Ao longo dos quadrinhos da DC Comics, já tivemos algumas representações da figura da "Morte" clássica, a ceifadora que colhe almas. Porém, a Morte como conhecemos, em toda sua glória caótica e sua personalidade inusitada e cheia de vida só foi aparecer pela primeira vez em Sandman Vol. 2 #8, em um bate-papo bem emocionante com seu irmão mais novo, Sonho.

A personagem foi reimaginada por Neil Gaiman e transformada em uma dos Perpétuos. Além do trabalho brilhante do roteirista inglês, ela foi co-criada com a ajuda de Mike Dringenberg e Malcolm Jones III, artistas que definiram o visual pelo qual ela ficou mais conhecida. Desde então, ela se tornou uma das figuras favoritas dos fãs dentro da mitologia de Sandman.

Pouco depois do surgimento do universo, quando as primeiras formas de vida começaram a se manifestar, a Morte surgiu para trazer um equilíbrio na balança da existência. Ela está viva desde antes da história registrada e estará viva até o fim do universo como conhecemos. Ao longo dos anos, ela esteve presente "ajudando" na transição de mortais da vida para a morte.

Apesar disso, ela não é uma personagem triste e decadente. Pelo contrário, a Morte tem um espírito iluminado e alegre, uma alma que transborda vida e plenitude - isso tudo porque ela consegue enxergar como a morte é o que dá significado à vida. Ela acaba se tornando uma figura bem proeminente em Sandman, mesmo aparecendo em poucas ocasiões.

A Morte faz parte dos Perpétuos, uma "família" de sete seres que são representações de grandes conceitos universais. Ela é a segunda mais velha em sua família, ficando atrás apenas de Destino, o Perpétuo que enxerga toda a história do universo. Ao longo das eras, todos os irmãos tiveram sua cota de brigas, desavenças e drama familiar, mas são unidos eternamente.

Dentre os irmãos, a Morte é talvez a figura mais humanizada e agradável, já que sempre trata bem as pessoas que conhece, sejam mortais ou criaturas de outros reinos e mitos. Ela é conhecida por seu visual gótico, por usar uma maquiagem do Olho de Hórus em seu olho direito, além de carregar um ankh - o símbolo egípcio que também serve como sigilo para invocá-la.

Quando surge em Sandman, fica bem nítido que Morte é uma das únicas Perpétuas que tem uma relação mais próxima a Morpheus. Embora discorde de seu irmão em vários aspectos, ela entende os desejos e vontades de Sonho, e frequentemente aparece como uma aliada para o Perpétuo, sobretudo nos momentos em que ele mais precisa de sua ajuda.

Morte também aparece com certa frequência nos quadrinhos para lidar com outros assuntos que não dependam necessariamente de Morpheus. Um dos exemplos mais incríveis se dá na história envolvendo a Garota Elemental, uma heroína que era aliada do Metamorfo. A Morte sabe que a menina deseja morrer e faz com que a partida dela seja a mais suave possível.

Aqui vão alguns grandes spoilers do final de Sandman, então pule para o próximo item caso não queira saber de grandes detalhes da trama.

A Morte continua aparecendo aqui e acolá ao longo de Sandman, e é sempre uma figura bem importante em suas aparições, seja para auxiliar o próprio Morpheus em suas tarefas ou apenas mostrar sua relação com os humanos mortais. Contudo, a personagem tem um papel bem importante a desempenhar no penúltimo arco da saga, Entes Queridos.

Nesse ponto da história, o próprio Morpheus percebe que sua jornada já se encerrou e clama por sua própria morte, especialmente após ser caçado pelas Fúrias/Bondosas. Ao fim, em um sacrifício emocionante, ele morre com a ajuda de sua irmã. A partir daí, o "manto" do Sonho acaba passando para Daniel Hall, uma criança que foi concebida no reino do Sonhar.

