[CRÍTICA] Desventuras em Série: 2ª Temporada – Quantos traumas são necessários até você quebrar? Eu avisei antes!

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[CRÍTICA] Desventuras em Série: 2ª Temporada – Quantos traumas são necessários até você quebrar? Eu avisei antes!

Por Márcio Jangarélli

Para os corajosos, de coração forte, justiceiros e masoquistas, esta é uma análise da segunda temporada de Desventuras em Série. Em uma tentativa de poupá-lo, caro leitor, este texto NÃO TRARÁ SPOILERS, mas deixo logo o aviso que, se você for inteligente, olhe para o lado, fuja, corra o mais rápido possível e não embarque nesse redemoinho de aventuras grotescas com os jovens irmãos Baudelaire.

Se você não leu ou quer revisitar a nossa crítica da primeira temporada antes de se aventurar na do segundo ano, é só clicar aqui.

Estejam avisados… Mais uma vez.

Imagens: Divulgação
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Janeiro de 2017 trouxe a terrível surpresa de Desventuras em Série, nova série produzida pela Netflix baseada na história desesperançosa de Lemony Snicket, pseudônimo de Daniel Handler.

Brincadeiras à parte, depois da primeira tentativa de adaptação da série de livros lá em 2004, com Jim Carey no papel do Conde Olaf e algumas desventuras na produção, a série trouxe uma das adaptações mais fiéis e divertidas que a indústria já ofereceu em suas várias tentativas de transpor um livro para um formato live-action.

Essa foi uma tarefa estupenda, visto que Desventuras em Série, mesmo não sendo um Game of Thrones da vida em tamanho, é extremamente fantástico, possui uma estética única e treze entradas para contar sua trama completa.

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No caso, a produção escolheu dar dois episódios para cada livro, nomeando os capítulos com Parte 1 e Parte 2, que, na verdade, se parecem mais como um filme para cada obra. Mas como não é exatamente um longa, existem outras possibilidades aqui para preencher espaços que, em um filme, criariam momentos arrastados quando o arco do livro é enxuto. Inclusive, a série foi ousada nesse ano e explorou coisas que lendo você nem sonharia que existiam nesse momento da aventura.

Essa fórmula de mini filmes seriados conquistou o público e permitiu que a segunda temporada viesse. Se na primeira foram adaptados “Mau Começo”, “A Sala dos Répteis”, “O Lago das Sanguessugas” e “Serraria Baixo-Astral”, agora foi a vez de uma pentalogia que deu um novo ar para a trama: “Inferno no Colégio Interno”, “O Elevador Ersatz”, “A Cidade Sinistra dos Corvos”, “O Hospital Hostil” e “O Espetáculo Carnívoro”.

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Uma coisa que tem que ficar clara - e se você não se lembra, mesmo depois de ter visto a primeira temporada, é bom recordar agora, pois as coisas ficarão ainda mais acentuadas - é que essa não é uma história tradicional e que provavelmente não deve agradar todo mundo.

Isso se deve ao fato da adaptação se manter fiel ao estilo do próprio livro, que é uma fantasia infantil tragicômica, e essa identidade, que torna Desventuras única, também pode deixar muita gente se perguntando “o que é isso que eu estou assistindo?

Vai de você conhecer o produto que está consumindo e a sua proposta.

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Como dito, a segunda temporada acentua ainda mais essa característica da série - o que é algo muito positivo. Se na primeira temporada nós estávamos conhecendo esses personagens e esse mundo, agora que ele nos foi apresentado, a produção se sentiu confiante em ir cada vez mais fundo em sua loucura.

O maior exemplo disso é como a Sunny, a irmã Baudelaire bebê, é trabalhada na temporada. Às vezes você vai se perguntar, “Será que estou assistindo uma cena cortada de Pequenos Gênios?” - aquele filme terrível sobre bebês superinteligentes - mas não, essa é a história mesmo. E nem digo isso de uma maneira negativa.

Esses momentos ‘fora da casinha”, infantis, são o tempero principal da produção. No fim das contas, Desventuras, assim como no livro, pinta uma caricatura grotesca do mundo adulto, de como, em grande parte, perdemos um pedaço de nós mesmos envelhecendo, que nos tira a curiosidade e o prazer sobre as coisas que nos cercam.

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O que distingue a segunda temporada da primeira, além de ser mais maluca, é que ela traz uma mudança extremamente bem vinda na dinâmica da série. Vejam bem: um ponto de reclamação do primeiro ano foi a história ser muito repetitiva, um ciclo que se seguiu até o fim. Os irmãos pulam de guardião para guardião, perseguidos pelo Conde Olaf e suas tramoias e, bom, é isso.

Porém, esses são os primeiros livros também, não existia um escape para a produção. A primeira temporada também traz muita introdução de conceitos para esse universo, esses personagens tão peculiares e etc, algo necessário.

No segundo ano, no entanto, as coisas mudam muito. Não drasticamente; alguns elementos se transformam gradualmente, mas o público é convidado à emergir em uma história além do incêndio na casa dos Baudelaire e da perseguição do Conde.

