Watchmen: 1×06 – A justiça está vindo para todos nós!

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Watchmen: 1×06 – A justiça está vindo para todos nós!

Por Gus Fiaux

Acompanhar Watchmen está se provando uma experiência bem desafiadora – não pela qualidade da série, já que são poucos os momentos em que a produção desliza em algum de seus aspectos técnicos. O desafio aqui é proposto pela própria série, que em todos os episódios brinca com seu público e traz revelações pontualmente, apenas quando algo realmente precisa ser explicado.

Não é diferente no sexto episódio da temporada, intitulado “This Extraordinary Being”. O episódio dá uma pausa na trama da temporada para servir como um grande flashback da história de Will Reeves, o vigilante que também atende pelo nome de Justiça Encapuzada. Tudo começa quando Angela Abar, sua neta, toma as pílulas do Nostalgia, uma droga que carrega em si as lembranças e memórias de alguém – no caso de Angela, as de seu avô.

A partir daí, ela começa a delirar enquanto revisita o passado do homem. E já de cara, esse é o episódio mais diferente da série até o momento. Sai o visual colorido do presente e entra uma atmosfera sombria e pincelada por tons de preto, branco e cinza, conforme mergulhamos profundamente nas memórias do Justiça Encapuzada e sua história, desde o alistamento na Delegacia de Polícia de Nova York até o ingresso nos Minutemen. 

E o curioso aqui é que, por mais que muitos especulassem desde o começo da série que ele poderia ser o Justiça Encapuzada, somos brindados logo no início do capítulo com um episódio de American Hero Story: Minutemen, a “série dentro da série” que mostra o vigilante como um homem branco. Ao longo do episódio, é explicado o motivo pelo qual ele é visto como um homem branco aos olhos da sociedade – como se o apagamento de pessoas negras da história já não fosse um motivo forte o suficiente.

Mas o interessante aqui, além dessa “pausa para respirar”, é como a série se debruça ainda mais no seu teor político. Não é fácil ser negro nos Estados Unidos, e era ainda menos fácil nas décadas de 30 a 50, para um policial negro. Já desde o início, o racismo é o protagonista dessa história, com Reeves sendo maltratado por seus colegas de profissão, superiores e criminosos racistas como os membros da Ku Klux Klan. 

Isso tudo acaba batendo em contraste com a trilha sonora do episódio, que opta por canções mais calmas, com uma boa dose de jazz, enquanto explora os terrores vividos por Reeves desde o início de sua vida adulta. Porém, quando o herói dá sua virada, é satisfatório vê-lo (literalmente) pondo fogo nos racistas.

É interessante também como o episódio conecta os pontos com os acontecimentos do início da temporada, como a morte de Judd Crawford. Para algumas pessoas, tudo isso pode parecer um pouco expositivo demais, mas resta nos lembrar que, mesmo sendo um flashback, é um episódio contado do ponto de vista da Irmã Noite, mesmo sofrendo com as alucinações provocadas pela Nostalgia. 

O capítulo só é importante para que Angela saiba exatamente quem é Will Reeves e qual é o seu papel nessa jornada, além de fornecer aos fãs uma série de easter-eggs e momentos da história dos Minutemen – história essa que é pouco abordada na graphic novel original, e que só tem pouco desenvolvimento na (péssima) Antes de Watchmen focada na equipe.

Além disso, a ideia de ver um episódio inteiro passado na mente de Angela, contando a história de Will, é um ponto fora da curva em uma série que não cansa de mostrar a que veio e surpreender seu público. Dessa vez, não temos uma cena sequer do Ozymandias e seus experimentos malucos, e as questões envolvendo o que aconteceu com o Espelho ficaram para os próximos capítulos.

De certa forma, não deixa de ser um episódio filler – mas é um episódio filler feito da melhor maneira possível, que continua a explorar a mitologia da série e não soa como uma “pausa desnecessária para encher linguiça”, como é comum em séries de mais de dez episódios.

Esteticamente, o episódio é impressionante. A fotografia da série por si só já é digna de aplausos, mas aqui com seu tom descolorido e sua atmosfera, a produção ganha outros ares. O episódio funciona como um espetáculo à parte, resgatando o clima e a estética do cinema noir dos anos 40, mesmo quando vemos a transição para os dias atuais. E isso prova como a série, “diferentona” por natureza, gosta de inovar para criar um repertório vasto e rico.

Ainda assim, o episódio deixa uma série de questões a serem trabalhadas no futuro, tanto envolvendo a família de Will Reeves quanto os planos astutos da Ku Klux Klan. A tecnologia Ciclope, que envolve o uso de hipnose para promover uma limpeza racial, pode até estar nas mãos de Will Reeves, mas eu duvido que ela não faça parte dos planos da Sétima Kavalaria, que ainda não foi muito explorada e explicada ao longo da série.

Em suma, “This Extraordinary Being” é um episódio de transição. Restam apenas três episódios e faz todo sentido que este tenha sido localizado aqui, servindo como ponte para o fim escandaloso e épico. Porém, ele não se limita a ser apenas uma transição. É um episódio espetacular, que explora um pouco da mitologia de Watchmen e a subverte de um jeito único, mostrando como esse universo é rico em histórias, personagens e segredos.

Além disso, é um capítulo que abraça o teor político da obra de Moore e Gibbons, mesmo a contragosto de alguns fãs mais alienados, mostrando como o racismo é mais perigoso que qualquer vilão ou lula gigante. E felizmente, é também o capítulo que nos mostra um herói para enfrentar esse grave perigo sociopolítico. Um herói que se veste com um capuz e usa uma forca amarrada em seu pescoço. E um herói que ainda terá uma caçada pela frente.

Na galeria abaixo, fique com imagens da série:

Watchmen vai ao ar nos domingos, na HBO!