Entrevistamos Sam Raimi: Diretor compara experiência em Doutor Estranho 2 com a trilogia Homem-Aranha

Capa da Publicação

Entrevistamos Sam Raimi: Diretor compara experiência em Doutor Estranho 2 com a trilogia Homem-Aranha

Por Arthur Eloi

Os fãs de horror e de super-heróis têm algo em comum: ambos tiveram obras de altíssimo nível criadas por Sam Raimi. O diretor fez seu nome com a trilogia Evil Dead, que mudou para sempre o rumo do terror nas telonas. Décadas depois, comandou a trilogia Homem-Aranha que, estrelada por Tobey Maguire, abriu as portas para a febre dos filmes de herói em Hollywood.

Em 2022, depois de anos sem tocar nenhum grande projeto, o nome de Sam Raimi voltou a ser discutido por ambos os públicos. O motivo é Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, que levou o horror ao Universo Cinematográfico da Marvel. Em entrevista à Legião dos Heróis, o cineasta explicou como seus grandes trabalhos do passado ajudaram a construir o novo longa, e como é diferente voltar a fazer filmes de herói agora que são uma tendência bilionária nos cinemas.

Quando Multiverso da Loucura foi anunciado, o presidente da Marvel Studios, Kevin Feige, o exaltou como o primeiro filme de terror do MCU. Assim, não havia ninguém melhor que Raimi para comandar, mas o próprio diretor contesta sua fama como um mestre do horror: “Não me sinto um expert em nada”, afirma para uma mesa de jornalistas em que a LH estava presente.

“Para contar uma história de terror, é preciso sair da sua zona de conforto e se arriscar. Assim, nunca me senti confortável ou que me tornei mestre desse gênero, sempre sou novato quando se trata de horror.”

Muito antes da Marvel, Sam Raimi se consagrou no terror pela trilogia Evil Dead, mas o diretor não se considera mestre do gênero.

Raimi então explica que pôde utilizar sua experiência no longa, mas não concorda com a declaração de Feige de que se trata exatamente de um filme de terror:

“Os filmes de horror que fiz me treinaram em como construir cenas para assustar o público. Kevin Feige queria que Multiverso da Loucura fosse o primeiro filme de terror do MCU. Não é exatamente terror, nada de embrulhar o estômago, mas é assustador e divertido de um jeito macabro.

 

Fazer aqueles filmes lá atrás me ajudou a fazer com as cenas de Multiverso da Loucura funcionasse assim. Ser um diretor é muito parecido com muitas outras artes. É preciso aprender a usar as ferramentas e materiais para construir algo que funcione para o público.”

Algo que define muito bem o estilo de Sam Raimi é a combinação entre o macabro e o tosco. O cineasta sempre foi fã de comédia pastelão, como Os Três Patetas, e deixa isso transparecer em praticamente todas as suas obras. Multiverso da Loucura, com cenas como uma batalha com notas musicais, não é diferente.

Muita gente detestou a segunda cena pós-créditos de Multiverso da Loucura, mas não dá para negar: a tosqueira é marca registrada de Sam Raimi.

Para adaptações de HQs, o diretor afirma que é preciso ter certa leveza para humanizar os super-heróis: “O humor é sempre um elemento que gosto nos filmes de heróis. Era algo presente nos meus filmes do Homem-Aranha, e também vi muito disso nos filmes da Marvel que assisti. Os personagens são seres humanos com quem nos identificamos, e não guerreiros de pedra,” explica. “O humor é uma ferramenta para ajudar o público a se conectar com eles, além das vulnerabilidades e das sensibilidades.”

Para quem acompanha a carreira de Sam Raimi, é um pouco curioso – ainda que muito bem-vindo – vê-lo retornando ao posto de diretor quase uma década após seu último trabalho. Segundo o próprio, esse hiato foi necessário para descansar a mente e voltar a aprender:

“Depois de Homem-Aranha, só fiz um filme de terror chamado Arraste-me para o Inferno e outro chamado Oz. Decidi descansar um pouco da direção pois sentia que precisava voltar com uma nova perspectiva, e com vontade de contar histórias. Passei cerca de dez anos longe da direção, e nesse tempo produzi filmes de jovens cineastas, e tive a chance de estudar as técnicas desses diretores novatos e aprender tudo de novo, como se estivesse de volta à universidade de cinema.

