X-Men 97: Demitido pela Marvel, criador quebra silêncio para revelar inspirações trágicas de novo episódio

Capa da Publicação

X-Men 97: Demitido pela Marvel, criador quebra silêncio para revelar inspirações trágicas de novo episódio

Por Gabriel Mattos

Atenção: Alerta de Spoilers!

Em sua primeira declaração pública após a repentina demissão pela Marvel Studios, Beau DeMayo, criador da nova série X-Men ’97, divulgou em seu perfil pessoal no X (Twitter) uma emocionante explicação sobre as tragédias da vida real que inspiraram o mais recente episódio da animação.

A história por trás de X-Men ’97

De acordo com o roteirista e produtor executivo, o ataque terrorista repentino em Genosha foi construído como uma analogia a grandes atentados do mundo real, como a queda das Torres Gêmeas em Nova Iorque, no dia 11 de setembro de 2001.

Porém, por se tratar de uma ilha apenas com população mutante, o ataque também traça paralelos com ataques motivados por ódio à minorias, como o tenebroso massacre da boate Pulse, que ocorreu em 2016 em Orlando. Demayo frequentava o clube na época. A experiência ficou marcada em seu coração e foi traduzida na forma do quinto episódio de X-Men ’97“Lembre-se disso”.

A declaração de Beau DeMayo

Confira a declaração na íntegra:

“[Tenho recebido] muitas perguntas e por isso quebrarei momentaneamente o silêncio para responder. O Episódio 5 foi a peça central quando propus esta série para a Marvel em novembro de 2020. A ideia era fazer com que os X-Men espelhassem a jornada que cada um de nós, que cresceu com a série original, vivenciou desde que éramos crianças nos anos 90. O mundo era um lugar aparentemente mais seguro para nós, onde um personagem como a Tempestade comentava como o racismo baseado na cor da pele era “estranho” em A Volta do Fanático. Na maior parte do tempo, para as nossas mentes jovens, o mundo era um lugar simples de certo e errado, onde questões sobre identidade e justiça social tinham respostas relativamente claras e diretas.

 

Então aconteceu o 11 de setembro e o mundo se voltou contra si mesmo. As coisas não eram mais tão seguras. Os movimentos populistas de base começaram a surgir em todo o mundo enquanto uma nação inteira lutava para lidar com o trauma coletivo e uma fratura no coração de toda minoria. Efeitos que ainda sentimos hoje e só foram exacerbados por mais traumas coletivos como a COVID ou várias crises econômicas.

 

Para mim, pessoalmente, o 11 de setembro também foi quando saí do armário para minha família e percebi que nem todos me aceitariam. Foi quando entrei na faculdade e percebi que certos grupos me evitavam, ou que uma barbearia em Tallahassee se recusava a me atender porque não “cortavam cabelo de pretos”. A realidade que Jubileu descobriu no episódio 4 tornou-se muito real e assustadora. Isso aconteceu com muitas pessoas. Tínhamos filhos e conseguíamos empregos de alto risco. De repente, não era o suficiente para sobrevivermos. Tínhamos responsabilidades e pessoas cuja sobrevivência dependia do cumprimento dessas responsabilidades. Estávamos crescendo…

 

Se você era como eu, você assistia os episódios antigos da animação original em busca de conforto e de voltar para tempos mais fáceis. Só Deus sabe o quanto isso me salvou durante a COVID. Mas assim como Roberto alertou Jubileu, existe um certo perigo em viver no passado e se apegar à nostalgia. É perigoso não superar quem achamos que somos, como Ciclope e Jean estão aprendendo. Nos deixa estagnados e perigosamente alheios a um futuro que não previmos.

 

Sim, parecia que a história de Gambit estava seguindo uma direção específica. O cropped foi escolhido para fazer você gostar dele. Ele tirar a camisa foi intencional. Tem um motivo para ele ter falado para a Vampira que qualquer idiota sofreria na mão dela em uma dança, mesmo que não fosse ele. Se eventos como 11 de setembro, Tulsa, Charlottesville ou a boate Pulse nos ensinaram alguma coisa, é que muitas histórias chegam ao fim cedo demais. Eu dançava no Pulse. Era a minha boate de sempre. Tenho tantas ótimas lembranças de seu incrível salão branco. Era, como Genosha, um espaço seguro para mim e para todos como eu dançarmos, rirmos e sermos livres. Pensei muito sobre isso ao elaborar esta temporada e este episódio, em como a comunidade gay em Orlando se recuperou desse evento.

 

Como muitos de nós, que crescemos assistindo ao desenho original, os X-Men foram duramente atingidos pela realidade de um mundo adulto e inseguro. A vida aconteceu com eles. E eles, tal como nós, terão de decidir a que partes de si próprios vão se agarrar e a que partes vão abandonar, para fazer aquilo que eles têm dito que a humanidade deveria fazer: enfrentar um futuro incerto que nunca pensaram que ia acontecer. Como Trask disse ao Ciclope no episódio de estreia: “você não tem ideia de como é ser deixado para trás pelo futuro”. Agora os X-Men têm e, como cada um de nós, eles terão que avaliar se este é um momento para justiça social — ou como Magneto pregou em seu julgamento, se é um momento para cura social.”

Novos episódios de X-Men ’97 estreiam toda quarta-feira no Disney+.

Leia também: