Crítica – O Predador: A Caçada é um ótimo exemplo de como revitalizar uma franquia

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Crítica – O Predador: A Caçada é um ótimo exemplo de como revitalizar uma franquia

Por Arthur Eloi

Dentre os grandes monstros do cinema, o Predador é um dos mais queridos apesar de ter mais filmes duvidosos do que obras essenciais. O caçador alienígena conquistou ao enfrentar Arnold Schwarzenegger lá em 1987, mas desde então deu as caras em filmes que nunca ficaram próximos do original.

O Predador: A Caçada talvez seja o primeiro que consegue recapturar o que tornou a franquia tão interessante para começo de conversa, e tudo isso se dá pela vontade de experimentar com ambientações mais ousadas.

Ficha técnica

Título: O Predador: A Caçada (Prey)

 

Direção: Dan Trachtenberg

 

Roteiro: Patrick Aison e Dan Trachtenberg

 

Data de lançamento: 5 de agosto de 2022 (Brasil)

 

País de origem: Estados Unidos

 

Duração: 1h 39min

 

Sinopse: Há 300 anos, uma guerreira chamada Naru precisa lutar para proteger sua tribo da Nação Comanche contra um dos primeiros Predadores altamente evoluídos a aterrissar na Terra.

Depois do clássico de 87, os filmes do Predador costumam tentar replicar o original ou então colocar o monstro em um ambiente urbano (replicando sua continuação de 1990). A Caçada, por outro lado, testa uma ideia um pouco mais exótica: e se o monstrengo viesse para a Terra do século 17, dando de cara com povos nativos ao invés de militares armados até os dentes?

Por si só, a premissa já desperta a curiosidade após décadas de filmes pouco inspirados na franquia, mas o grande acerto é que o lado dos indígenas do povo Comanche é feita com atenção redobrada, evitando ser só pano de fundo apelativo. Há enorme sensibilidade no desenvolvimento desse universo, o que cria uma experiência verdadeiramente original dentro dessa série.

A trama é conduzida como uma jornada de amadurecimento, que segue a jovem Naru (Amber Midthunder) tentando concluir um ritual de caçada para poder se consagrar uma guerreira comanche. A protagonista é um dos muitos acertos da obra, e é desenvolvida como alguém de muitas habilidades que tem seus sonhos continuamente rebaixados por aqueles ao seu redor. Quando o Predador entra em cena, Naru vê a oportunidade de caçar o alienígena não só como uma medida para proteger sua tribo, mas também uma tarefa impossível o suficiente para que, se realizada, ninguém nunca mais duvide de sua capacidade.

Com complexidade e ótima atuação, a protagonista Naru é um dos destaques de O Predador: A Caçada

Amber Midthunder entrega uma boa performance como Naru, atendendo toda a complexidade da jovem guerreira entre seus momentos de provação, vulnerabilidade e insegurança. Para melhorar, ela é parte de um elenco de peso composto apenas de atores nativo-americanos, que trazem autenticidade e muito talento para essa trama unicamente comanche.

Dentro das possibilidades da franquia, a ambientação também se prova muito rica. Ao invés de mercenários arrogantes que são confrontados com algo maior que eles, os guerreiros aqui são inventivos e dão trabalho para o alienígena, apesar de sua tecnologia muito superior. Eles montam armadilhas, observam a atmosfera diferente na floresta, seguem rastros pelo matagal, e usam de todos os recursos da natureza para se curar, camuflar e enfrentar o monstro. O Predador aqui, como a própria trama deixa claro ao ritmo que avança, não é algo tão surpreendente para um povo que já lida com as ameaças dos colonizadores franceses.

Nação Comanche ganha retratação autêntica e original no novo filme do Predador

Quem assume a direção de A Caçada é Dan Trachtenberg, nome promissor do horror por sua excelente estreia com Rua Cloverfield, 10. Nesse filme, que é apenas o segundo, ele entende o potencial de abraçar a ambientação natural em belíssimos planos que valorizam as paisagens, a floresta e a luz do pôr-do-sol. É uma obra rica em textura, e a técnica de Trachtenberg também não decepciona quando chega a hora de criar ação ou suspense.

Talvez a única coisa que realmente impeça o longa de ser excelente são seus efeitos visuais deploráveis. Na contramão dos cenários reais e cheios de personalidade, a silhueta invisível do Predador, ou qualquer interação que ele têm com animais deixa muito a desejar, passando a sensação de algo feito com orçamento de série de TV barata – mesmo sendo o quinto título (sem contar dois Alien vs. Predador) de uma grande franquia do cinema.

Grande parte do apelo de Predador: A Caçada é ver como os comanche ficam a altura do alienígena mesmo com tecnologia inferior

O Predador: A Caçada é conduzido de forma simples, com uma progressão de trama muito similar ao longa clássico, mas acaba se destacando pela ambientação e autenticidade que criam um projeto altamente original e refrescante para uma série que há anos caminha pela borda do cansaço. Uma boa protagonista, acompanha de um excelente elenco em uma premissa intrigante e bem aproveitada resultam no melhor filme do Predador desde 1987.

A única lamentação é não ter sido exibido nos cinemas. Lá fora, A Caçada vai direto para o Hulu, e chega ao Brasil pelo Star+. O projeto ficou no limbo de desenvolvimento por anos – Trachtenberg falou à Legião dos Heróis que tenta desenvolvê-lo desde 2016 -, e a decisão indica uma visível falta de confiança da distribuidora na obra. É curioso que, nesse cenário de baixas expectativas do público calejado e da própria empresa por trás do projeto, o longa se prova genuinamente empolgante, e é difícil não terminar de assistir sem imaginar tantos outros períodos históricos que poderiam ser perturbados por um Predador sanguinário vindo do espaço sideral.

NOTA: 4 de 5

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