[Crítica] Streets of Rage 4: Brigar na rua nunca foi tão bonito!

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[Crítica] Streets of Rage 4: Brigar na rua nunca foi tão bonito!

Por Raphael Martins

26 anos. Este foi o tempo que os veteranos do Mega Drive, que curtiram a trilogia Streets of Rage nos anos 90, tiveram que esperar pelo retorno da série de beat’em up, o popular “briga de rua”. E como esperaram.

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Nesse intervalo de tempo, a Sega viu sua ascensão e queda no mercado de consoles, gerações chegaram e se foram, novas franquias de sucesso surgiram, mas ainda não havia nada como enfiar a porrada em tudo o que passasse pela frente ao som do melhor que as composições dançantes de Yuzo Koshiro tinham a oferecer. E assim, o tempo passou, e salvo por iniciativas de fãs, parecia que as aventuras de Axel, Blaze e seus amigos tinham acabado.

Só que não! Ainda em 2018, a desenvolvedora Lizardcube, em parceria com a Guard Crush Games e a publisher DotEmu, anunciaram que trabalhariam junto com a Sega em Streets of Rage 4, marcando o retorno triunfal daqueles bons tempos em que bater em pessoas na rua era sinônimo de diversão e house music da melhor qualidade. Quase dois anos depois, aqui estamos nós, prontos para a batalha novamente. Mas a espera valeu a pena?

E como valeu, meus amigos… e como valeu.

De volta às ruas da raiva

10 anos depois dos eventos de Streets of Rage 3, a paz de Woody Oak City volta a ser ameaçada pelo retorno do sindicato do crime, agora chefiado por Mr. e Mrs. Y, filhos do há muito derrotado Mr. X. Eles tem a polícia, os políticos e as instituições no bolso, mas isso não é o suficiente: eles estão às vias de executar um plano para dominar as mentes dos incautos cidadãos da cidade.

Diante disso, Axel Stone e Blaze Fielding saem de suas aposentadorias para voltarem às ruas, onde centenas de bandidos do sindicato os esperam. Mas eles não estarão sozinhos. Cherry Hunter, a filha de Adam, e Floyd Iraia, o musculoso discípulo do Dr. Zan, estarão ao lado deles no combate contra o crime.

E assim, as cortinas de uma nova batalha se abrem…

Axel Stone está pronto para mais uma batalha

Visual repaginado

A primeira coisa que se nota em Streets of Rage 4 é o estilo visual adotado, que trocou os sprites do Mega Drive por desenhos feitos à mão. Cada um dos personagens tem animações perfeitamente fluídas e lindas de se ver em todas as suas reações, do golpe especial ao soco tomado no meio da cara.

Os cenários também hipnotizam por suas cores e detalhes, alguns deles escondendo referências discretas aos games anteriores da série. Os inimigos clássicos ganharam uma nova roupagem e há dezenas de adversários novos, todos lindamente animados e perigosamente habilidosos.

Se os games clássicos tinham gráficos “crocantes” que ainda retém um charme retrô, Streets of Rage 4 mais parece a uma pintura, uma verdadeira obra de arte.

Axel e Blaze estão de volta e fazendo o que fazem de melhor

Caindo na porrada

Em matéria de jogabilidade, Streets of Rage 4 continua não somente tão bom quanto os jogos anteriores, mas consegue ser ainda melhor graças a várias novidades muito bem-vindas, que transformam a experiência em algo mais que simplesmente esmagar botões e abre espaço para combates com combos cadenciados e um também um pouco de estratégia. Para começar, o botão para ataques especiais está de volta, e embora ele ainda penalize o jogador reduzindo sua energia a cada uso, ela pode ser recuperada após acertar outros inimigos.

Também há um botão exclusivamente para coletar itens pelo chão, como maçãs e frangos para cura e diversas armas para atacar, poupando o jogador de ter que escolher entre socar um inimigo ou pegar um item. Os inimigos, aliás, estão bem mais espertos, mas ainda tem suas fraquezas: alguns deles brilham em vermelho antes de executarem golpes mais fortes, dando a você a oportunidade de contra-atacar antes que você seja atingido e perca uma quantidade generosa de energia.

Blaze não perdoa ninguém

Agora é possível fazer combos muitos mais elaborados graças à nova física do jogo. Quando se atinge um inimigo com muita força contra uma parede, por exemplo, ele “quica”, ficando de guarda aberta para ataques ainda mais destruidores. Combos aéreos agora também são possíveis, dando ao jogador uma liberdade muito maior na hora de emendar várias sequências seguidas.

Outra novidade muito interessante são as técnicas supremas: pressionando o botão de ataque junto com o de coletar itens, seu personagem executa um golpe devastador, atingindo muito mais inimigos na tela e lhes causando muito mais estrago. Esta técnica não tira energia do jogador, mas tem seu uso limitado, demandando sabedoria na hora de usar.

Tudo isso é conduzido por cutscenes a cada novo estágio, que contam a trama simples, porém empolgante do game.

