Visibilidade Trans: 10 séries com protagonismo transgênero
Visibilidade Trans: 10 séries com protagonismo transgênero
Janeiro é o mês nacional da visibilidade trans
Para algumas pessoas, a simples existência é um ato de resistência — essa é a realidade da comunidade transgênero. Por não se identificarem com o gênero que lhes foi imposto ao nascer, essas pessoas precisam enfrentar constantes ataques da sociedade que miram no seu direito de existir em todos os espaços.
Para combater esse ódio, no dia 29 de janeiro é comemorado o Dia Nacional da Visibilidade Trans. A data é celebrada desde 2004, após um grupo de ativistas ir até ao Congresso Nacional e se manifestar em favor da campanha Travesti e Respeito.
E para trazer mais visibilidade às vivências trans e travestis, separamos 10 séries que contam as suas histórias. Mas não nas entrelinhas, e sim com orgulho e destaque no papel principal. São séries protagonizadas por personagens trans que foram interpretados por atores que pertencem a comunidade. Confira:
Pose
Para começar, nada melhor do que a série que entrou para história por contar com a primeira atriz trans a ganhar um prêmio de atuação no Globo de Ouro. Estou falando de MJ Rodriguez, que deu vida a inabalável Blanca Rodriguez da série Pose.
A série acompanha os bastidores da glamourosa cultura dos bailes de ballroom americanos. As acirradas competições de dança eram a principal forma artística de expressão de jovens LGBTQ+ pretos e latinos, marginalizados pela sociedade dos anos 80. Assim a série traz muito drama, música e carão, mas não se esquiva dos temas mais pesados que impactaram a comunidade, como a crise da AIDS que devastou especialmente a população mais carente.
- Onde assistir: Star+
Sense8
Outro grande destaque do protagonismo trans veio com a série Sense8, um verdadeiro evento produzido pela Netflix. A história foi criada e dirigida por duas diretoras trans, as lendárias irmãs Wachowski, de Matrix. E se isso já não fosse impressionante o suficiente, elas fizeram questão de incluir uma talentosíssima atriz trans em um papel principal — Jamie Clayton, que viveu a Nomi.
Nomi era uma entre oito pessoas espalhadas pelo mundo que estavam conectadas mentalmente, compartilhando experiências e habilidades. E por isso, eram caçadas por uma organização do governo. Além de viver um doce romance lésbico — quebrando o estereótipo de que identidade de gênero influencia sexualidade — Nomi ainda era uma parte crucial da equipe devido as suas exímias habilidades como hacker.
- Onde assistir: Netflix
Manhãs de Setembro
Manhãs de setembro é outra série que foge do óbvio e vai ainda além: retrata especificamente a realidade brasileira de uma travesti. A história é protagonizada por Liniker e foca na complexidade dos afetos familiares para a comunidade. A primeira temporada foca na relação entre Cassandra e seu filho, enquanto a segunda introduz seu pai conservador, interpretado por Seu Jorge.
A série acerta bastante ao retratar com honestidade a vivência trans, que não se resume a seus sofrimentos. Mostra os corres de uma mulher que precisa aceitar empregos sucateados para ganhar uns trocados, como muitas outras. E que mesmo com as dificuldades da vida, nunca deixa de sonhar, de amar, de cantar e de viver.
- Onde assistir: Prime Video
Veneno
Ni puta ni santa, assim se define Cristina La Veneno. Um nome tão emblemático não poderia ser esquecido e serviu de título para a série espanhola da HBO que homenageia a sua história. Mais que uma biografia, o drama pega emprestado a luta vanguardista de um dos maiores ícones LGBTQ+ europeus para contar a doce história de descoberta de uma jovem menina trans.
A série acerta bastante ao mostrar toda a diferença que faz ter alguém que sirva de apoio e inspiração na vida da juventude LGBTQ+, em especial na juventude trans. Isso enquanto reacende e reverencia a luta daqueles que passaram pelos anos mais pesados do conservadorismo, para garantir que as gerações futuras tivessem direitos melhores para existir.
