Conheça a história de John Wayne Gacy, palhaço assassino que pode ter inspirado It: A Coisa

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Conheça a história de John Wayne Gacy, palhaço assassino que pode ter inspirado It: A Coisa

Por Arthur Eloi

Medo de palhaço não é brincadeira. Pode soar bastante específico, mas é até considerado uma fobia real, chamada de coulrofobia. O autor Stephen King sabe bem que há uma noção de que palhaços podem ser perversos, e para escrever uma das obras que moldaram essa imagem na cultura pop, ele se inspirou em um crime real.

A associação entre palhaços e maldade é secular, mas os Estados Unidos viu isso se manifestando de forma infeliz na realidade graças à John Wayne Gacy, serial killer que ficou conhecido como o palhaço assassino.

Quem foi John Wayne Gacy?

Com mais de 30 vítimas, John Wayne Gacy é considerado um dos piores serial killers da história

John Wayne Gacy é, facilmente, um dos serial killers mais horrendos da história, mas que foi conhecido como uma figura amigável, prestativa e popular por grande parte de sua vida. Nascido em 1942, em Chicago, é aqui que encontramos o primeiro elemento em comum na “jornada” de muitos psicopatas: uma infância problemática.

No caso, sofria abusos verbais e físicos constantes na mão de seu pai, um alcoólatra. Além disso, desde cedo reprimia a própria homossexualidade, por medo do preconceito generalizado e violento da época. Isso não o impediu de fingir certa normalidade. Seja na escola, no trabalho ou até no primeiro casamento, Gacy conquistava grandes grupos de amigos com seu charme, desenvoltura e inteligência.

Seu primeiro ato de desequilíbrio – pelo menos que foi descoberto, claro – aconteceu em 1968, quando foi preso por molestar e agredir um adolescente de 15 anos. Mais denúncias de abuso sexual surgiram, mas Gacy se assumiu culpado por apenas uma delas. Ele foi sentenciado a 10 anos na prisão, e sua esposa imediatamente pediu divórcio e a guarda de seus dois filhos.

A atuação de normalidade de John Wayne Gacy o salvou novamente. Ele se tornou o detento exemplar na prisão, tendo ajudado a melhorar a qualidade de vida de todos os demais, ocupado o posto de cozinheiro e até mesmo se formado em uma série de diferentes cursos. Pelo excelente comportamento, foi liberado após concluir 18 meses de sua sentença de dez anos.

A decisão, ocorrida em junho de 1970, se provou um erro com o tempo. Já em fevereiro de 1971, John Wayne Gacy já carregava mais uma denúncia de molestar um menor de idade, fingindo ser policial para abusar sexualmente do adolescente. O caso não prosseguiu quando o garoto não respondeu ao pedido judicial.

Nos anos seguintes, John Wayne Gacy se manteve ocupado. Se casou mais uma vez, e novamente se divorciou, dessa vez em acordo mútuo após se declarar bissexual. Abriu sua própria empresa de reparos domésticos, ao mesmo tempo que trabalhava como cozinheiro e, claro, animava festas e eventos como palhaço. Muitos de seus trabalhos como Pogo, o Palhaço sequer eram remunerados – segundo ele, alegrar crianças e voltar a se sentir como uma era o suficiente.

John Wayne Gacy como Pogo, o Palhaço

Mais tarde ficou claro que sua empresa de construção era apenas fachada para seus atos horrendos. Gacy costumava contratar vários jovens, na faixa dos 18 aos 20 anos, como estagiários de sua empresa de reparos domésticos. Muitos deles desapareceram pouco depois, mas a cidade pouco se questionava. A população entendia apenas como jovens fugitivos, e John Wayne Gacy era como uma estrela, conhecido por toda a vizinhança como um homem cordial e carismático.

Essa persona pública de sucesso ajudou a encobrir toda a sujeira de seus atos, até que o assassino esbarrou em uma vítima diferente das demais. Robert Piest, garoto de 15 anos que trabalhava em uma farmácia, também tinha uma reputação na vizinhança: a de ser um filho exemplar.

