[CRÍTICA] Predadores Assassinos – A natureza selvagem!

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[CRÍTICA] Predadores Assassinos – A natureza selvagem!

Por Gus Fiaux

Já estamos mais do que acostumados com a ideia de filmes de terror trazendo animais pavorosos como os maiores “vilões”. No caso de Predadores Assassinos, uma mulher precisa enfrentar não apenas um, mas diversos crocodilos durante um furacão classe 5, que causa inundações em toda a Flórida. O novo longa leva a assinatura de Sam Raimi, criador de franquias como Uma Noite Alucinante e a trilogia do Homem-Aranha.

No entanto, quem dirige dessa vez é Alexandre Aja, um diretor conhecido por vários filmes de horror como Viagem Maldita, Alta Tensão Piranha 3D. Aqui, o cineasta francês parece misturar vários gêneros para contar uma história de sobrevivência e superação – mas será que isso funciona? Não perca a nossa crítica do filme a seguir:

Ficha Técnica

Título: Predadores Assassinos (Crawl)

Direção: Alexandre Aja

Roteiro: Michael Rasmussen e Shawn Rasmussen

Ano: 2019

Data de lançamento: 26 de setembro (Brasil)

Duração: 87 minutos

Sinopse: Uma jovem mulher, enquanto tenta salvar seu pai em meio a um tornado gigantesco, se encontra presa em uma casa no meio de uma alagação, e precisa lutar por sua vida, enquanto enfrenta crocodilos.

É 2019 e já passamos por todos os tipos de filmes de horror com animais possíveis, desde a criação do cinema. Do aclamado Tubarão aos satíricos Sharknadoesse é um subgênero do horror que já parece ter sido esgotado em todas as suas formas narrativas – mas como sempre há criaturas estranhas na natureza, jamais deixaremos de ter filmes do tipo, a cada lançamento com um “monstro” novo.

Ainda assim, quando Predadores Assassinos foi anunciado, o filme chamou a atenção de muitos. Além de ser uma produção de Sam Raimi, o longa conta com a direção de Alexandre Aja, um diretor de horror relativamente conhecido, que já trabalhou em filmes como Viagem Maldita Espelhos do Medo, além de já ter trazido toda a glória de bichos predadores no divertido Piranha 3D. 

O filme estrela a atriz britânica (e meio-brasileira) Kaya Scodelario no papel de Haley, uma nadadora que precisa resgatar seu pai em meio a uma grande tempestade na Flórida, provocada pelo surgimento de um furacão de categoria 5. Porém, ao chegar à casa do pai (vivido por Barry Pepper), ela precisa elaborar uma estratégia de fuga enquanto enfrenta vários crocodilos.

Antes de mais nada, vai aqui uma recomendação: não espere que Predadores Assassinos tenha quebrado e reinventado a roda no que diz respeito a filmes de terror com animais. Definitivamente, este não é o caso – tampouco estamos diante de um longa tão importante e efetivo quanto o Tubarão original. Se você conseguir deixar as expectativas para trás, vai poder se divertir bastante.

Em seu filme, o francês Alexandre Aja usa uma mistura bem variada de gêneros clássicos do cinema – há o drama familiar, o filme-desastre, uma pitadinha de drama esportivo de superação e, é claro, o terror com animais – para construir a história de Haley Keller e seu pai, Dave, enquanto os dois precisam derrubar alguns problemas do passado para que possam se unir e sobreviver.

E talvez, a maior força nisso tudo venha das atuações. Kaya Scodelario está realmente muito boa em sua interpretação. Ela consegue fornecer ao público uma grande variedade de emoções, que vão do mais puro instinto de sobrevivência ao pavor, quando ela é forçada a enfrentar as criaturas que ameaçam a sua vida e a de seu pai. Por outro lado, Barry Pepper também faz um trabalho competente, embora mais reduzido.

