Heartstopper: As diferenças entre a 2ª temporada e o quadrinho original

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Heartstopper: As diferenças entre a 2ª temporada e o quadrinho original

Por Gabriel Mattos

Atenção: Alerta de Spoilers!

Heartstopper, série da Netflix, estreou sua segunda temporada para explorar a vida de casal de Charlie e Nick, que estão oficialmente juntos desde o final do último arco. Os novos episódios adaptam mais um livro de Alice Oseman, que também é corroterista e coprodutora executiva da série — dessa vez, o Volume 3 de Heartstopper.

Porém, na tradução das páginas da graphic novel para as telas, muita coisa precisou mudar: desde pequenos detalhes a arcos de personagens completamente diferentes. Felizmente, a maior parte das alterações agregaram um conteúdo mais interessante à série, aprofundando conceitos que não caberiam nas páginas de uma webcomic. Assim, para você entender melhor esse processo, listamos as principais diferenças entre a 2ª temporada e o quadrinho original!

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Imogen e personagens expandidos

A amizade de Imogen (Rhea Norwood) e Nick (Kit Connor) continua a aflorar na segunda temporada de Heartstopper. Só tem um problema: a personagem nunca sequer existiu na graphic novel. Então, todo o seu arco foi criado exclusivamente para a série, tanto a sugestão de um flerte com Sahar quanto o relacionamento conturbado com o Ben. Este romance nada saudável, inclusive, funciona como um bom contraponto para o amor entre Charlie e Nick, complementando bem a história de maneira geral.

Imogen não foi a única personagem que cresceu nessa temporada. Sahar e James também tiveram uma importância maior na dinâmica do grupo de amigos, algo que não acontece nos livros, em que são apenas personagens periféricos da história.

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Um desfecho para Ben

Falando na relação conturbada entre Imogen e Ben Hope (Sebastian Croft), o ex-casinho de Charlie tem um papel muito maior na série. O garoto continua na trama quase como um fantasma que agoura a felicidade de Nick e Charlie, desejando aquilo que perdeu e projetando as suas inseguranças para desestabilizar o casal.

Depois de persegui-los até uma exibição de arte, Ben enfim ouve sobre todo o mal que causou e precisará enfrentar as consequências — bem longe de todos, em uma outra escola.

Contudo, nos livros, seu papel termina bem mais cedo, quando seu relacionamento com Charlie acaba. O grande discurso duro de seu ex acontece com outro personagem, Harry, durante a festa no quarto das meninas em Paris.

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O romance entre Elle e Tao

A série trabalha o romance entre Elle e Tao de forma muito mais delicada e realista na série da Netflix. A transição entre amizade para um namoro acontece de forma bem mais sutil, com o garoto lentamente aprendendo a respeitar os limites de sua amada sem abrir mão de sua essência. E esse processo acontece através de encontros desengonçados e situações naturais da vida, que simplesmente não existem nos quadrinhos.

No livro, o grande ponto de virada é realmente o beijo no museu em Paris. Não existe uma construção tão suave para convencer o público de que este casal realmente faria sentido — afinal, o foco maior da webcomic é explorar o relacionamento entre Nick e Charlie. Basicamente todos os demais núcleos se beneficiaram das mudanças.

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A escola de arte da Elle

Elle ganhou uma motivação própria mais clara na história: entrar para uma prestigiada escola de arte. Seu drama para conseguir entrar na Lambert movimenta não só a história da garota, como também a maturidade de Tao e ainda culmina em uma catarse para o arco de Isaac. Provavelmente, é uma das decisões mais acertadas dos produtores, introduzindo também Naomie Felix, dois personagens originais.

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O passado triste de Tao

Ao longo da trama, em uma conversa sincera com Charlie, Tao assume que seu medo de abandono tem origem na morte de seu pai, ainda muito jovem. E a dor de carregar essa perda ocasionou nesse comportamento ansioso com seus amigos, sempre que existe a chance de perdê-los. Esse detalhe não existe no livro e ajuda a tornar Tao um personagem mais gostável e complexo.