- Onde assistir: HBO Max
Crônicas de São Francisco (2019)
Nos anos 90, a representatividade LGBTQ+ na grande mídia ainda estava engatinhando. Quando não era na posição de humor ou vilania, o espaço para personagens queer existirem era limitadíssimo. Por isso projetos como Crônicas de São Francisco foram muito importantes para a juventude “entendida” da época. A série fez tanto sucesso que retornou por algumas temporadas e, anos depois, foi revivida pela Netflix com grande estilo.
A trama acompanha uma república em uma das cidades mais queer do mundo em que a nova e velha geração LGBTQ+ se encontram. E na troca de experiências, conhecemos mais de suas dores e amores. E no coração dessa história, a dona da república que reúne todos esses sonhos, é uma idosa trans — a Senhora Madrigal — que protagoniza um episódio forte sobre a vivência transgênero nos anos 60.
O elenco ainda conta com o talentosíssimo Elliot Page e Garcia, que vive o jovem garoto trans Jake Rodriguez. Por ter recém começado o processo de afirmação de gênero, que são medidas que uma pessoa pode optar por fazer para adaptar suas características a sua identidade de gênero, Jake está vivendo uma série de mudanças e experiências novas que vão parecer bem familiares para a juventude trans.
- Onde assistir: Netflix
Euphoria
Mesmo com seu tom cético e sensacionalista, Euphoria é bom retrato do lado mais conturbado da geração Z. Impossível falar da série sem pensar na brilhante atuação de Zendaya, premiadíssima por dar vida ao drama de Rue, mas há outra atriz igualmente que também chama bastante atenção nesse mar de loucuras — Hunter Schafer, a Jules.
Enquanto Rue lidera as discussões sobre o abuso de substâncias químicas, Jules passa por grandes sufocos em relacionamentos tóxicos, até mesmo os mais casuais. Na segunda temporada, seu papel acaba sendo estranhamente reduzido, o que não significa que Hunter deixe de brilhar sempre que aparece em cena.
- Onde assistir: HBO Max
Tipo Isso
Histórias de jovens asiáticos tendo que lidar com anos de pressão geracional, como em Red: Crescer é uma Fera e Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, estão na moda. E a HBO Max tem uma série que é Tipo isso, só que tem um detalhe: seu protagonista, Sabi, é uma pessoa não-binária.
Isso é o suficiente para bagunçar todas as relações de sua vida, desde as românticas até as familiares. Acaba sendo interessante ver como sua família tradicional indiana aprende a lidar com as suas individualidades. E por ser uma comédia, não um drama, é uma experiência bastante leve no final, com direito a amigos pirados e situações inusitadas. E para quem se importa com a opinião da crítica, Tipo Isso tem 100% de aprovação no Rotten Tomatoes em suas duas temporadas.
- Onde assistir: HBO Max
Guardiões da Mansão do Terror
Você teria coragem de explorar um parque de diversões abandonado? E se eu te dissesse que além disso ele ainda está infestado de demônios, espíritos e criaturas paranormais? Assustador para alguns, mas para Barney e Norma é a oportunidade de emprego perfeita. Depois de selar o chefe do submundo em seu cachorro, o garoto vira segurança do parque e encontra nele um lugar para ser ele mesmo — sem julgamentos.
Acontece que Barney é um menino trans e enfrentar o fantasma de uma drag queen desaparecida parece uma opção muito menos aterrorizante que encarar o julgamento de sua Vovó Vó. Com uma atmosfera que lembra Gravity Falls, e episódios inspirados em FNAF, Guardiões da Mansão do Terror vai conquistando aos poucos pelo carisma de seus protagonistas sem nunca abrir mão de seus mistérios.
- Onde assistir: Netflix
Trem Infinito
Todos temos questões mal resolvidas e problemas que preferimos fugir do que encarar de frente. E em algum lugar, entre as dimensões, existe um trem com infinitos vagões para onde essas pessoas aflitas vão. Cada vagão é um portal para o seu próprio universo, com regras esquisitas e seus residentes únicos — pode haver um reino de cachorros medievais falantes e outro em que é sempre outono. E o único jeito de sair é percorrendo todos os vagões até resolver seus conflitos internos.
