[lodestar] Análise de One Piece, capítulo 1057: Fim

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[lodestar] Análise de One Piece, capítulo 1057: Fim

Por Márcio Jangarélli

Quatro anos e quase 150 capítulos depois, as cortinas se fecham para a aventura dos Chapéu de Palha no País de Wano. A terra dos samurais foi a maior saga de One Piece e talvez uma das mais importantes, melhor planejadas e desenvolvidas até então, reinventando mais de uma vez a maneira como enxergamos essa história.

Na lodestar dessa semana, acompanhamos a partida dos nossos piratas favoritos do xogunato do Momo. Será que o fim dessa jornada foi digno da grandiosidade da história completa? Vamos descobrir!

Nesta edição da lodestar, estamos inaugurando um novo sistema de avaliação na Legião: o Hypômetro! Vocês devem vê-lo no final de algumas publicações a partir de agora.

 

Ele indica o quanto o autor gostou ou se animou com o que foi discutido no texto. Em breve, vocês também poderão colaborar com o Hypômetro, influenciando em novos rankings da LH; fiquem ligados!

Capítulo anterior: Cross Guild (c. 1056)

(Créditos: @Greiish)

Senhoras e senhores, o futuro Rei do Mundo, Buggy D. Clown! O capítulo 1056 de One Piece foi tão bombástico quanto o novo Yonko palhaço; descobrimos parte do que o Buggy fez para se tornar um Imperador, enquanto a (ex) aliança de supernovas se prepara para partir de Wano.

Parte do sucesso do Buggy vem da criação da Cross Guild, uma organização pirata que o novo Yonko montou em parceria com Sir Crocodile e Dracule Mihawk. Tudo indica que essa “guilda” ocupou o vácuo deixado por Doflamingo no submundo e cresceu ao ponto de oferecer recompensas pela cabeça de marinheiros.

Em Wano, Carrot é escolhida para suceder Nekomamushi e Inuarashi como a nova Duquesa de Zou. Momo e Kinemon descobrem que os piratas estão partindo sem se despedir dos dois e, no porto, Luffy, Law e Kid decidem quais direções do loguepose seguirão. Também ouvimos sobre o misterioso “homem com cicatriz de queimadura”, que pode ter ligações com poneglyphs.

Agora, é hora de zarpar!

Capítulo 1057: Fim

(Créditos: @Greiish / Shueisha)

Dá para acreditar que estamos deixando a nação dos samurais para trás? Chegamos no País de Wano em 2018, fugidos de uma Yonko enfurecida, para agora zarpar com o título de Imperador em mãos, dois dos maiores piratas do mundo derrotados, uma nova arma ancestral descoberta, mais um lode poneglyph para a coleção e uma visão bem diferente sobre o protagonista e a história de One Piece.

Mas… tudo que é bom chega ao fim. O incrível e megalomaníaco conto do País de Wano foi concluído de forma poética e voltamos para o Novo Mundo dizendo até logo, não adeus.

Parte 1: Despedida teatral

(Créditos: @Greiish / TCB Scans / Shueisha)

Muita gente pode não gostar tanto assim do capítulo 1057 por um motivo muito simples: boa parte dele reconta a história dos Bainhas Vermelhas e Onigashima, além de flashbacks sobre a jornada do Momo, de Punk Hazard até Wano. E é compreensível, especialmente se você começou ler One Piece recentemente e maratonou essas sagas até aqui (ou quase).

No entanto, em tempo real, somente a saga de Wano durou 4 anos – 2 desses em Onigashima. Imagine também as engrenagens para essa trama começaram a girar muito antes, em Punk Hazard, que está completando uma década em 2022. O país dos samurais é a culminância de outros 5 arcos: PH, Dressrosa, Zou, Whole Cake e Reverie. Assim, uma recordação no momento final é importante para retomar a ressonância sentimental da jornada para quem acompanhou semana a semana.

