[CRÍTICA] Campo do Medo – Os mortos não se mexem!

Capa da Publicação

[CRÍTICA] Campo do Medo – Os mortos não se mexem!

Por Gus Fiaux

É outubro – mês do horror e do Halloween –, e como é de praxe, a Netflix está produzindo uma nova leva de filmes originais. Na última sexta-feira (04), o serviço de streaming soltou o longa Campo do Medo, baseado em uma novela escrita por Stephen King em co-autoria com seu filho, Joe Hill.

Com uma proposta mais surreal e uma atmosfera bem diferente, o longa conta com a direção de Vincenzo Natali – mais conhecido pelo horror cult Cubo. Mas será que o filme funciona, como obra cinematográfica e como adaptação do Mestre do Horror? Confira a nossa crítica a seguir!  

Ficha Técnica

Título: Campo do Medo (In the Tall Grass)

Direção: Vincenzo Natali

Roteiro: Vincenzo Natali

Ano: 2019

Data de lançamento: 4 de outubro (Netflix)

Duração: 101 minutos

Sinopse: Após ouvir o chamado de socorro de uma criança, dois irmãos se aventuram dentro de uma grande plantação no Kansas, mas logo descobrem que pode não haver uma saída… e algo muito maligno espreita dentro do matagal.

Campo do Medo – Os mortos não se mexem!

2019 está sendo um grande ano para os fãs de Stephen King. Além de um novo livro do autor, várias de suas obras estão sendo adaptadas para os cinemas e para a TV, com dois grandes filmes em live-action já tendo sido lançados no cinema (Cemitério Maldito e IT: Capítulo 2) e mais um por vir (Doutor Sono). E é claro que a Netflix não ia ficar de fora da jogada.

No último fim de semana, a plataforma de streaming lançou oficialmente o horror Campo do Medobaseado em uma novela (In the Tall Grass) escrita por King em parceria com seu filho Joe Hill. O longa conta com a direção de Vincenzo Natali, um cineasta responsável por vários filmes de horror cult, como Cubo Splice: A Nova Espécie. 

Entre tantos lançamentos, o filme luta para se destacar, mas consegue nos apresentar uma atmosfera sinistra e uma proposta bem original, até mesmo dentro do legado das obras de King. Infelizmente, ele acaba sendo um pouco refém de seus protagonistas e de sua própria ambição.

A trama inicial segue dois irmãos, Becky Cal DeMuth (respectivamente, Laysla de Oliveira e Avery Whitted), que dirigem por uma estrada até pararem em frente a uma plantação no meio do Kansas. Lá, eles acabam ouvindo o chamado de socorro de um garoto, o jovem Tobin Humboldt (Will Buie Jr.), e tentam resgatá-lo dentro do matagal… apenas para se verem presos em um campo de horrores.

A premissa inicial já dá conta de boa parte da história e mostra como a atmosfera é importante para a criação de sua trama. Assim como Jogo Perigoso, de Mike Flanagan, ou Cujo, de Lewis Teague (outras exímias adaptações de King), o filme depende muito da sensação de claustrofobia e de medo do desconhecido, enquanto somos colocados na pele dos protagonistas.

Quando a trama começa a se desenvolver, somos apresentados a novos personagens, como Ross Humboldt (Patrick Wilson), o pai de Tobin, ou Travis McKean (Harrison Gilbertson), o namorado de Becky, que ajudam a motivar a trama e criam o conflito quando uma força sombria mostra sua presença aos poucos.

Os problemas, em parte, começam aqui. Os personagens, em sua maioria, não são bem desenvolvidos – e alguns atores não conseguem carregar seus papéis. Isso vale para os irmãos, vividos por Laysla de Oliveira Avery Whitted, e principalmente para o pequeno Will Buie Jr., que realmente não consegue passar das caras e bocas, mas nunca nos traz o pavor que o jovem Tobin sente.

Claro que há um elemento redentor no elenco, e trata-se de Patrick Wilson. O ator que já é bem familiarizado com o gênero de horror (tendo participado de franquias como Invocação do Mal Sobrenatural) carrega seu personagem com um exagero intencional, enquanto ainda explora muito bem as várias camadas de loucura ao qual está sujeito.

Por falar em loucura, o filme acaba entrando em uma espiral bem curiosa, já que seus acontecimentos parecem ser bem embaralhados temporalmente. Isso funciona muito bem para desorientar o público, casando muito bem com o cenário. No entanto, isso acaba tomando mais tempo de tela do que deveria e o filme se demora mais querendo “iludir” do que construir personagens ou uma história particularmente sólida.

Ainda assim, Campo do Medo não é um filme ruim – embora ainda falte muito para que ele seja grandioso. É um filme simples e, ao mesmo tempo, complexo, que dá várias voltas no mesmo lugar – mas o faz de uma maneira que nunca soa repetitiva ou desinteressante. Se tivesse personagens construídos de uma forma melhor, seria uma ótima adaptação de King.

E por falar na adaptação em si, os fãs devem ficar satisfeitos ao saber que o filme segue, quase que à risca, a novela de King e Hill. Há alguns elementos novos e algumas omissões, mas nada que afete o desenrolar da história. O final tem um toque agridoce, e a falta de explicações para algumas questões pungentes acaba criando um senso maior de mistério.

Quanto aos aspectos técnicos, o filme não desaponta – mas também não faz mais do que o necessário. A fotografia é muito bonita, com vários planos inventivos. O design do “labirinto” de plantas é, ao mesmo tempo, desnorteador e claustrofóbico, e a edição de som também dá conta de aumentar esse sentimento de desorientação. Entretanto, nada se destaca muito além do óbvio.

Campo do Medo não veio para revolucionar o cinema de horror e nem para se provar mais um grande acerto da Netflix. Mas numa maré de filmes medianos e ruins dentro da plataforma de streaming, o longa até nos deixa com um suspiro aliviado, além de ser uma adaptação decente de Stephen King.

Com alguns toques característicos do autor no roteiro – o horror “rural” que evoca a franquia Colheita Maldita e a presença de uma criança no cerne da trama, relembrando O Iluminado Cemitério Maldito, ainda que em menor escala -, o longa até parece uma das várias adaptações televisivas da obra de King, que foram produzidas entre os anos 80 e 90.

Com grande valor de entretenimento, Campo do Medo é um bom filme para quem já gosta de Stephen King e quer ver mais de suas obras adaptadas. É uma pena que seu roteiro não invista o suficiente nos personagens para dar-lhe uma maior profundidade, mas no fim das contas – assim como os mortos do matagal, que não se mexem – o longa é inofensivo na medida do possível.

Na lista abaixo, relembre 10 vilões assustadores dos livros de Stephen King:

Campo do Medo está disponível na Netflix.