A ideia por trás de Trem Infinito, por si só, é genial. O roteiro ainda faz um excelente trabalho de deixar sempre novas migalhas sobre os mistérios que cercam a existência do trem e o seu verdadeiro significado. Mas o que realmente te fisga nessa história são os protagonistas e o modo como eles lentamente evoluem ao longo de sua aventura, encontrando respostas para problemas que nem mesmo eles entendem.
E a protagonista da segunda temporada é a Tulip Espelhada. Ela surge como o reflexo de outra pessoa que repentinamente tomou consciência e precisa entender exatamente quem é — a sua identidade. Entre mudanças físicas e psicológicas, a protagonista passa pelos mesmos questionamentos que muitas pessoas não-binárias no período que ainda estão tentando se entender. Acompanhar essa jornada caótica e sincera é um deleite, com um final que vai fazer os mais sensíveis chorarem.
- Onde assistir: Bem... Seria no HBO Max, por ser um original da plataforma... Infelizmente a animação não só foi cancelada, como também foi deletada dos servidores para economizar uns trocados. Uma lástima. Sorte que na internet nada está perdido para sempre. Basta saber procurar.
Transparent
Precisei refletir bastante antes de incluir Transparent nessa lista. Afinal, este é mais um caso de um ator *cisgênero* ganhando uma série de prêmios ao interpretar uma personagem trans. A prática é ainda mais comum no cinema, em filmes como A Garota Dinamarquesa e Clube de Compras Dallas*, e fica mais grave quando consideramos que atrizes trans sempre são esnobadas nas premiações.
Ainda assim, Transparent foi um grande marco na história da representatividade transgênero na TV. Em 2014, quando a representatividade positiva sobre a comunidade ainda engatinhava, a Prime Video apostou nessa história sobre um pai de família que iuntou coragem depois de muitos anos para viver a sua verdade como uma mulher trans.
Além de mostrar que não existe idade para começar a ser honesto consigo mesmo, a produção foi importantíssima para incluir mais profissionais trans na indústria. Mesmo que o ator principal não seja trans, os bastidores e o elenco estiveram repletos de pessoas da comunidade. A produção foi muito elogiada no documentário Revelação, da Netflix, que conta a lenta evolução da representatividade trans na TV americana.
- Onde assistir: Prime Video
*Cisgênero são pessoas que se identificam com o mesmo gênero que foram designadas ao nascer. Basicamente funciona como o contrário de transgênero.
Menção Honrosa: Heartstopper
Antes de encerrar, vou deixar duas sugestões extras. A primeira é Heartstopper, a série teen sobre o casal aquiliano * do momento. O foco pode ser o delicado romance entre Nick Nelson e Charlie Spring, mas todo o enredo envolvendo a brilhante Elle Argent é muito bem executado. Vale a pena para quem quiser apenas um romancinho bobo, despretensioso, com amigos fofos.
- Onde assistir: Netflix
*Aquiliano é um termo para descrever relações românticas entre pessoas do gênero masculino independente de sua sexualidade, sejam eles gays, bissexuais, pansexuais ou o que for.
Bônus: Queer Eye Brasil
E a segunda não é exatamente uma série, mas um programa de “reforma”. Mais do que uma reforma na casa das pessoas e no seu guarda-roupa, é uma reforma espiritual, na auto-estima de quem precisa. A edição americana conta com histórias incríveis de convidados trans em diversos episódios e ainda tem Jonathan Van Ness, uma pessoa não-binária, entre seus apresentadores.
E a versão nacional, por incrível que pareça, é ainda melhor. Queer Eye Brasil aplica a mesma fórmula na realidade brasileira. E entre os apresentadores temos Luca Scarpelli, que é um homem trans. Vale muito para quem quer assistir alguma coisa para deixar aquele quentinho no coração. E ainda por cima tem o Fred Nicácio, do BBB 23, dando conselhos que ajudam de verdade. Nem parece a mesma pessoa que tentou empoderar uma participante elogiando seu sangue de Maria Bonita.
- Onde assistir: Netflix