[CRÍTICA] Desventuras em Série – Só leia se estiver preparado para um grande trauma!

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[CRÍTICA] Desventuras em Série – Só leia se estiver preparado para um grande trauma!

Por Márcio Jangarélli

Encorajo que todos aqueles de coração fraco e que não foram atingidos pela depressão cinza da vida desviem o olhar desse post e leiam algo diferente nesse site, com mais esperança e felicidade. Mas, se você está entre os masoquistas que querem saber nossa opinião sobre essa sequência de episódios traumáticos, aqui está nossa crítica.

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Desvie o olhar. Fuja para o mais longe que puder. Desventuras em Série chegou, na primeira sexta-feira 13 de 2017, pela Netflix, trazendo choro e ranger de dentes com a história dos irmãos Violet, Klaus e Sunny Baudelaire. 13 anos depois da primeira tentativa de adaptação dessa saga, já se pode adiantar: A série não poderia estar melhor e mais cabalística.

A sequência de infortúnios apresentada é terrivelmente linda – dentro de seus limites. Todo o visual, a adaptação, as atuações, a trilha-sonora e a narrativa dessas Desventuras são o Mau Começo que essa franquia pedia.

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É uma transposição de trama literária do melhor nível, com o roteiro percebendo até onde poderia chegar sem cair em uma caricatura, exagerando onde deveria exagerar, se contendo onde deveria se conter.

Para os saudosistas dos livros de Lemony Snickettambém conhecido, na boca pequena, como Daniel Handler – a produção acerta em cheio. Até mesmo o estilo narrativo da obra foi traduzido para a série.

O autor fictício conta e participa da trama, interpretado brilhantemente por Patrick Warburton, na melhor forma “narrador de documentários antigos de suspense”.

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Um Mau Começo”, “A Sala dos Répteis”, “O Lago das Sanguessugas” e “Serraria Baixo-Astral” foram os quatro primeiros contos dessa nova jornada seriada. Cada uma das obras é bem representada e bem adaptada.

Com dois episódios para cada história, todos os elementos importantes são levados para a tela junto vários relances de tramas que ainda estão por vir – como os túneis, a família Quagmire, o atirador de arpões, a sociedade secreta, etc. Nem nos livros essas coisas foram apresentadas tão cedo. Esse é um dos maiores acertos: a construção da saga como um todo.

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Desventuras em Série não tem medo de ser absurda – e não deveria, afinal, o material fonte é completamente maluco. E infantil.

Essa é uma história infantil e, por mais que o público mais velho ame – e essa fatia seja levada muito em conta – a série é como uma animação ou um filme infanto-juvenil antigo.

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Uma das melhores coisas sobre o projeto: como a produção conseguiu se virar para transpor algo tão fantasioso para uma mídia que não tem todos os recursos do cinema. A solução foi apostar no lado mais insano da história, criando um visual simétrico, contrastante e, principalmente, surreal.

As formas geométricas são exploradas até no símbolo de Olho do Conde Olaf, lotado de linhas, curvas e nuances. Então nos apresentam, por exemplo, a casa da Juíza Strauss, toda delicada, simétrica e colorida, para depois agredir o público – assim como os pobres órfãos – com o caos da morada do Conde.

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E o maior acerto de todos fica com o elenco. Perfeitos desde o Conde Olaf, do Neil Patrick Harris, fiel ao original, miserável, dramático e cinza, até o trio de protagonistas, que não perdem o brilho e ficam bem equilibrados o tempo todo. Essa Violet é imponente, esse Klaus é centrado e a Sunny sempre divertida e surtada.

O legal é que até a trupe do Conde ganhou camadas dessa vez. Além deles, entre os destaques estão o Sr. Poe, com uma roupagem diferente, mas, ao mesmo tempo fiel ao livro, o Dr. Montgomery, agora um ítalo-latino extremamente peculiar e otimista e a Tia Josephine que, mesmo interpretada por Meryl Streep nos cinemas, foi por Alfre Woodard, que ficou mais profunda, louca e interessante.

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Sim, a série tem seus problemas. Talvez, por muita gente ter visto a adaptação anterior, não houve aquele sentimento de “algo novo” – às vezes dá a sensação de uma revisão melhorada para, aí sim, entrar na história. Também (e não é um problema do programa em si) a trama parece repetitiva, mas isso vem dos livros.

É uma adaptação realmente fiel do material fonte e lá essa dinâmica de troca de tutores, desgraças e mortes é uma constante – assim como em Harry Potter, até certo ponto, tudo acontece seguindo o ano letivo de Hogwarts, nunca bagunçando essa estrutura.

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Os efeitos visuais, por mais que tenham sido bem utilizados, também se mostram fracos em certos momentos, principalmente com a Sunny.

Dá para entender que o orçamento ali não é o maior do mundo, mas quando se vê soluções tão geniais em algumas cenas e, em outras, algo que parece mal feito, fica a dúvida sobre o esforço empregado para deixar tudo 100%.

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Não podemos terminar sem comentar sobre a trilha-sonora. Direto na abertura, temos Neil Patrick Harris entoando a viciante música tema, pedindo para que desviemos o olhar para algo mais agradável. Não há algo mais agradável para se assistir no momento, garanto.

Toda a produção é envolta em uma trilha meio circense, espalhafatosa, que casa perfeitamente com a proposta. Ainda, a primeira temporada encerra com um ótimo musical sobre o futuro. Isso deixou um gosto de “poderiam ter usado esse recurso mais vezes”.

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Se você chegou até aqui, já sabe que, por mais intensa, terrível, violenta, cheia de sanguessugas, técnicos de refrigeradores, víboras incrivelmente mortíferas, horrores e drama que essa série seja, o resultado final é sensacional. Engula essa produção como as sanguessugas do Lago Lacrimoso engoliram aquele corpo misterioso –*sem spoilers.

Por mais que o lema aqui seja não olhar, assistir Desventuras em Série é a melhor-pior coisa que você pode fazer agora.

O que achou da série? Concorda com a nossa opinião? Ansiosos para a próxima temporada? Não esqueça de comentar!