Os golpes especiais estão de volta, e com algo a mais

Bateu, levou

Não espere que Streets of Rage 4 seja clemente com você. Como era de se esperar, o desafio vai crescendo à medida em que o jogador avança, e cada soco e chute que você toma vai ficando cada vez mais doloroso. E se estiver achando tudo fácil demais, não tem problema: são cinco níveis de dificuldade, que variam do aceitável ao quase impossível de se superar sozinho.

Os estágios estão muito mais longos do que em qualquer outro jogo da franquia. São doze ao todo, e alguns deles chegam a durar de 10 a 12 minutos! Seus adversários vão aparecendo em um número cada vez maior, acompanhados de armas e projéteis de todo tipo, exigindo pensamento rápido, reflexos mais rápidos ainda, muita paciência e um pouquinho assim de sangue frio para não suar no controle de tanta pressão.

Essa dificuldade acima da média mesmo nas opções mais fáceis parece ter sido pensada especialmente para incentivar os jogadores a jogarem em grupo, o que sempre foi um dos pontos mais fortes de Streets of Rage. O multiplayer suporta até quatro jogadores simultâneos localmente e dois via rede. Para quem quer algo mais cooperativo e não quer acertar o amiguinho sem querer, o “fogo amigo” pode ser desativado nas opções.

Outra coisa bacana é a possibilidade de se trocar de personagem a cada fase, fazendo com que as habilidades individuais de cada um sejam melhor exploradas enquanto se descobre qual deles é melhor indicado para um cenário específico.

Axel, Blaze, Cherry e Floyd ensinam uma lição pra bandidagem

O som da violência

Streets of Rage é lembrado principalmente por sua trilha sonora marcante, em especial a do segundo jogo. Logo, uma preocupação maior com esse quesito por parte dos fãs já era algo antecipado.

Para o alívio e alegria de todos, Yuzo Koshiro e Motohiro Kawashima, que compuseram os temas inesquecíveis dos jogos clássicos, foram convocados para participar de Streets of Rage 4. Apesar de terem feito apenas alguns temas, eles não decepcionaram, entregando composições dignas do legado musical da franquia.

Outro reforço na parte musical veio da lendária Yoko Shimomura, responsável pelas trilhas de Street Fighter II, Final Fight e Kingdom Hearts, que também contribuiu para deixar as músicas de Streets of Rage 4 ainda mais dançantes e gostosas de se ouvir.
Toda a trilha sonora foi liderada pelo francês Olivier Derivière, que criou a maioria dos temas ouvidos no jogo.

Cherry e sua inseparável guitarra dão mais um tom musical ao jogo

Voltando para mais

Além do modo história, Streets of Rage 4 ainda conta com outros modos de jogo, fazendo os jogadores voltarem para mais porrada.

Para quem quer uma experiência como nos velhos tempos, há o Modo Arcade, no qual se tem apenas um crédito para terminar toda a história, sem salvar o jogo. Já aqueles que desejam testar sua força contra outros jogadores vão de divertir muito no Modo Batalha, em que você e seus amigos podem se enfrentar por vários cenários até que reste apenas um, fazendo uma alusão ao momento final do game original lançado para o Mega Drive.

Há ainda o Desafio dos Chefões, que nada mais é que o bom e velho Boss Rush, e um menu de extras com várias artes feitas para o game. Lá também há fichas de personagens que detalham o que cada um dos heróis andou fazendo entre o terceiro e o quarto jogo.

Mas o que vai fazer os fãs das antigas voltarem para mais é a possibilidade de se jogar o game inteirinho com os personagens tal qual eram nos games originais, com os sprites antigos. A experiência retrô fica mais completa ainda se a opção de jogar com a trilha sonora clássica dos 16 bits for ativada no menu de opções. E sim, dá para chamar a viatura da polícia para ajudar na hora do aperto!

Dá até para jogar com os sprites clássicos

O veredito

Streets of Rage 4 é, mais que uma declaração de amor à série, uma experiência pensada para um novo público, conseguindo esse objetivo sem desprezar o jogador tradicional que travou verdadeiras batalhas com o controle do Mega Drive nas mãos.

Seja você um guerreiro veterano das ruas da raiva ou um marinheiro de primeira viagem, este game tem o potencial de te divertir por muito tempo, te fazendo suar e vibrar a cada tela vencida. E se você perceber que do nada começou a dançar na poltrona, não estranhe: faz parte da experiência. Sempre fez.

Streets of Rage 4 é um retorno mais que digno para aquela que é considerada por muitos como a melhor série de porradaria franca já feita. Cerre os punhos e se prepare: a cidade precisa de você. E que venha o quinto jogo!

FICHA TÉCNICA

Estúdio: Lizardcube, Guard Crush Games

Distribuidora: DotEmu

Plataformas: Xbox One/PlayStation 4/PC/Switch

Data de lançamento: 30 de abril de 2020

Gênero: Beat’em Up

Modos: Single Player, Multiplayer, Arcade, Boss Rush

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