Review: Multiversus vive pelo fanservice de ver grandes personagens da Warner saindo na mão

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Review: Multiversus vive pelo fanservice de ver grandes personagens da Warner saindo na mão

Por Arthur Eloi

Muito por conta dos filmes de heróis, universos compartilhados já não são mais o suficiente: oficialmente entramos na era do multiverso da cultura pop. Para os não iniciados, a ideia é um espaço em que diferentes personagens possam interagir em um terreno neutro, que respeita as particularidades de suas origens e franquias.

Depois de alguns exemplos no cinema, o conceito agora cresce nos games – e rende o excelente Multiversus. O título da Player First Games é, essencialmente, Super Smash Bros., mas trocando os personagens da Nintendo pelos rostos mais conhecidos das produções da Warner Bros., discutivelmente o maior estúdio da história do cinema e da TV.

Qual a justificativa para a reunião de nomes que vão do Salsicha de Scooby-Doo ao Batman? Pouco importa, ainda não há modo história ou explicações. O que importa é que eles querem sair na mão em partidas tradicionalmente jogadas entre duas equipes de dois lutadores, em que o objetivo é derrubar seus oponentes das arenas, ou então espancá-los até que fique fácil de expulsá-los.

Há espaço para mais games de porradaria caóticos, e Multiversus conquista seu território com jogabilidade simples e partidas frenéticas. Tudo acontece praticamente com dois botões – um de ataques e outro de especiais -, cujo efeitos variam quando combinados com qualquer das quatro direções. Além disso, há um botão de esquiva e outro de pular, e é só isso.

Multiversus é, descaradamente, um clone de Super Smash Bros. – e um dos melhores nesse quesito.

Começar a trocar socos e pontapés não é nada de outro mundo, e algo que o título aprendeu bem com a franquia da Nintendo é o enorme potencial em um game que qualquer um pode se divertir rapidamente, mas com técnicas que exigem mais prática para serem dominadas.

Pelos controles serem iguais para todo o elenco, há incentivo em explorar os vários personagens, sabendo que entender o esquema básico já te dá o suficiente para não ser massacrado nas arenas virtuais. Os lutadores até são definidos em classes tipo Pugilista (para os que gostam de descer socos sem dó) ou Magos (para os que invocam magias e projéteis), mas a diferença não é tão notável na prática, e sim fica para o jogador conhecer os golpes e saber como utilizá-los em diferentes situações.

Sem amarras de qual personagem é mais acessível, Multiversus brilha por permitir que o jogador escolha por afinidade, e dá destaque para a mistura completamente alucinada de personagens. Não importa quantas horas de jogo você tenha, ainda é um pouco impactante ver Arya Stark, de Game of Thrones, saindo na mão com LeBron James, astro da NBA (e de Space Jam: Um Novo Legado, lembra disso?). Ou então a Arlequina espancando o garoto protagonista de Steven Universo com um taco de baseball, imagem que muito possivelmente configura um crime de ódio.

A aleatoriedade de ver personagens tão distintos caindo na porradaria é um dos charmes de Multiversus.

A junção de rostos inusitados desperta o fascínio do fanservice que a era do multiverso tanto mira em alcançar, e essa sensação é aumentada pelo alto nível de atenção aos detalhes de cada lutador. Explorar o elenco é bastante satisfatório quando cada os personagens não se parecem deslocados ali, com golpes e estilos que reproduzem com maestria características de suas obras originais. Um dos ataques aéreos de Salsicha brinca com a “corrida no ar” que ele e Scooby dão quando vão fugir de um monstro. Tom & Jerry sequer atacam os demais, e apenas acabam acertando os outros na sua eterna perseguição, em animações genuinamente impressionantes de ver em combate.

Esse carinho todo se estende aos extras, como avatares de perfil, temas e, claro, skins alternativas que trazem versões queridas dos fãs, tipo o visual cartunesco do Batman em sua tão famosa série animada. Ao público brasileiro, moldado por décadas de obras da Warner dubladas, é ainda mais especial ouvir as mesmas vozes dos filmes e desenhos no jogo, como o Superman de Guilherme Briggs, ou então Duda Ribeiro como o Homem-Morcego.

Multiversus acerta também em trazer as vozes icônicas de seus famosos personagens.

Multiversus funciona brilhantemente por sua execução simples e acessível, que rende partidas viciantes e altamente frenéticas. É possível passar tardes inteiras enfrentando todo tipo de oponente na internet ou localmente, apenas alternando entre os lutadores para dar um ar de variedade. Há quem sentirá falta de um modo história, que supostamente está a caminho, mas o game funciona muito bem sem isso.

No estado atual, Multiversus atinge o sonho de todo jogo grátis de cauda longa: uma estreia popular, com uma base sólida e a promessa de mais novidades no futuro. Se você já curtiu outra obra do tipo, há todos os vícios de um título que precisa ser relevante (vulgo ter uma grande quantidade de jogadores pagantes) à longo prazo, como Passes de Batalha e avalanches de itens desbloqueáveis por esforço ou dinheiro. Se você não pretende abrir o bolso, se prepare para ralar para juntar as moedas virtuais necessárias para desbloquear lutadores, ou então se contentar com as três opções da rotação gratuita, alternada a cada duas semanas.

Multiversus é grátis, mas se prepare para passar vontade de comprar os lutadores adicionais e suas ótimas skins alternativas.

O motivo que vai te fazer correr atrás desses pontos, ou então desembolsar o valor dos personagens, é fanservice. Não há nada de ousado ou grandioso em Multiversus, nenhuma jogabilidade revolucionária ou particularmente complexa. É um clone de Smash Bros., altamente divertido sim, mas cujo real apelo é ter alguns dos rostos mais icônicos da cultura pop. Quem vai dizer que isso não é o suficiente? Isso é muito diferente do que faz a franquia da Nintendo?

O game, que marca o primeiro trabalho do estúdio, não ganha pontos por originalidade, mas supera qualquer acusação de cópia por se tratar de um estilo de jogo de luta que não é muito explorado além de alguns títulos indie ou fora da plataforma da Nintendo. Há espaço para outro nome de peso, e Multiversus tem todas as cartas na mão para se tornar esse adversário formidável.

Nota: 8.5 de 10.

Multiversus já está disponível gratuitamente no Xbox One, PlayStation 4, PC, Xbox Series X | S e PlayStation 5. Há crossplay entre todas as plataformas. A review foi feita com base nas versões de ambas as gerações de Xbox, com acesso à todos os personagens liberados pela assessoria da Warner Play.

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