Review: Live A Live é o remake perfeito de uma obra-prima esquecida

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Review: Live A Live é o remake perfeito de uma obra-prima esquecida

Por Márcio Jangarélli

Estamos na era dos remakes, remasters e pseudo-remakes. Metade dos grandes games lançados no ano são, de uma forma ou outra, a retomada de alguma franquia ou ideia do passado (às vezes nem tão distante assim). Mas, independente da discussão em torno do modelo atual da indústria, é indiscutível que alguns jogos merecem ser revisitados. Live A Live, novo lançamento do Nintendo Switch, sem dúvidas está entre eles.

Mesmo sendo quase tão antigo quanto Chrono Trigger e Tales of Phantasia, é provável que você nunca tenha ouvido falar desse título, visto que é um JRPG de Super Famicom (o SNES nipônico) que nunca foi lançado fora do Japão. Até os mais ferrenhos fãs do gênero e da Square devem ter pouca familiaridade com ele.

Tive o prazer de testar o remake de Live A Live, produzido em tecnologia HD-2D, e já adianto que é um dos games mais surpreendentes, inteligentes e corajosos que já joguei. Foi direto para minha lista de favoritos. Escolha uma vida para viver e venha comigo conhecer mais sobre essa obra-prima esquecida da Square.

FICHA TÉCNICA

Lançamento: 22 de Julho de 2022

 

Desenvolvedora: Square Enix

 

Diretor: Takashi Tokita

 

Compositora: Yoko Shimomura

 

Gênero: JRPG tático

 

Modo: Single Player

 

Plataforma: Nintendo Switch

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Viva sete (ou oito) vidas!

Live A Live é o que qualquer game deveria aspirar ser. Não preciso nem entrar nos méritos de como o remake HD-2D foi feito para dizer isso com certeza. É um título que tem a coragem de brincar com o jogador, usando narrativas e formatos extremamente criativos, que não vemos muito mais na indústria hoje. Isso em um jogo de 1994, de quase três décadas atrás. Os criadores fizeram uma aposta nesse título que pode não ter pago em uma franquia, mas que desenhou os moldes de tantos outros clássicos.

Este game é da autoria de Takashi Tokita, diretor por trás dos lendários Parasite Eve e Chrono Trigger – além de figurar na produção de vários Final Fantasy e outros clássicos da Square. Na verdade, é seu debut no papel de diretor e é possível notar, mesmo no remake, como foi em Live A Live que várias das assinaturas do autor nasceram.

Mas como Live A Live funciona? Ao iniciar, você precisa escolher uma história para acompanhar. São 7 personagens, cada um em um período histórico distinto, com capítulos onde encontramos estilo, jogabilidade, referências, tom, estrutura, trilha sonora, tudo diferente um do outro. É quase como passear pelos canais de uma TV, ou assistir o primeiro episódio de diversas séries em um mesmo dia.

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Você vai de duelos armados no faroeste, com o cowboy misterioso sendo seguido pelo clássico homem de preto, até uma história em um “futuro próximo” claramente inspirada em Akira, mas com toques de Neon Genesis Evangelion (que nem havia sido lançado na época), com direito a batalha entre mecha e kaiju e delinquentes motoqueiros.

É a junção de tanta loucura da cultura pop em um lugar só que cada capítulo te deixa boquiaberto. Você vê referências a Alien e 2001, Street Fighter, Os Flintstones e muitas, muitas outras. Mais legal ainda é que o game consegue subverter suas expectativas de uma forma impecável. Você fica empoleirado na beirada do sofá, animado para ver o que cada capítulo vai entregar.

Importante dizer que, mesmo sendo histórias distintas, Live A Live não é uma antologia. Esses personagens estão ligados, de alguma forma, e o game te mantém no suspense sobre seus planos para eles. No entanto, você não precisa jogar nada em ordem ou ver um capítulo para entender outro. Na verdade, se você achar que teve o suficiente do game depois de terminar alguns cenários, sua experiência terá um final satisfatório. Legal, né?

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Cheguei até aqui somente falando de Live A Live como um todo, não do remake, mas não se engane: esse é um daqueles remakes que podem ganhar o título de “perfeito”. Os novos visuais, a atualização da jogabilidade, a recriação da trilha sonora, tudo funciona para atualizar o título de uma maneira que ele pareça atual, inédito.

Considerando o original, Live A Live entra em uma categoria do que eu chamo de “jogos inadaptáveis”. Que só conseguiram existir no passado pela baixa complexidade e exigência de criação gráfica; ambiciosos demais para serem traduzidos em um formato mais atual. Outros exemplos seriam Chrono Trigger ou até Final Fantasy VII – que ganhou, sim, um “remake”, mas longe de tradicional.

Apenas com a tecnologia HD-2D, novo estilo patenteado da Square, desenvolvido para Octopath Traveler e aperfeiçoado em Triangle Strategy, que isso é possível. Nele, os personagens pixelados, 2D, são incorporados em um cenário semi-3D, com profundidade, modelagem diferenciada e alta definição. Você tem o gostinho do que eram JRPGs no passado, com uma repaginação que permite aos games embarcarem em mapas e universos tão complexos quanto antes, sem a necessidade de criar um mundo hiper-realista para acomodá-los.

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Assim, esses games que eram inadaptáveis – e, muitas vezes, inacessíveis no ocidente – ganharam uma nova chance de brilhar. Live A Live é o exemplo perfeito de como essa tecnologia pode ser usada para recriar uma obra-prima, que dificilmente funcionaria de outra forma. O resultado é um jogo nostálgico e inédito, clássico e inovador, tudo ao mesmo tempo.

A forma como a arte HD-2D funciona em Live A Live é incrível, com cenários de encher os olhos, sem perder o charme dos pixels. Misture isso com uma das melhores trilhas sonoras que você vai ouvir – sem brincadeira – apostas ousadas em forma, narrativa e jogabilidade e uma história poderosa, que se permite ser maluca, engraçada, sentimental e sombria, e você atinge o ápice do que um jogo pode ser.

Claro, JRPG é um nicho bem divisivo no fim do dia. No entanto, mesmo para aqueles que não gostam do gênero, é possível admirar as qualidades absurdas de Live A Live como um todo. É quase um pecado pensar que esse game estava escondido no Japão até agora e é um prazer poder vivenciar algo assim hoje, quando hiper-realismo, orçamentos titânicos e lucro muitas vezes falam mais alto do que criatividade ou qualidade.

Nota: 10/10

Live A Live não é apenas um dos melhores jogos de 2022, mas um exemplo de como retrabalhar um título do passado ao ponto de torná-lo atemporal. Não importa se você vai jogá-lo agora, no ano que vem ou nos próximos 5 anos. Talvez 10 anos ou mais. Ele permanecerá atual tanto pelos níveis de criatividade e coragem da produção original, quanto pela elegância da atualização que recebeu.

 

Achei que mais nenhum game faria companhia para Elden Ring na minha lista de notas 10 em 2022, mas esse remake da Square merece o topo tanto quanto o épico da FromSoftware. Se você é fã de JRPG ou só quer uma experiência única e impactante, já está perdendo tempo. Live A Live te espera.

 

Por tudo isso, não tem como Live A Live ser menos que um 10 para a Legião dos Heróis. Obra-prima em 1994 e 2022.

Já conhecia Live A Live? Não esqueça de comentar!

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