O visual da Morte acabou se tornando muito icônico e tem uma ligação direta com o artista que ajudou Neil Gaiman a criá-la. Em suma, Mike Dringenberg tinha uma amiga chamada Cinamon Hadley (apelidada de Sin). Sin serviu como base para o visual clássico da Morte, a pele pálida e uma maquiagem pesada, inspirada pelo movimento gótico dos anos 80 e 90.

Artistas posteriores acabaram usando algumas outras inspirações visuais para a personagem, como as cantoras Kate Bush e Siouxsie Sioux, o que ajudou a determinar até mesmo a personalidade etérea e enigmática dela nas HQs. Contudo, foi justamente a figura de Cinamon Hadley que foi usada na maior parte das HQs de Sandman.

Assim como todos os outros Perpétuos, a Morte possui um conjunto de vastos poderes que a tornam um dos seres mais poderosos do universo. Ela é onipresente e onisciente, estando em todos os lugares ao mesmo tempo - ainda que ela só se deixe revelar quando assim deseja. Ela também é capaz de criar ilusões, se teleportar e até mesmo usar magia.

Porém, seu grande diferencial é justamente ser a personificação da morte. Por conta disso, ela é capaz de lidar diretamente com a linha vital de qualquer pessoa. Em alguns casos, ela pode até impedir que alguém morra e conferir imortalidade a alguns (como é o caso de Hob Gadling). Além de todas essas coisas, a Morte também é um ser imortal.

Há outro elemento que precisa ser explorado, tendo em vista as reclamações de muitos com relação à escolha da atriz que vai interpretar a Morte na adaptação de Sandman pela Netflix. Embora, nas HQs, a personagem tenha ficado eternizada como uma figura de pele pálida, a verdade é que ela - como todos os outros Perpétuos - não possui uma forma definida.

A Morte assume qualquer visual, e nos quadrinhos é dito que ela costuma tomar formas mais "agradáveis" para cada pessoa que encontra, de modo a tornar a transição mais fácil. Em alguns quadros nas HQs, ela já foi vista como uma mulher negra, como um homem e até mesmo como alienígena, quando precisa fazer a transição de pessoas de outras raças espalhadas no cosmos.

Como Neil Gaiman passou anos impedindo adaptações ruins de sua obra, são raros os casos em que a Morte (ou qualquer um dos Perpétuos) foi adaptada para outras mídias. Ainda assim, é interessante notar que várias séries da DC Comics fazem referências ou easter-eggs à personagem, por exemplo Arrow e Constantine.

Ainda assim, os fãs da Morte podem encontrá-la em seu curta solo da linha DC Showcase - é uma breve aventura animada sobre a Perpétua indo encontrar uma de suas "vítimas" para ajudá-la na transição para o "além". A personagem também está na dramatização em áudio de Sandman da Audible, lançada em 2019. Lá, ela foi interpretada por Kat Dennings.

Como muitos sabem, a Netflix vai produzir uma série baseada nas HQs de Sandman, com sua primeira temporada adaptando os arcos iniciais da obra de Neil Gaiman. O elenco está sendo lentamente revelado e, há uma semana, tivemos a notícia de que Kirby Howell-Baptiste foi escolhida para interpretar a Morte na adaptação.

Kirby é uma atriz britânica que já apareceu em inúmeras produções, como as séries The Good Place, Barry e Killing Eve, além de filmes como o recente Cruella. A atriz tem sofrido alguns ataques desde que seu nome foi anunciado no elenco, por parte de fãs insatisfeitos com a escolha de uma atriz negra para o papel, mas isso tem sido rebatido na internet.

O próprio criador da saga, Neil Gaiman partiu em defesa da atriz, durante uma série de postagens em seu perfil no Twitter, onde ele relembra que a personagem é, por natureza, uma figura mutável e sem forma definida. Ainda não sabemos quando a série será lançada ou quando iremos ver as primeiras fotos oficiais de Kirby no papel de Morte.