O acerto principal aqui foi o de fazer não só uma recapitulação para o leitor, mas usar isso como parte da história. Nós vemos os cidadãos de Wano, ignorantes em muito do que se desenrolou no país desde a chegada dos Chapéu de Palha – especialmente em Onigashima – aprendendo sobre o que se passou através de uma peça de rakugo. A saga já possuía um formato teatral, com seus atos e estrutura, assim, encerrar tudo dessa maneira foi perfeito.

Isso também informa um pouco de como o público verá as ações dos Chapéu de Palha em Onigashima. Nenhum pirata é citado por nome, mas como aliados do novo xogum, vistos até mesmo com “divindades guardiãs” do país. Nem mesmo a Big Mom é nomeada, chamada apenas de “Grande Cortesã Medonha”. Na narração, tudo o que se passou em Onigashima ganha um tom místico, uma lenda para as futuras gerações.

Outra coisa interessante é que temos a confirmação de que, sim, Orochi está morto. Não ouvimos mais sobre Kaido e Big Mom, mas o ex-xogum realmente morre quando o Denjiro corta sua última cabeça de serpente. E até descobrimos um pouco mais sobre seus momentos finais – e isso gerou uma pequena polêmica.

Parte 2: Oden e Carvão

(C: @Greiish / Shueisha)

Quanto mais fervido o Oden for, melhor ele fica”. Essas foram as últimas palavras de Kozuki Oden, vistas no capítulo 972. Antes disso, no capítulo 942, Yasuie grita para Orochi, antes de morrer, “Um homem tão baixo jamais, em sua vida, irá devorar Oden completamente”. Esses são trocadilhos com o nome de Oden, que também é um prato típico japonês, um ensopado. Essas brincadeiras são comuns em One Piece desde o início.

Por sua vez, Orochi também tem um trocadilho em seu nome. Além do mais óbvio, “Orochi”, que vem de Yamata no Orochi, a Grande Serpente de Oito Cabeças do folclore japonês (que também é a forma da Akuma no Mi do personagem), Kurozumi significa carvão. Enquanto o sobrenome de todas as grandes famílias de Wano carregavam “lua” em sua escrita, os Kurozumi, traidores do país, eram apenas carvão.

A história dos Kurozumi é uma mancha para Wano não apenas pela traição do avô de Orochi, que tentou envenenar os outros daimyo do país para se tornar xogum. Eles são também o pecado dos heroicos Kozuki que, sobrevivendo à tentativa de assassinato, caçaram o clã Kurozumi e o eliminaram quase completamente, restando apenas (que nós sabemos) Orochi, Higuarachi, Semimaru e Kanjuro. Chacina, genocídio, chame como for, não é algo bonito, mas é “realista” para a história que Oda estava contando.

Então, claro, ouvir a Hiyori, no capítulo final de Wano, afirmando que “Kurozumi nasceu para queimar” dá um gostinho amargo na boca. É completamente compreensível você entender isso como uma perpetuação do massacre que os Kozuki fizeram, do “todos eles mereceram, mesmo as crianças”, “nós somos heróis, eles vilões” e tudo mais. Ainda mais levando em conta toda a mensagem de One Piece. Mas as coisas não são bem assim.

Além do fato de ser um trocadilho com o nome do clã, do Orochi estar em chamas e a forma como Oden morreu, alguns leitores da versão original do mangá afirmaram que, no japonês, a fala da Hiyori foi direcionada apenas ao ex-xogum e não se estende para sua família. Porém, ainda há aqueles que dizem ser uma questão de interpretação, no fim das contas, e a fala japonesa também possui sentido dúbio. Considerando a obra como um todo, é difícil imaginar que a intenção do autor tenha sido de “vingança contra todo e qualquer Kurozumi”… no entanto, não é impossível.

Mesmo que essa fosse a intenção do Oda, colocando o lado vingativo dos Kozuki no holofote, isso não me incomoda. Na verdade, é uma camada de cinza bem interessante para um pós-guerra. Durante Marineford, Doflamingo tem sua fala famosa sobre quem dita o que é justiça é o lado que vence o conflito; seria mais ou menos o caso aqui. 