O fato do filme girar quase que inteiramente em torno dos dois personagens, na situação desesperadora em que se encontram, é o que dá força à narrativa e já capta a atenção do público desde o momento em que os dois se encontram. Todos os outros astros coadjuvantes são descartáveis – e o filme inclusive poderia retirá-los sem nenhum dano, economizando vários minutos.

Por outro lado, a ambientação também é um ponto muito forte. De início, vemos Haley sendo aprisionada no sótão/assoalho da casa de seu pai, e boa parte do longa transita dentro daquele espaço apertado, conforme a água vai enchendo e trazendo mais crocodilos. Isso cria uma atmosfera cada vez mais sufocante e claustrofóbica, o que assegura a tensão do começo até o fim.

Além disso, toda a concepção visual do filme é competente, criando cenários dolorosamente reais. Quanto aos crocodilos, eles quase sempre são ótimos, já que o filme nem os esconde demais e nem os usa exageradamente. Porém, algumas sequências que dependem muito de efeitos visuais acabam ficando um pouco mais falsas, especialmente envolvendo movimentação debaixo d’água.

Ainda assim, esse é um problema facilmente contornável. O maior defeito mesmo fica por conta do roteiro do filme, que desperdiça um pouco da ambientação angustiante e dos seus fortes atores em uma trama repetitiva e que, por vezes, beira o piegas. Desde o início, sabemos que Haley e seu pai não se dão muito bem, e que Dave sempre foi muito rígido na hora de educar sua filha.

O problema é que o longa tenta nos empurrar isso o tempo inteiro com diálogos expositivos demais e algumas frases piegas. As piores partes do filme se dão quando Dave começa a fazer alguma metáfora referente à natação, para motivar sua filha a “se tornar uma verdadeira campeã” – o que, no contexto do filme, significa apenas que Haley precisa sobreviver.

Isso tira muito da tensão e do suspense do filme, já que a cada situação desesperadora, somos presenteados com o mesmo papinho piegas que parece ter saído de uma palestra de coach. Em determinado ponto, esses diálogos também empobrecem o filme e o tornam um pouco cansativo. Seria muito melhor ver um filme onde um dos personagens não falasse, por exemplo.

E é justamente isso que impede Predadores Assassinos de ser um filme realmente memorável. A história pode ser intrigante o suficiente, mas os conflitos interpessoais entre pai e filha deixam de atrair atenção depois de quinze minutos, já que não há muito mais do que palestras esportivas e lições de moral.

Além disso, um pequeno problema talvez se dê no fato do filme se levar a sério demais. Aja já dirigiu filmes que se opõem completamente a isso no passado, como Piranha 3D. E por mais que a ideia aqui seja realmente fazer um drama “sério”, há muitos momentos onde um humor mais auto-depreciativo viria a calhar. Há, por exemplo, uma piada bem óbvia na música que toca durante os créditos. Mas até aí o filme já nos acostumou tanto com sua atmosfera “sombria” que a piada parece mais deslocada do que inteligente.

Principalmente porque, como dito anteriormente, o horror com animais talvez seja um dos subgêneros mais exaustivos já criados. Não há nada que não tenha sido feito com bichos assassinos, e a constante seriedade do filme o torna um pouco genérico e sem sal.

Mesmo assim, Predadores Assassinos está longe de ser um filme ruim. Alexandre Aja consegue transportar suas maiores ondas de violência e pavor em um filme que explora bem o instinto de sobrevivência humana em meio à natureza selvagem. Ainda assim, há algo que falha em conectar essa experiência humana com o ambiente ao seu redor.

Mas de qualquer forma, o novo filme produzido por Sam Raimi merece uma conferida e um voto de confiança, especialmente pela atuação excepcional de Kaya Scodelario, que realmente dá o melhor de si em uma performance emocional e física.

Basta não ir até os cinemas esperando ver “o Tubarão dessa geração”, pois certamente isso não existe aqui. Se conseguir controlar suas expectativas, vai sair com um filme tenso e apreensivo, o que já vale a pena em meio a um subgênero tão desgastado.

Na galeria abaixo, fique com imagens do filme:

Predadores Assassinos está em cartaz nos cinemas.