Crítica: Hotel Transilvânia 4 – Transformonstão trata de temas delicados sem esquecer que é um filme de comédia

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Crítica: Hotel Transilvânia 4 – Transformonstão trata de temas delicados sem esquecer que é um filme de comédia

Por Nick Narukame

Depois de quatro anos sem nenhum novo longa a vista, eis que os fãs de Hotel Transilvânia finalmente puderam matar a saudade das desventuras de Drácula, sua família e hóspedes! O quarto filme da franquia estreou exclusivamente no Prime Video nesta sexta (14/01) trazendo uma dose espetacular de entretenimento aos espectadores, principalmente àqueles que não imaginavam que a história ainda tivesse alguma coisa para contar além do que já havia sido mostrado nos títulos anteriores.

Ficha técnica

Título: Hotel Transilvânia 4: Transformonstrão (Hotel Transylvania 4: Transformania)

Ano de produção: 2022

Data de estreia: 14/01/2022 (Brasil)

Direção: Derek Drymon e Jennifer Kluska

Duração: 1h27min

Classificação: Não recomendado para menores de 10 anos

Gênero: Animação, comédia, aventura, fantasia e família

País de origem: Estados Unidos

Sinopse: Van Helsing cria uma invenção que transforma humanos em monstros e vice versa. Assim, Drac e sua turma são transformados em pessoas comuns, enquanto Johnny vira uma monstro. Sem seus poderes de vampiro, Drac terá que correr contra o tempo para reverter essa assustadora situação antes que seus novos corpos se tornem permanentes.

Pôster nacional de Hotel Transilvânia 4: Transformonstrão

Conflito familiar

Devo admitir que fazia parte desse grupo. Existe uma quantidade muito pequena de filmes animados que, ao meu ver, conseguiram continuar mantendo as rédeas de suas histórias após um terceiro título. Tendo A Era do Gelo e Shrek como os maiores exemplos dessas derrapadas de enredo, onde claramente ninguém tinha mais nada a acrescentar a história, mas mesmo assim espremeram até sair alguma coisa, anuncio com alegria que Hotel Transilvânia conseguiu quebrar a maldição “pós trilogia”.

Drácula (esquerda) e sua filha Mavis (direita).

Sem esquecer os acontecimentos dos filmes anteriores e sem se propor a criar uma enorme nova saga envolvendo vilões que desafiam a capacidade intelectual dos espectadores, Hotel Transilvânia 4: Transformonstrão, traz como vilão principal os próprios conceitos pré-concebidos de Drácula com relação a seu genro Johnny.

Sua falta de capacidade em confiar no garoto o impede de concretizar seus planos de aposentadoria e deixar o hotel para ele e Mavis, mas, ao invés de contar a verdade ao garoto, ele inventa uma lei imobiliária que teoricamente impediria que o hotel fosse parar em mãos humanas, o que faz com que Johnny aceite a proposta do cientista Van Hellsing e se torne cobaia de um experimento que o transforma em monstro. E, sem querer, acaba transformando Drácula em humano.

É sempre bom lembrar que essa desconfiança de Drácula para com seu genro não se trata de uma novidade vinda do mais absoluto nada apenas para compor o enredo desse quarto filme. A forma como o vampiro sempre olhou torto para o marido de sua “princesinha” está presente desde o primeiro longa em 2012 e já foi abordada de diversas formas nos outros dois filmes posteriores, mas nunca havia sido tratada com tanto carinho quanto aqui.

Exageros que são bem vindos

Ao saírem juntos em viagem para tentar encontrar o antídoto para a situação em que estavam, tanto Johnny quanto Drácula começam a se aproximar mais, de modo que as nuances do relacionamento entre eles se tornam mais nítidas em interações que acabam fazendo o espectador entender perfeitamente o lado de Drácula, mostrando um Johnny excessivamente agitado, tagarela e alegre. Não que já não o fosse nos filmes anteriores, mas nesse seu potencial “irritante” parece ter sido ligado no máximo.

O humor é um aspecto essencial dessas cenas, inclusive. Apesar de tratar de temas pesados como a sensação de “não pertencimento” de Johnny na família de Mavis e a dificuldade de Drácula em perceber a pessoa maravilhosa que Johnny é devido a seus medos e sentimentos de pai super protetor, isso não é passado de um jeito dramático demais, abusando de exageros em cenas de tal modo que mesmo quando a situação continha um teor dramático mais alto, o filme não fazia questão de se levar a sério, não esquecendo jamais que se trata de uma comédia.

Drácula entra em verdadeiro pânico ao se ver como humano.

A cena onde Drácula percebe que pode andar ao sol agora e começa a se sentir tocado pelo tamanho da grandiosidade o astro é um perfeito exemplo disso. Ele começa a ver que, mesmo que adorasse ser um vampiro, a humanidade lhe traria boas experiências que ele jamais teria como um ser noturno. E, quando o quadro como um todo começa a se tornar “meloso demais”, o sol começa a machucar seus olhos, mostrando que ele tinha sim suas problemáticas até com os humanos, e proporcionando uma sequência de comédia que, sinceramente, eu não estava esperando e, por isso, me arrancou mais risadas do que de costume.

O vínculo entre genro e sogro

É interessante acompanhar como genro e sogro conseguem ser tão diferentes e tão iguais em suas diferenças. Ambos, Drácula e Johnny, são verdadeiros desastres como suas transformações em humano e monstro respectivamente, mas, enquanto Drácula está sempre vendo o copo meio vazio, Johnny sempre está disposto a ver o recipiente meio cheio, achando aquela transformação toda o máximo enquanto Drácula visivelmente quer cavar um buraco no chão e se esconder até aquilo tudo passar.

Johnny em sua versão monstro abraçando seu sogro.

Um pouco mais para a frente, o filme caminha para que o garoto consiga tocar o coração do vampiro com seu positivismo e é nesse instante em que o vínculo entre eles começa a lembrar o de um pai para com um filho, indo além da relação entre genro e sogro que não precisava ter sido tão hostil desde o início para poupar tantas dores de cabeça.

Apontamentos válidos para a vida real

Quando o positivismo de Johnny chega ao azedo vampiro Drácula que, agora, está como humano, ele resolve se abrir também e então o filme toma nuances claras voltadas para a realidade de pais solteiros. Mostra como é dura a vida de pessoas que tiveram de criar seus filhos sem uma segunda figura paterna ou materna para lhes apoiar e é muito perceptível o quanto aquela mensagem de “está tudo bem, você não está sozinho nessa luta” precisa chegar aos ouvidos de todos os guerreiros que passam por situações similares fora da ficção.

A sensação de catarse proporcionada por esse filme pode não ser a mais absurda de todas, mas ela existe e está presente de modo sutil, de um jeito que não se propõe a grandes feitos, mas está preparada para te fazer parar para pensar quando necessário, sem se perder no próprio enredo e transformar tudo em uma grande salada de frutas questionável como o caso de outros longas que passaram da marca dos três filmes lançados por aí.

Nota: 4,5/5

No fim, Hotel Transilvânia 4: Transformonstrão, oferece uma experiência incrível e colorida sem prometer fazer nada fora do normal. Faz bom uso dos personagens introduzidos nos filmes anteriores, lhes dando papéis que mostram que nenhum deles ficou “esquecido no churrasco” e passa a mensagem que intenciona passar ao espectador, salpicando boas doses de comédia em volta para que a seriedade não ofusque o fato de se tratar de uma animação de comédia.

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