É desconfortável ver algo assim desses personagens, mas eles nunca mostraram remorso sobre o caso dos Kurozumi antes – e eles não tem motivo pra isso. Wano, no fim das contas, é uma história sobre vingança e o país é tradicionalista. Sem contar que Hiyori viveu 20 anos na nação decadente que Orochi criou, lutando para sobreviver. Ela não teve tempo para repensar as ações dos seus antepassados. Ninguém teve. O foco dessas duas décadas foi apenas no ódio contra a serpente no poder.

Não importa o ângulo, a fala final de Hiyori se encaixa em One Piece e na história de Wano. No entanto, o significado oficial é simples: Kurozumi Orochi queima como carvão e desaparece nas cinzas, como Kozuki Oden espalha melhor seu sabor quando fervido. O que podemos tirar disso sobre o futuro de Wano, fica para a interpretação de cada leitor.

Parte 3: Até breve, Wano!

(C: @Charlinino / Shueisha)

Para encerrar, Momo, Kinemon e Yamato correm para o porto atrás dos Chapéu de Palha. Descobrimos, então, que Yamato decidiu ficar em Wano por mais algum tempo, o que pegou muita gente de surpresa, depois do mangá praticamente confirmar sua entrada no bando por semanas.

É anticlimático? Sim. E é conveniente também. Por conta do diário do Oden e de sua vida com o Kaido, Yamato sabe mais do que deveria para se tornar um Chapéu de Palha no momento. Além de, com mais um membro na tripulação, fica mais difícil mostrar a evolução desses personagens no próximo arco sem deixar alguém de fora. Portanto, anticlimático, conveniente, mas compreensível. Isso não redime a provocação da história por vários capítulos.

Do ponto de vista da história, faz um pouco mais sentido. Yamato não estava preso apenas em Wano, mas em Onigashima. Tirar um tempo para conhecer o país e aprender a viver fora da ilha é, na verdade, muito importante para o personagem. Sem contar que o embate com o Green Bull mostrou que os samurais e o Momo ainda precisam de algum reforço, por ora, na proteção do xogunato.

Por outro lado, foi muito emocionante e bonita a despedida do Momo dos Chapéu de Palha. Vemos o quão jovem ele ainda é por dentro, o quanto precisará crescer para o cargo que ocupa e três coisas incríveis acontecem: Luffy entrega sua Jolly Roger para o xogum, fazendo de Wano seu primeiro território oficial como Yonko, declara que o trio faz parte dos seus nakama – assim como aconteceu com a Vivi, em Arabasta – e afirma que vê o momo como um irmão caçula.

Essa última parte foi o que mais me pegou de surpresa. Para o Luffy, que foi criado mais por seus irmãos adotivos – inclusive a Uta, vendo agora os novos episódios do anime – do que por “pais”, considerar alguém dessa maneira é algo gigante. Pela primeira vez, Luffy é o irmão mais velho da dinâmica. Isso explica o tratamento mais duro que ele dá ao Momo, esperando que o rapaz se torne alguém forte e independente.

Enfim, é hora de dizer até logo para Wano. Não é o final da história do país, afinal de contas, precisamos lidar com o país original e Pluton, mas isso fica para depois. Vemos a rápida, porém ótima despedida entre Law e os Chapéu de Palha, uma última briga entre os três supernova e, como já era de se esperar, a saída de Wano é cachoeira a baixo.

Dessa vez, o destino dos Chapéu de Palha não está definido para o público. O que nos aguarda agora, além de ansiedade infinita para o próximo capítulo?

Hypômetro

O hype LH nesse capítulo estava BOM!

Polêmicas à parte, esse não foi o melhor encerramento de saga que já vimos em One Piece, mas também é mais que mediano, montando um quebra-cabeças certeiro para impactar o leitor com as emoções acumuladas ao longo de (quase) 150 capítulos.

É poético, épico, mostra o crescimento absurdo do Luffy durante sua passagem por Wano e, depois de muito tempo, finaliza com uma página em branco para o futuro.

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E aí, o que acho do fim de Wano? Não esqueça de comentar!

Fique agora com a nossa lista: