Review Ms. Marvel 1×04: De volta às origens

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Review Ms. Marvel 1×04: De volta às origens

Por Leo Gravena

Ms. Marvel prova que diferente do esquema de pirâmides formado pelas outras produções do MCU para o Disney+, essa é uma série que sabe que é uma série, age como tal, utiliza-se da melhor forma possível do formato e ainda por cima traz elementos novos para esse universo com uma história simples, divertida e tão importante quanto Kamala Khan merece.

Em “De volta às origens” acompanhamos Kamala e sua mãe viajando para Karachi, e lá ela acaba descobrindo mais sobre as origens de sua família, seus poderes e dos Clandestinos. Esse é um clássico episódio de transição, servindo para avançar a trama ao mesmo tempo em que entrega várias das respostas que ainda pairavam no ar – tudo isso no meio de uma viagem.

Kamala Khan conhece Kareem (Aramis Knight), o Adaga Vermelha

E é aqui que Ms. Marvel me ganhou completamente. Todas essas respostas poderiam ter sido dadas em uma conversa de celular com a avó da jovem, ou de alguma outra forma que certamente faria sentido, mas a série aproveita a oportunidade para ser e fazer muito mais do que apenas outra história de super-heróis.

Em nenhum outro local do MCU seria possível falar de uma maneira tão direta e simples sobre a Partição da Índia, como esse evento moldou e é importante para tantas pessoas até hoje, sem falar em uma belíssima trama sobre relações entre três gerações de mulheres completamente diferentes da mesma família.

Sim, o episódio mostrou poderes, teve uma cena de perseguição excelente e com qualidade no meio de um mercado de rua que deixaria qualquer pessoa que trabalhou na produção de Cavaleiro da Lua chocada e também apresentou personagens novos e importantes, tudo isso em um simples episódio fechado e “clichê”.

É aqui também que já conhecemos o Adaga Vermelha, ou os Adagas Vermelhas, que explicam mais para Kamala sobre os poderes dela e sobre os planos dos Clandestinos; os vilões aparecem apenas para lutar e entregam cenas muito boas, com ótimas coreografias e momentos divertidíssimos. O grupo, contudo, está com um membro a menos, já que Najma, a líder, deixou Kamran nos Estados Unidos depois deles conseguirem escapar do Controle de Danos.

O traje de Ms. Marvel está ficando pronto!

Quando falamos de séries de TV, um elemento muito importante e pouco compreendido é a necessidade de tropos narrativos que formam os ditos episódios. Todo episódio tem um começo, meio e fim (e o final pode ou não ter um gancho para o seguinte), mas até Ms. Marvel as séries da Marvel Studios no Disney+ simplesmente não entendem o formato de série… não entendiam.

Se isso vai continuar ou não, aí é algo para o futuro, mas no presente meu conselho é aproveitar semanalmente essa série que não esconde que é um seriado e nem tenta ser algo que não é. Aqui tivemos todos os tropos que boas séries adolescentes trabalham em um momento ou outro: dramas familiares, viagens de autodescoberta e até mesmo um inimigo que acaba se tornando um aliado (ou até algo a mais).

Enquanto os tropos não são considerados clichês, muitas pessoas confundem esses conceitos, porém em Ms. Marvel fica claro que Bisha K. Ali sabe exatamente o que está fazendo com tudo isso: uma história de super-herói adolescente que não tem medo de ser teen. Toda essa trama também funciona muito bem como uma apresentação simples, direta e bastante pontual de Kamala Khan nesse grande universo cheio de personagens diferentes.

Ms. Marvel e o Adaga Vermelha prontos para lutar contra os Clandestinos

Contrária aos outros heróis “adolescentes” apresentados até agora no MCU, Kamala não surge já sabendo tudo ou lutando contra o Capitão América na Alemanha no meio de uma briga de rua cheia de super-heróis. E mesmo em seu “episódio clichê” de viagem e autodescoberta, a produção entrega exatamente aquilo que foi prometido – é nos momentos em que está comendo balas com sua mãe ou aproveitando uma fogueira e violão na praia que a personagem tem tempo e um respiro para mostrar que ela é mais do que uma máquina de lutar com duas cenas cômicas enfiadas no meio.

Com dois episódios para o final, a sensação que fica após esse quarto capítulo não é que não vai dar tempo de concluir tudo, nem de que enrolaram a trama para caber em um padrão pré-determinado – cada momento que está sendo mostrado, cada uma das tramas e dos eventos individuais de cada episódio serve para adicionar ainda mais à personagem.

Desde a primeira metade de Wandavision, Ms. Marvel é a única que consegue passar a sensação de que realmente estamos vendo uma série e não um filme que foi picotado em partes e remendado, fingindo que é um seriado. Acredito, principalmente, que isso se deve ao quão simples e isolada toda a história da jovem está sendo.

Sim, mesmo com uma grande explosão e a destruição de todo o mundo sendo um perigo iminente, a trama aqui é sobre a Kamala, que é uma fangirl dos Vingadores e possui poderes, não a de “Kamala que está no Universo Cinematográfico da Marvel e em breve irá encontrar a Capitã Marvel, mas antes disso você deve assistir à série dela para entender o que os Kree tem de ligação com essa outra raça que conhece os Skrull e séculos atrás foi ligada aos celestiais através de um ser Nexus e também de Howard, o Pato”.

Momento mais leves de Ms. Marvel é o que tornam a série tão especial

Obviamente, esse é o Universo Cinematográfico e tudo está ligado – não que isso seja ruim, mas é fácil notar o quão limitador é para vários desses criadores ter que fazer histórias que estão tão conectadas a coisas que vão ocorrer apenas daqui a três ou cinco anos – mas (até o momento), Ms. Marvel consegue fugir muito bem dessa maldição; ao mesmo tempo em que a produção é cheia de referências, imagens, pôsteres e citações, ela nunca fica presa apenas a isso e consegue construir sua própria história em um canto completamente ignorado do MCU até esse momento: uma aventura adolescente confortável.

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