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A primeira parte, “Inferno no Colégio Interno”, ainda é bem familiar ao primeiro ano, criando uma boa transição entre a temporada passada e o novo conto. Mesmo que já traga novos elementos, como os jovens misteriosos que estavam sentados atrás dos Baudelaire no final da temporada passada, ela ainda tem coisas bem características que se encaixariam tranquilamente no primeiro ano.

Temos uma mudança mais palpável a partir de "O Elevador Ersatz"; a história amadurece e fica mais obscura, assim como o futuro do trio Baudelaire. Quanto mais seguimos, mais sentimos a posição dos protagonistas sendo mudada. "A Cidade Sinistra dos Corvos" é um ponto crucial para entender essa transformação. O próprio jogo com o Conde muda, em certo momento, e isso enriquece ainda mais a aventura.

É interessante pontuar o quanto a nova temporada destaca que as “Desventuras em Sérienão se tratam apenas das desventuras dos jovens Baudelaire, mas outras histórias trágicas vão se desenrolando e podemos entender o próprio caminho do Olaf como uma desventura em série… de certa forma.

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Também, vale citar que a série está se arriscando em explorar histórias dos livros que não são tão claras, o que a deixa ainda mais rica, principalmente se você é fã da obra literária. Isso vem do próprio autor de Desventuras, Daniel Handler, ser um dos responsáveis pela produção.

Essa é uma afirmação polêmica, mas arrisco que em alguns pontos, é possível dizer que a série da Netflix pode terminar mais completa e concisa que os próprios livros, que deixaram várias perguntas no ar.

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Isso não significa que a versão da Netflix de Desventuras seja completamente clara e livre de erros; ela só está em um caminho menos maluco ou confuso que o literário, até porque existem liberdades sendo tomadas e é uma mídia que permite uma construção diferente. Em série, a obra de Lemony Snicket ainda continua um tanto difícil de acompanhar.

Algo negativo e que prejudica não o andamento, mas o entendimento da obra como um todo, é a rapidez como certas situações chave para a trama são tratadas por motivos de humor, enquanto se gasta um tempo bem grande construindo pequenos dramas apenas pela identidade da produção. Talvez balancear isso seja ideal para a temporada final entregar um fechamento excelente para a história.

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No entanto, essa já é uma história excelente - ela pode melhorar, apenas. Os irmãos Baudelaire estão mais conectados que nunca nesse ano e os atores se entregam totalmente aos papéis. Vale citar que as motivações deles mudam durante a trama - eles não são mais apenas órfãos fugindo de um vilão - seu mundo vira de cabeça para baixo DE NOVO e é sensacional vê-los enfrentando uma situação completamente diferente.

E o Conde Olaf e sua trupe estão mais insanos que nunca, ainda que sua violência esteja sendo tratada de forma diferente que no primeiro ano. Uma observação aqui: uma crítica sobre a primeira temporada que rodou por aí foi sobre o quão “pesada” ela era por se tratar de uma adaptação de um livro infantil. A produção parece ter levado isso em conta e diminuiu a violência, mas, ao mesmo tempo, aumentou os trocadilhos e piadas adultas. Curioso, mas divertido.

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Aliás, vale citar que um dos pontos mais altos dessa temporada fica com o Conde Olaf e um novo integrante do time dos vilões. Assim como no primeiro ano, Neil Patrick Harris fez desse o SEU papel e agora nós estamos conhecendo mais e mais camadas do Conde - deixando esse personagem ainda mais incrível.

Outro destaque fica para a participação do Nathan Fillion na temporada, o Jacques, e o narrador, que toma a atenção desde o primeiro ano e se torna cada vez mais interessante, o Lemony Snicket interpretado pelo Patrick Warburton. Também, a nova integrante do elenco, Sara Rue, interpretando Olivia Caliban, deu um show no papel e merece toda a atenção possível.

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Você foi avisado um ano atrás e digo novamente: para aqueles de coração e espírito fraco, aqueles que preferem manter sua sanidade e paz de espírito, aqueles que gostam de dormir sem pesadelos e aqueles que não são masoquistas, olhem para longe e fujam dessas desventuras. A história dos jovens Baudelaire é uma sequência interminável de tristezas e infortúnios.

Mas para aqueles que querem continuar, corajosos, e assistir uma ótima série, vão em frente, pois a segunda temporada de Desventuras em Série é tão boa - ou ainda melhor - que a primeira. Mudanças são in. Plot twists são in. Desistências de série são out. Terceira temporada? MAIS QUE IN! Esse era o movimento necessário que a série precisava para se manter nos trilhos até sua grandiosa desventura final: consistente, divertida, com músicas e visuais para ficar na cabeça e personagens sensacionais. Tão triste se animar com algo tão horrível…

Como somos um site IN, Desventuras em Série fecha com 4,5 salmões do Café Salmonella. E mais um ano inteiro com a música de abertura na cabeça.