Crítica: The Witcher – Segunda temporada deixa ainda melhor o que já era bom

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Crítica: The Witcher – Segunda temporada deixa ainda melhor o que já era bom

Por Chris Rantin

Ainda que tenha sido um dos maiores sucessos da Netflix, arrancando elogios dos fãs dos jogos da CD Projekt e dos livros de Andrzej Sapkowski, a primeira temporada de The Witcher também foi muito criticada por apresentar o universo fantástico em três linhas do tempo distintas. 

A segunda temporada ouviu a reclamação dos fãs, optando por contar a história de uma forma narrativa linear e mais contida, que funciona por aprofundar as discussões e tramas deste mundo cheio de intrigas, magia e monstros. Na prática, a série fica mais confortável com o que está trabalhando, o que resulta em uma temporada que pega o que já era bom e o deixa ainda melhor

Ficha Técnica: 

https://www.youtube.com/watch?v=OtLG_mWdZZg

Título: The Witcher: Segunda Temporada 

Showrunner: Lauren Schmidt Hissrich 

Data de lançamento: 17 de dezembro de 2021

País de origem: Estados Unidos

Sinopse: Convencido de que Yennefer perdeu sua vida na Batalha de Sodden, Geralt de Rívia leva a Princesa Cirilla para o lugar mais seguro que ele conhece: Kaer Morhen, onde passou sua infância. Enquanto os reis do Continente, elfos, humanos e demônios lutam pela supremacia fora das muralhas, ele precisa proteger a menina de algo muito mais perigoso: o misterioso poder dentro dela.

Acertando o tom 

Não há como negar que The Witcher se tornou um dos principais produtos da Netflix. Notamos isso pela maneira que o seriado foi divulgado pela empresa e também por todos spin-offs que já estão sendo lançados e por aqueles que ainda estão por vir — incluindo um programa infantil. Com um universo tão rico e interessante quanto o criado por Sapkowski, o que não falta é material para ser transportado para o live-action ou animações belíssimas. 

Isso mostra que, além de reconhecer o potencial do projeto, a plataforma de streaming tem investido pesado para garantir que as produções elevem o nível de qualidade. Por isso, não é uma surpresa quando vemos como a segunda temporada de The Witcher está belíssima. Tudo parece muito mais refinado do que o que vimos antes. 

Se na primeira temporada o visual de alguns monstros foi motivo de piadas, muito por causa dos efeitos visuais mais baratos, este novo ano apresenta criaturas belíssimas e mais realistas por parecerem, de fato, parte da história e não algo adicionado depois na pós-produção. Mas o “embelezamento” vai além das criaturas: todos os componentes da série receberam esse upgrade, desde os figurinos — e, principalmente, das perucas –, até a iluminação e os cenários. 

Entre coadjuvantes e protagonistas 

Como sabemos, Henry Cavill sofreu um grave acidente durante as filmagens da segunda temporada — tanto que ele chegou a considerar abandonar a carreira de ator por causa disso. É difícil dizer com certeza se o desenvolvimento de Geralt foi afetado por conta disso, ou se, desde o começo, já havia a intenção de deixá-lo um pouco mais de lado para que o universo pudesse ser trabalhado de uma forma mais complexa. 

O fato é que, se na primeira temporada vimos muito de Geralt enfrentando o “monstro do episódio” e seguindo uma aventura um tanto isolada, tal qual os contos dos primeiros dois livros de Sapkowski, a segunda temporada transforma o bruxo em um coadjuvante e reduz o número de criaturas fantásticas. E isso funciona de uma forma excelente. Afinal, o foco deixa de ser a caçada de criaturas e passa a trazer debates mais interessantes, aprofundando os personagens em suas tragédias pessoais. 

Não que ver o bruxo combatendo criaturas e ganhando destaque fosse algo ruim, longe disso. O ponto é que, ao focar em outras personagens — como Ciri, Yennefer e até mesmo Fringilla — a série consegue expandir o universo que planeja trabalhar, adicionando componentes mais políticos e grandiosos, coisas que poderiam ficar de fora caso continuassem focando no bruxo e seu combate às criaturas. 

Se você esperava mais de Henry Cavill, ou até mesmo que a temporada girasse em torno dele, talvez a notícia seja um pouco decepcionante, mas na prática isso funciona muito bem. Por não aparecer da mesma forma que na primeira temporada, Cavill se entrega em mostrar mais emoção como o Bruxo, adicionando delicadeza e mais profundidade no protagonista, muito mais do que vimos no ano anterior. Ele continua relevante e continua tendo cenas de ação incríveis, mas seu principal papel é auxiliar outros personagens, como Ciri. 