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O motivo do bullying

Nesta mesma conversa, Tao também admite que todos os rumores que surgiram pela escola sobre sua sexualidade surgiram da boca do Tao. O garoto teve uma conversa empolgada com Isaac com a novidade, logo após descobrir que o amigo era gay, e acabou sendo ouvido, o que culminou em um ano tenebroso, com bullying pesado, na vida de Charlie.

Essa história é contada por um Tao mais maduro, que confessa a culpa e demonstra um forte arrependimento por toda a dor que causou ao amigo — diferente do livro. No original, Aled, que não aparece na série mas tem um papel parecido com o Isaac na dinâmica do grupo, conta que Tao era o culpado de tudo. E Charlie fica furioso, criando uma grande distância entre ele e seu amigo, deixando de contar sobre seu relacionamento com Nick e só voltando a normalidade bem depois.

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Um personagem assexual

Falando em Aled, pode ser uma boa hora de explorar o arco de sua contraparte na série, o personagem original Isaac. Nos livros, Alice Oseman tenta incluir um pouco de cada identidade da sigla LGBTQIA+. Porém, mesmo assim, a sua própria comunidade acaba ficando de fora: os assexuais e arromânticos, que acabam sendo incorporados no arco de Isaac.

Trazer visibilidade para a comunidade aroace, como também é chamado, é uma decisão muito importante, porém o jeito como o enredo é construído não é o mais responsável, caindo em muitos estereótipos que já assombram esse grupo a um tempo. Ainda assim, Isaac tem o seu momento de brilhar na história ao enfrentar a pressão de seus amigos allosexuais (que sentem atração e romance sem dificuldades ou restrições) para conseguir um namorado.

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Sem festas

Outro ponto elogiado da segunda temporada é como permite que o elenco principal tenham os seus momentos para serem simplesmente adolescentes normais, que não são os seus traumas ou carregam o peso de seus dramas — só alguém curtindo o baile com a pessoa que gosta ou uma festa na fogueira. Entretanto, nenhuma dessas duas celebrações acontecem nos livros. Na série, esses eventos funcionam como um importante horizonte pelo qual é possível esperar grandes acontecimentos, criando uma tensão necessária.

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O drama de Darcy

E essa tensão culmina na triste história de Darcy Olsson (Kizzy Edgell), que precisa encarar a realidade de uma família nada compreensiva. A orgulhosa e imponente lésbica assumida da escola precisa viver uma vida de mentira dentro de casa, controlando a sua verdade e se culpando por cada passo que não cabe na ideia de família perfeita de sua mãe. Infelizmente essa é uma realidade muito mais comum nas vivências LGBTQ+ que a mãe compreensiva de Nick ou os pais razoáveis de Charlie.

Nos livros, toda essa questão acontece e é resolvida fora de cena. Existe apenas uma breve menção por Tara de que os familiares de Darcy “são pessoas horríveis”. Isso também implica que a namorada já sabia de toda a situação no quadrinho e não precisou passar pelo drama de ter o relacionamento desestabilizado pela falta de dizer um “eu te amo” na hora certa.

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Pontos da história de Nick e Charlie

E para não dizer que a história do casal principal Nick e Charlie permanece intocada, também houveram mudanças na maneira em que certos eventos acontecem. Nos livros, por exemplo, Charlie confessa bem cedo ter problemas com a ideia de Nick se assumir, e a atenção que isso poderia gerar, algo que seu namorado precisa deduzir sozinho com muito esforço na série.

A presença do pai de Nick também foi bastante diferente. Nos livros, ele sequer chega a se reunir com o filho em Paris. A revelação da bissexualidade de Nick para seu pai e seu irmão também aconteceu bem depois nos livros, mas foi antecipada para reforçar a carga dramática da temporada. E falando nisso, o próprio momento em que o casal troca seu primeiro “eu te amo” também é alterado para intensificar o drama. Acontece bem mais cedo no livro, mas foi deixado como o clímax da história, para derreter o coração do público. Funcionou?