O que é Afrofuturismo? Ale Santos, autor de O Último Ancestral, traz dicas para começar a ler o gênero

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O que é Afrofuturismo? Ale Santos, autor de O Último Ancestral, traz dicas para começar a ler o gênero

Por Gabriel Mattos

Pantera Negra, o filme do Universo Cinematográfico da Marvel de 2018, impressionou ao apresentar a uma grande parcela do público uma nova forma de enxergar narrativas. Não só de super heróis, mas de pessoas pretas em um geral. No longa, tecnologia de ponta encontra ancestralidade espiritual, riqueza encontra tradições africanas, sem deixar de trazer ação, mistério e romance na dose certa. Mesmo sem saber, este foi o primeiro contato de muitos com o afrofuturismo. Durante a Bienal do Rio, a Legião dos Heróis conversou com Ale Santos, especialista neste gênero literário, que explicou tudo que você precisa saber sobre o assunto.

O que é afrofuturismo?

Pantera Negra foi crucial para dar maior destaque ao movimento afrofuturista

Afrofuturismo é um movimento literário que surge a partir da ficção científica com a ideia de expandir os futuros imaginados por este gênero para incluir culturas de matriz africana. Assim, estas histórias criam um mar de possibilidades para pessoas pretas de todo o mundo, pensando em novas tecnologias e resgatando as raízes de sua ancestralidade.

Nas palavras de Ale Santos, é “uma narrativa de ficção especulativa que aborda as preocupações da comunidade negra dentro do contexto da tecnocultura gerado no século XXI.”

“Esse tema vem a atravessar a sociedade com aquelas preocupações que a ficção científica tradicional já se preocupava, só que dessa vez colocando o que é ser uma pessoa negra no Brasil e no mundo dentro dessa narrativa, dentro dessa preocupação. Isso impacta efetivamente a nossa ficção científica, impacta a sociedade porque é lá que a gente vai criar as figuras que vão desconstruir os estereótipos que vão recair sobre a nossa comunidade.”

Ale Santos é um dos principais escritores de afrofuturismo do Brasil

Entretanto, o gênero não se limita a proporcionar discussões raciais sobre discriminação e sobre os preconceitos sofridos. Boa parte das histórias foca na construção de uma identidade de negritude, reforçando os signos comuns a essas vivências.

“Eu quero expandir não só as questões de desigualdade racial, mas eu quero expandir até a própria construção da ficção científica brasileira. Eu quero colocar mais elementos da brasilidade,” comenta Ale Santos sobre o futuro do gênero em suas obras. “No próximo livro eu vou trazer um pouco do congado, vou construir um cybercongado ali dentro do próximo livro. Vou falar cada vez mais da experiência do que é ser um garoto negro dentro da ficção científica. Acho que é sobre isso: sobre eu colocar quem eu fui no passado no que a gente está escrevendo sobre o futuro.”

Ilustração de O Último Ancestral, de Ale Santos

Em O Último Ancestral, Ale combina esses conceitos típicos da africanidade com a realidade brasileira, em que a influência africana gerou novos contextos típicos na vida das pessoas pretas, especialmente como consequência da história nacional.

“Acho que não tem como falar de ficção científica no Brasil sem falar se samba, sem falar de rap, de trap, sem falar das comunidades periféricas, do que é viver numa favela, do que é viver numa periferia urbana brasileira. Então acho que todas essas questões são questões que me ajudaram a construir o universo de O Último Ancestral.”

Mas e se eu não entender os termos difíceis?

Cena de Lovecraft Country

Por resgatar a ancestralidade preta e incluir inspirações em diferentes culturas do continente africano, muito comumente as histórias afrofuturistas incluem termos e conceitos não tão conhecidos na cultura ocidental tradicional, o que pode afastar alguns leitores. Entretanto, para Ale, esta pluralidade não deveria funcionar como uma barreira. O foco na leitura de afrofuturismo é sempre na mensagem e na história.

“Só se joga na narrativa, né? Todo mundo não teve problema para ler Tolkien, não teve problema para ler Isaac Asimov. Obviamente é um universo novo, é um universo que você precisa descobrir… Só se joga ai no livro. Começa a ler, que aos poucos você vai se adaptando a tudo isso.”

Para o autor, a experiência não se limita a palavras e vocabulários específicos, mas sim a construção mais ampla de um cenário de ficção, comum em fantasias e até mesmo clássicos da ficção científica.

“Eu me preocupei com isso. Em escrever um livro que não precise exatamente de uma enciclopédia.”

O que ler para começar no Afrofuturismo?

Ale Santos indica algumas obras para se conhecer o movimento

Para quem não sabe por onde começar nas leituras sobre afrofuturismo, Ale Santos deixa algumas recomendações que fogem dos clássicos de Octavia E. Butler, que podem sobrecarregar novatos. O autor nacional sugere os seguintes títulos:

  • Céu Entre Mundos, de Sandra Menezes;
  • Ìségún, de Lu Ain-Zaila;
  • Underground Railroad: Os Caminhos para a Liberdade, de Colson Whitehead;

O Último Ancestral, de Ale Santos, também já está disponível nas principais livrarias. Seu próximo livro, Malta Indomável, está previsto para novembro.

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