Falando na leoazinha de Cintra, ela é o maior destaque da temporada. É Ciri que guia a trama de todos os núcleos, ao mesmo tempo em ganha muito desenvolvimento ao descobrir o seu passado — e contemplar o seu futuro. Entre os Bruxos, a jovem deixa sua infância para trás e começa seu treinamento, caminhando para se tornar uma grande guerreira e a temporada acerta ao não apressar demais isso. Vemos uma personagem no limiar, deixando de ser a criança que perdeu tudo, mas ainda sem se tornar a mulher que os fãs do jogo The Witcher 3 tanto amam. 

Freya Allan, intérprete de Ciri, parece mais confortável em seu segundo ano da série. Navegando entre os contrastes da sua personagem os aspectos de guerreira, bruxa, princesa, órfã, e de toda a bagagem emocional que ela carrega, com mais naturalidade do que antes.

Outra personagem que também se beneficia da ausência de Geralt é Yennefer. A feiticeira passa por inúmeros momentos difíceis nesta temporada, algo que serve para adicionar uma camada mais complexa à personagem. Confrontada com decisões impossíveis, Yen é obrigada a entender mais sobre si mesma, quais são seus valores e o que realmente é importante para ela. 

Assim, conseguimos ver outros lados da personagem, o que pode deixá-la mais agradável ao público que, de começo, estranhava a personalidade de Yen. Apesar disso, ela nunca perde a essência que conquistou o coração do Bruxo e dos fãs. Anya Chalotra, como na primeira temporada, continua excelente e permanece o centro das atenções da série sem muito esforço. 

Mas para além do trio de protagonistas, temos personagens que ganham seu destaque e são mais humanizados, o que adiciona mais camadas e os deixam tridimensionais. Fringilla, que antes era vista apenas como uma vilã cartunesca, é trabalhada de uma forma muito interessante e completa; Tissaia, que continua sendo uma das figuras mais misteriosas de Aretusa, passa por reviravoltas ainda mais peculiares, transformando-a em algo além do que uma mera professora; Triss deixa de ser figurante e começa a mostrar um pouco da personalidade que acompanhamos nas páginas dos livros.

E os novos personagens da segunda temporada também chegam apresentando novos detalhes interessantes deste universo, ainda que muitos estejam ali apenas como um gostinho do que está por vir, sem ganhar o destaque que mereciam. 

O futuro será intenso

Talvez o principal defeito da segunda temporada seja que, por mais que muita coisa aconteça ao longo dos oito episódios, temos a sensação de que a história avançou muito pouco. Sim, tivemos um aprofundamento dos personagens e das suas relações, com um crescimento muito necessário para o trio de protagonistas, mas na prática, é um grande “vem aí” sobre o futuro da série.

Mesmo que o universo seja expandido — com inúmeras deixas para o spin-off The Witcher: Blood Origin, que contará o início desse mundo — e que a trama fique mais complexa, o que assistimos basicamente a preparação de terreno para a terceira temporada. Ao apresentar tantos problemas que estão chegando para Ciri, Geralt e Yen, a série passa menos tempo no presente do que deveria. 

Diferente da primeira temporada que introduziu três protagonistas, em uma cronologia bem diferente, e avançou a história em um passo rápido, a segunda temporada dá uma desacelerada por medo de confundir o público com tantas informações. Por isso, temos uma trama com poucos acontecimentos que realmente a avançam, sendo mais introspectiva e focando em aprofundar o que nos foi apresentado até aqui.

Contudo, é importante reforçar que a série não enche linguiça e não está apenas criando uma temporada para “tapar um buraco” entre o ponto A e o ponto B. É justamente por conseguir mergulhar fundo nos personagens que ela entrega uma história incrível, deixando as relações do trio mais orgânicas e o universo de The Witcher mais crível e variado. 

Com uma segunda temporada que se sente muito mais confortável em seu universo, The Witcher retorna com uma narrativa mais madura que prefere deixar os monstros de lado para desenvolver os personagens. Colocando o protagonista como coadjuvante, a série se permite desenvolver e amadurecer outros aspectos da sua história, o que resulta em uma temporada simplesmente incrível.

Apesar de alguns engasgos no ritmo da história, o que vemos é uma delícia e mal podemos esperar pelo próximo capítulo dessa aventura. Levando tudo isso em consideração, a série leva 4,5 estrelas da Legião dos Heróis. 

Nota: 4,5

A segunda temporada de The Witcher já está disponível na Netflix.

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