabe muito bem se quer ser uma série focada no Loki ou nas milhares de respostas que o MCU diz que vai responder, é justamente usar a figura de um personagem conhecido e querido pelo público para tentar vender uma história insossa e exaustiva que continua percorrendo os mesmos círculos. Isso não ocorre em WandaVision (2021), por exemplo, a única produção televisiva do MCU até agora que, mesmo com um final questionável, conseguiu mostrar algo interessante e diferente do que a franquia vinha fazendo até então.

No caso de Loki, a produção acaba caindo no mesmo buraco que a intragável Cavaleiro da Lua (2022). A diferença é que, se na série estrelada por Oscar Isaac não havia a vantagem de existir uma trama com um personagem já conhecido e amado pelo público, em Loki há uma figura que consegue sustentar toda a comoção ao redor do programa, mesmo que ele seja um grande amontoado de promessas vazias em uma corrida contra o tempo para nunca sair da mente do público, custe o que custar.

Os episódios da segunda temporada de Loki serão lançados no Disney+ todas as quintas-feiras.

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