Quando ele não voltou para casa, em dezembro de 1978, a família rapidamente descartou a possibilidade dele ter fugido. Acontece que, no mesmo dia, Gacy havia visitado a farmácia e oferecido um emprego para o jovem em sua firma de reformas. Assim, havia uma conexão direta entre o desaparecimento e o homem.

Lembra do caso em que Gacy molestou um jovem de 15 anos? A polícia de Chicago o encontrou nos arquivos, e isso deu base legal para conseguirem um mandato de busca em sua casa. Não encontraram nada comprometedor, mas vários itens suspeitos, que iam de livros e brinquedos sexuais a roupas pequenas demais para caberem em um homem adulto. Foi o próprio John Wayne Gacy que conduziu os policiais por sua casa, oferecendo drinks e explicando um infeliz problema com o esgoto que estava empesteando a casa com odores.

Ainda que o assassino tivesse mantido a calma nesse primeiro momento, esse foi o momento em que ele percebeu que poderia se dar mal. Logo em seguida, passou por vários dos lugares que frequentava para se despedir de bons amigos – como se fosse desaparecer ou cometer suicídio. Em uma dessas passagens, ele presenteou dois funcionários de um posto de gasolina com sacos de maconha. Mal sabia que a polícia estava em sua cola, e isso deu a abertura para um flagrante.

Cena do documentário John Wayne Gacy: Devil in Disguise, que mostra as polícias tirando os corpos da casa do assassino

Ironicamente, a prisão de John Wayne Gacy só se deu por posse de drogas. Com um novo mandato de busca, a polícia agora revirou a casa do suspeito – e por lá encontrou o que é descrito até hoje como a cena de crime mais grotesca dos Estados Unidos. O maníaco, que logo confessou todos os seus atos com preocupante frieza e cooperação, havia matado mais de 30 jovens, e enterrado a grande parte deles no porão de sua casa. A polícia encontrou 26 cadáveres já putrefatos, quase irreconhecíveis.

Quando recebeu a notícia de que seria julgado por homicídio além de posse de drogas, John Wayne Gacy manteve a calma e abriu o jogo. Mais do que isso, apontou a localização exata de todos os cadáveres, além de explicar em detalhes os estupros e assassinatos que cometeu. Seu modus operandi envolvia algemar a vítima – fosse desacordada ou fingindo ser uma brincadeira -, abusar sexualmente dela, asfixiá-la e enterrar seu corpo no porão. Havia ainda outros cinco cadáveres que Gacy jogou em um riacho próximo. Robert Piest era um deles.

Após um extenso julgamento, John Wayne Gacy foi condenado à morte em 1980. Os dois anos entre sua prisão e o veredito foram passados tentando emplacar a noção de que ele era clinicamente insano, portanto não poderia responder por seus crimes. Ele não conseguiu comprovar insanidade, e portanto pegou sentença máxima por seus 33 homicídios.

Na prisão, John Wayne Gacy se dedicou às artes, e pintou muitos quadros de palhaço

O maníaco entrou no corredor da morte, e passou 14 anos na prisão de segurança máxima até a sua execução. Nesse tempo, se tornou uma figura bastante midiática, concedendo entrevistas e relatos em que falava abertamente sobre os crimes que cometeu.

Foi nesse período também que ganhou a fama de Palhaço Assassino, quando a mídia descobriu que trabalhava como palhaço durante muitos de seus homicídios. Além disso, nesse hiato entre a sentença e a execução, John Wayne Gacy se dedicou às artes na prisão – e grande parte das suas obras são pinturas de palhaços.

Em uma das várias entrevistas, que está inclusa na minissérie Conversando com um serial killer: o Palhaço Assassino, da Netflix, o maníaco explica o fascínio: “Palhaços podem ser inocentados de qualquer coisa. Palhaços podem até serem inocentados de assassinato”.

