As Crônicas de Nárnia: Por que o que acontece com Susana no final da história é tão polêmico?

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As Crônicas de Nárnia: Por que o que acontece com Susana no final da história é tão polêmico?

Por Junno Sena

Muitos livros são famosos por ganharem novas percepções ao longo dos anos, principalmente quando tratamos de literatura infanto-juvenil e personagens infantis que foram criados por adultos. Esse é o caso de As Crônicas de Nárnia e uma de suas personagens mais polêmicas, Susana Pevensie que, ao final do livro, é banida do paraíso, sendo deixada para trás no “mundo real”.

As Crônicas de Nárnia é um dos maiores clássicos do Reino Unido. Escrito pelo irlandês C. S. Lewis, os livros seguem a história dos irmãos Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia Pevensie que, através de um antigo e misterioso guarda-roupa, chegam a Nárnia.

Um mundo que enfrenta um terrível e prolongado inverno imposto pela falsa rainha do país, Jadis, a Feiticeira Branca. Ao longo dos sete livros, seguimos os quatro irmãos junto de Aslam, o Grande Leão, enfrentando diversos perigos pelo bem de Nárnia.

Mas, em A Última Batalha, a aventura dos quatro chega ao fim quando Aslam decreta o fim do reino mágico, fazendo as estrelas descerem do céu e o sol se apagar. Assim, todos os humanos e criaturas boas e fiéis ao leão vão para o paraíso conhecido como País de Aslam. Exceto por Susana, que havia se esquecido de Nárnia por causa de coisas materiais.

O que acontece com Susana?

Autores como Neil Gaiman trataram do “Problema de Susan”

Ao fim da saga, Susana é descrita como não sendo mais “amiga de Nárnia” e que agora se “interessa apenas em nylon, batons e convites para festa”. Além disso, é dito que:

“[…] ela passou todo o seu tempo na escola querendo chegar a idade que tem agora e ela irá desperdiçar o resto da vida tentando se manter nessa idade. Seu objetivo é correr para o momento mais ‘bobo’ da vida e permanecer lá o máximo que conseguir”.

Não é difícil entender por que o final da personagem é polêmico. Durante todos os livros, Susana esteve dividida entre o mundo real e ajudar seus amigos de Nárnia e, mesmo assim, a garota é “deixada para trás”.

O final da personagem se tornou foco de diversos debates — similar ao questionamento se Capitu traiu ou não Bentinho em Dom Casmurro, livro de Machado de Assis. Autores como Neil Gaiman tentaram dar uma nova perspectiva a personagem em contos como O Problema de Susan, presente em Coisas Frágeis Vol. 1.

“[…] Todas as outras crianças vão para o Paraíso, e Susan não pode ir. Ela não é mais amiga de Nárnia só porque gosta demais de batons, collants e convites para festas. Até falei com minha professora de inglês sobre isso, sobre o problema de Susan, quando eu tinha 12 anos”, diz a personagem Greta no conto O Problema de Susan.

O que significa o final de Susan?

Susan ao lado de sua irmã, Lúcia, na adaptação de As Crônicas de Nárnia

Deixando de lado todas as questões materialistas apontadas por C. S. Lewis, Susan representa o fim da infância. Ao longo dos livros do autor, vemos esse constante embate entre os membros mais novos da família Pevensie, Edmundo e Lúcia, contra os membros mais velhos, Pedro e Susana.

Esse conflito se debruça entre “crescer” e “continuar acreditando em Nárnia”. Ao fim, Susana decide seguir com o “mundo real”, renegando o paraíso instaurado por Aslam.

Mas, para entender o final da personagem, também é preciso compreender que As Crônicas de Nárnia é um livro mergulhado em cristianismo. Desta forma, negar o paraíso é não aceitar uma vida cristã e se deixar levar pelos pecados da humanidade. Nesse caso, sendo a soberba, avareza e luxúria.

Entre tantas interpretações, uma que permanece é que o fim da história de Nárnia não foi o fim de Susan. Pelo contrário, mesmo que Lewis tenha escrito que a garota mergulhou em soberba, a verdade é que ainda houve muito tempo para que a mesma seguisse um novo caminho.

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