Genshin Impact: Como as novas leis de censura chinesas podem atrapalhar o jogo

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Genshin Impact: Como as novas leis de censura chinesas podem atrapalhar o jogo

Por Nick Narukame

Não é de hoje que o público gamer sofre por conta da censura chinesa. Tendo em vista que o país está intrinsecamente ligado a indústria do entretenimento midiático eletrônico é de se esperar que as decisões tomadas pelo governo local sobre o que pode ou não haver nos títulos produzidos em seu território venham a impactar também quem consome o material pelos lados do ocidente.

Atualmente, Genshin Impact é um dos jogos de RPG de mundo aberto mais comentados, tendo ganhado o The Game Awards na categoria de melhor jogo mobile, estando em primeiro lugar na lista dos jogos mais comentados do Twitter, tendo gerado uma receita de mais de 10 bilhões para a MiHoYo, empresa criadora do título, durante o mês de outubro de 2021.

Então, se Genshin Impact está se mostrando assim tão importante para o mercado midiático chinês, será que as leis de restrições impostas pelo governo irão prejudicar de alguma forma os usuários cadastrados na plataforma?

Como funcionam as leis de censura para games na China?

Para entender como as restrições podem chegar ao jogo, primeiro devemos entender como exatamente elas funcionam em território chinês. O órgão governamental com maior influência no que se diz respeito a liberação e proibição de determinadas coisas voltadas para o entretenimento na China se trata da Agência Nacional de Rádio e Televisão, e são as rígidas normas desse departamento que qualquer jogo produzido e lançado em território chinês deve atender e se adequar.

Rosária (esquerda) e Venti (direita).

De forma geral, os regulamentos exigidos pela ANRT giram em torno da preservação do ideal de unidade chinesa e do exemplo que pode vir a transmitir para o público. Desta forma, qualquer manifestação dentro do visual ou do enredo de um jogo que o governo possa vir a achar nociva aos ideais defendidos por ele, estará sendo censurada de alguma forma ou, até mesmo, proibida.

Qual o motivo por trás da censura dos jogos na China?

Apesar das medidas adotadas pelo governo chinês serem severas as intenções divulgadas como motivadoras de tais medidas são justificáveis: visando diminuir o consumo vicioso de jogos eletrônicos entre crianças e adolescentes, o Estado limitou o acesso de usuários menores de idade a três horas semanais distribuídas entre sexta-feira, sábado e domingo.

Lumine, uma das protagonistas do jogo.

Para controlar isso, o governo também decidiu criar recursos para identificar seus usuários, como identidades eletrônicas e reconhecimento facial em determinados sites com conteúdos de jogos, evitando assim que os usuários menores de 18 anos tentem quebrar a sansão que os proíbem de estar ali fora do horário previsto.

A ideia busca evitar também que crianças acabem gastando milhões em dinheiro nas microtransações oferecidas por esses jogos, como os gachas que permitem a aquisição de itens aleatórios em troca de uma quantia em dinheiro, sem o consentimento dos pais, alimentando assim uma espécie de vício nocivo a todos os envolvidos.

A proibição dos personagens “afeminados”

Mas as restrições não terminam nesse ponto. Visando agora evitar que os jogos incentivem ideais masculinos que firam os padrões do governo chinês de “homem ideal”, a China também proibiu a adição de homens de traços mais delicados e mais distantes do considerado aceitável para os “padrões tradicionais”, eliminando qualquer tipo de representatividade em prol de ideais retrógrados e engessados.

O personagem Xingqiu.

Essa medida impactou uma série de empresas do ramo dos games que possuíam rapazes menos padronizados como jogáveis, fazendo com que muitas delas tivessem de adequar a aparência deles nos servidores chineses se ainda quisessem continuar atuando no país.

Outras empresas afetadas pelas leis chinesas

As medidas acabaram por impactar de modo bastante negativo a indústria dos games, contudo. No mês de setembro de 2021, quando as medidas foram anunciadas pelo governo, as ações das empresas NetEase e Tencent Holdings tiveram quedas de 11% e 8% cada.

Sem contar que, durante a primeira década desse século e parte da segunda, consoles estrangeiros como o PlayStation e o Xbox eram proibidos de serem vendidos em território chinês pois o governo acreditava que eles seriam uma espécie de “má influência” para os cidadãos.

O alquimista Albedo.

O jogo Fortnite, da Epic Games também foi afetado pelas restrições criadas pelo país, optando por suspender as atividades de seu servidor chinês em novembro do ano passado, mesmo ano em que a Yahoo também deixou o mercado do país após atuar na área por mais de dez anos na China Continental.

Microsoft também decidiu por retirar a rede social Linkedin do ar no servidor chinês em época próxima a da saída da Yahoo do país, alegando um “ambiente difícil” devido as restrições. O governo busca preservar a “estabilidade” e, assim, exige das grandes empresas que temas considerados “sensíveis” sejam banidos de seus sites o que pode prejudicar a liberdade de expressão de muitos usuários dos séricos em questão.

O Twitter, o Facebook, o Instagram, o YouTube e até mesmo a Wikipédia não estão disponíveis para acesso no país uma vez que se recusaram a cumprir as exigência severas do Estado chinês com relação a filtragem de seus conteúdos.

Como a censura pode afetar Genshin Impact?

Levando em conta que a MiHoYo, empresa responsável pelo desenvolvimento do jogo, possui sede em Xangai, na China, todas essas normas de restrição podem afetar diretamente o jogo em algum momento. O governo incentiva cada vez mais as empresas de jogos a tornarem seus títulos menos “atrativos” para o público para que, assim, eles passem menos tempo online e gastem menos nos jogos.

Visual original da personagem Mona

Apesar de Genshin Impact estar sendo uma das principais fontes de monetização chinesa em termos de entretenimento digital, a China não parece estar tão preocupada com o fator financeiro quanto com o cumprimento de suas severas regulamentações.

Recentemente a própria MiHoYo postou em sua conta oficial no Twitter um modelo com as novas roupas das personagens Jean, Amber, Mona e Rosária que, aparentemente, serão os trajes oficiais delas no servidor asiático e serão disponibilizadas como skins opcionais nos servidores americano e europeu.

Esse pode ser o primeiro passo de uma série de novas medidas que serão tomadas pela empresa para se adequar as exigências governamentais, ainda que, em pronunciamento anterior, tenham afirmado que não iriam fazer quaisquer alterações, mostrando-se dispostos até mesmo a mudar a localização de sua sede se houvesse a necessidade de o fazer para proteger o design original do game.

Um caso de auto-sabotagem?

Essas alterações não foram bem vistas pela comunidade mundial do jogo e muitos parecem estar preocupados com o futuro do título se mais mudanças começarem a ser feitas de forma constante. O jogo possui previsão de término apenas em 2028 e, até lá, muitas coisas podem acontecer levando assim os fãs a abandonarem Genshin Impact e fazer com que a receita gerada pelo jogo diminua drasticamente.

Venti, o arconte anemo de Teyvat, pode sofrer alterações por conta de sua aparência mais delicada.

Personagens queridos pelos jogadores como o arconte anemo Venti possuem traços mais delicados e o medo de que algo seja alterado em seu visual é real entre os fãs. Com tantas empresas sendo afetadas por leis tão rigorosas, parece claro que essas decisões são rígidas de modo desnecessário e afetam diretamente a economia do país, soando mais como um “tiro no pé” do que com medidas necessárias para a proteção de jogadores menores de idade.

E você? O que acha das medidas tomadas pelo governo? Divida sua opinião com a gente nos comentários!

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