Pennywise é inspirado em John Wayne Gacy?

Pennywise, o palhaço assassino de It: A Coisa, é levemente inspirado em John Wayne Gacy

John Wayne Gacy é mais um dos vários serial killers estadunidenses que serviram como inspiração para obras de terror das décadas de 1970 e 1980. Sua conexão com Pennywise, o palhaço assassino de It: A Coisa, por outro lado, é um pouco mais livre.

A figura do palhaço perverso já existia muitos antes dos crimes horrendos de Gacy. É só ver, por exemplo, o fato de que o Coringa já existia nas HQs do Batman desde 1940.  Mas foi a obra de Stephen King, lançada em 1986, que alavancou o conceito do palhaço assassino para a consciência popular.

O autor nunca deixou explícita sua inspiração em John Wayne Gacy, mas já afirmou ter idealizado a história em 1978 – justo o ano em que os crimes do verdadeiro Palhaço Assassino foram revelados ao mundo. Isso pode ter ajudado King a chegar na imagem de seu antagonista, mas o mestre do horror conta que, na verdade, teve a ideia para o livro durante um passeio por uma ponte velha.

O autor vivia em uma cidade chamada Bangor, no Maine, e passou a explorar o lugar por lendas urbanas e contos locais. Lá, se impressionou com a história de um homem gay que foi jogado de uma ponte, e também com a suposta imensidão do sistema de esgotos, que ligava toda a cidade ao ponto de ser fácil de se perder por lá.

Ele juntou isso tudo com uma antiga história infantil em que trolls devoradores de crianças vivem debaixo de pontes. Tudo que King fez foi trocar a ponto pelo esgoto, e os trolls por uma criatura grotesca. O que é melhor para despertar a sensação de pânico em crianças e adultos do que um palhaço sobrenatural?

It: Uma Obra-Prima do Medo foi lançada quatro anos antes de John Wayne Gacy ser executado

Pennywise, o Palhaço Dançante se tornou o grande destaque de um livro que teve recepção divisiva por sua enorme duração (mais de 1100 páginas), ritmo e por uma questionável cena de orgia entre crianças no esgoto. A fama da criatura só cresceu quando a obra foi adaptada em minissérie em 1990, com o excelente Tim Curry como o monstro. Depois, em 2017, virou filme pelas mãos de Andy Muschietti, com Bill Skarsgard assumindo o traje do antagonista.

Não há dúvidas que It: A Coisa é a obra mais famosa dos palhaços assassinos, mas o legado macabro que John Wayne Gacy deixou na memória coletiva pode ser encontrado em todo lugar. Além de muitas adaptações e obras de true crime baseadas em fatos, você encontrará palhaços assassinos em filmes trash como Palhaços Assassinos do Espaço Sideral, séries como American Horror Story, ou até jogos como Dead by Daylight.

Há sim uma obra que se inspirou diretamente na figura de Gacy: Coringa, o filme da DC Comics de 2019. O personagem de Joaquin Phoenix, que rendeu Oscar ao ator, tem maquiagem com as mesmas cores que John Wayne Gacy usava em seu rosto. Além disso, as primeiras apresentações do futuro criminoso acontecem em um bar chamado Pogo’s, que é justamente o nome artístico que o serial killer usava na vida real.

Maquiagem de Joaquin Phoenix em Coringa é inspirada em Pogo, o palhaço de John Wayne Gacy

Os Estados Unidos têm uma longa história com criminosos perturbadores, e o audiovisual apenas serve como espelho para isso.

Se você busca uma história de terror inspirada pelo caso, It: A Coisa (e sua continuação) está disponível no catálogo da HBO Max. Agora, se você quer saber mais sobre os fatos, e ouvir os relatos assustadores direto da boca do maníaco, a minissérie Conversando com um serial killer: o Palhaço Assassino já está disponível na Netflix, e conta com entrevistas reais com John Wayne Gacy.

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