 

Também aproveitei essa década lendo bastante e fazendo jardinagem. Quando recebi a ligação de que a Marvel estava buscando um diretor para Doutor Estranho 2, finalmente me senti revigorado o bastante para voltar com muito afinco e vontade, que é como todo diretor deve trabalhar.”

Sam Raimi passou a última década trabalhando como produtor, assumindo poucos trabalhos de direção – nenhum deles no cinema.

O diretor também tem uma conexão especial e inusitada com o Mago Supremo: “Eu era um mágico novato quando era mais jovem, e fazia shows em festas de crianças e casamentos,” revelou aos risos. “Era uma forma muito legal de entreter um público. Mais tarde descobri que a câmera de cinema era uma ferramenta mágica ainda melhor para isso, e isso me fez largar a mágica pelo cinema. Sempre me identifiquei com o Doutor Estranho por conta desse aspecto de magia, e eu também gosto que ele é um tipo diferente de super-herói.”

Ainda assim, Raimi diz sem nem pensar que seu herói favorito é o Homem-Aranha. O motivo, segundo o próprio, é por ter sido introduzido aos quadrinhos do Teioso por seu irmão mais velho quando tinha seis anos, em um momento que lhe foi marcante. Em uma grande virada do destino, o cineasta escreveu seu nome na história do herói ao comandar uma celebrada trilogia de filmes do personagem durante a primeira década dos anos 2000.

O cenário não poderia ser mais diferente do que é hoje. Adaptações de HQs tinham reputação de serem medíocres ou péssimas, e definitivamente não tinham orçamentos milionários ou apoio de grandes estúdios em Hollywood. Isso lentamente começou a mudar no final dos anos 90, e o novo milênio começou em peso com X-Men: O Filme (2000).

O Homem-Aranha segue o herói favorito de Sam Raimi, mas a experiência de dirigir a trilogia do Teioso e Multiverso da Loucura foram muito diferentes.

Foi nesse contexto que a Sony Pictures aprovou uma adaptação dos quadrinhos do Homem-Aranha, e Raimi foi escalado para dirigir por conta de seu impressionante trabalho com Darkman: Vingança Sem Rosto (1990), um filme de herói igualmente cômico e sombrio.

Em 2022 – 20 anos após o primeiro filme do Homem-Aranha -, a Marvel Studios é praticamente um império no cinema e na televisão, que domina as bilheterias e telas mundo afora. Além disso, há multidões colossais de fãs sedentos por filmes de quadrinhos, e todo mundo em Hollywood quer uma fatia desse bolo bilionário. Filmes de herói já não precisam batalhar por espaço, já que são eles que dominam tudo.

Para Sam Raimi voltar a comandar uma obra do tipo, houve um pequeno choque, especialmente ao ver que hoje o processo de produção e a aceitação do público são muito mais tranquilos do que há duas décadas.

“Foram experiências muito diferentes, é uma boa pergunta! A produção do primeiro Homem-Aranha consistiu em criar as ferramentas necessárias para fazer as próprias ferramentas. Naquela época ainda não havia heróis de computação gráfica, portanto precisamos desenvolver a tecnologia, os programas e os computadores para conseguir cumprir esse desafio. Agora, 20 anos depois, tudo isso já existe, e o público é muito mais inteligente pois já viu muito mais em termos de efeitos visuais.

 

Agora, a pergunta já não é mais se é possível fazer um filme assim, mas sim se é possível fazer de forma que seja nova para o público ao mesmo tempo que prioriza a trama e os personagens.”

Sam Raimi garante que a década longe da direção lhe deu força para voltar com tudo.

No fim das contas, Sam Raimi parece ter o mesmo carinho pelo cinema que sempre mostrou em suas obras. Quem vê não diz que o cineasta passou uma década em hiato, e ele mesmo garante que continua tão apaixonado por adaptações de HQs quanto era antes.

“Produzir filmes de jovens cineastas foi muito instrutivo para mim. Aprendi sobre técnicas que eles estavam tentando que eu nem teria pensado, e vi como trabalham com atores de formas diferentes que eu, o que me ajudou como diretor. Se eu não tivesse feito nada disso, ainda acho que estaria pronto para fazer Multiverso da Loucura há 20 anos, pois é sobre os personagens que eu amo.”

O que me chamava a atenção há 20 anos são as mesmas coisas que me atraíram ao Multiverso da Loucura”, garante o diretor.

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura segue em cartaz nos cinemas do Brasil e do mundo.

Aproveite e confira: