[CRÍTICA] Valerian e a Cidade dos Mil Planetas – Excentricidade Intergalática

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[CRÍTICA] Valerian e a Cidade dos Mil Planetas – Excentricidade Intergalática

Por Gus Fiaux

Adaptando uma popular graphic novel francesa, Valerian e a Cidade dos Mil Planetas chega nesta quinta-feira aos cinemas brasileiros. O longa, dirigido por Luc Besson, narra a história de um agente especial interpretado por Dane DeHaan e sua parceira de missões, vivida por Cara Delevigne, enquanto os dois investigam um misterioso caso envolvendo uma raça alienígena “extinta”.

Nós conferimos o filme e segue nossa crítica sobre a nova obra do diretor de Lucy, Arthur e os Minimoys e O Quinto Elemento.

Imagens: Divulgação
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Título: Valerian e a Cidade dos Mil Planetas (Valerian and the City of a Thousand Planets) Ano: 2017 Lançamento: 10 de agosto de 2017 (Brasil) Direção: Luc Besson Classificação: 10 anos Duração: 137 minutos

Sinopse: Uma força sombria ameaça Alpha, uma vasta metrópole que é lar de espécies de mil planetas distintos. Os agentes especiais Valerian e Laureline precisam correr contra o tempo para identificar a ameaça iminente e salvar não apenas Alpha, mas também o futuro do universo.

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Qualquer filme que abra ao som de Space Oddity de David Bowie definitivamente consegue capturar a atenção. No caso de Valerian e a Cidade dos Mil Planetas, esse é um prenúncio de tudo que o filme representa: ele é extremamente chamativo e induz uma curiosidade bem intrigante no espectador... mas luta para se manter à altura do som, ainda que traga resultados – no mínimo – inesperados.

Novo longa da carreira de Luc Besson, famoso por clássicos culturais como Lucy e O Quinto Elemento. O filme reproduz algumas marcas bem definidas de sua carreira, ao mesmo tempo que se mostra seu projeto mais ambicioso. Apesar do fracasso comercial, Valerian é um blockbuster pronto e um eventual clássico entre fãs do cineasta.

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O filme, como mencionado, traz a história de Valerian e Laureline - respectivamente, Dane DeHaan e Cara Delevigne -, dois agentes espaciais especiais (perdão pelo trocadilho) que são designados para um caso misterioso envolvendo o resgate de um animal quase extinto. Isso gera uma sucessão de eventos que escancara uma realidade muito assustadora dentro de Alpha.

Alpha é uma cidade intergalática construída a partir da união de diversas estações espaciais na órbita terrestre. Esse conceito é uma das coisas mais interessantes do filme e é o foco visual da produção, que não poupa seu gordo orçamento para compor um cenário visualmente estonteante. Em termos de construção de mundo, Valerian é um dos projetos com maior potencial dos últimos anos.

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Contudo, o declínio começa no momento que os dois atores principais entram em cena. Apesar de ser um bom ator com papeis elogiados nas costas, Dane DeHaan soa artificial de uma maneira muito incômoda. Há maneirismos em sua voz e um charme galante que não são bem executados, criando um personagem que beira a caricatura. Por outro lado, Cara Delevigne, sempre criticada por seus papeis, se esforça e compensa pelo seu colega de atuação – isso quando o roteiro a ajuda.

Digo isso porque o roteiro do filme talvez seja seu maior problema. Enquanto a ambientação e a construção de mundo criam um elemento único e muito animador, a narrativa fica refém de um “efeito dominó” de causas e consequências cada vez mais exageradas, além de clichês como o romance não-correspondido entre esses personagens. E nem vamos entrar em detalhes com relação aos diálogos, um mais terrível que o outro.

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Ainda assim, há um genuíno senso do lúdico no filme. Por trazer conceitos tão complexos – como locais que existem ao mesmo tempo em duas dimensões diferentes, ou os costumes primitivos de uma raça alienígena “perolada” – o filme eriça a curiosidade do público. Mesmo que, vez ou outra, acabe levando no combo diversas narrações expositivas que explica exatamente o que está acontecendo à nossa frente.

Nesse sentido, o filme consegue abraçar uma dualidade bem excêntrica. Por vezes, ele esquece o senso de realidade e mergulha no formalismo (uma corrente cinematográfica que tenta a todo tempo se distanciar do real ou do verossímil), enquanto continua respeitando suas próprias regras. E é justamente quando faz isso que o filme diverte e desperta o interesse do público.

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Uma pena, porque os personagens são no mínimo rasos. Valerian é um rapaz mulherengo que quer fazer de tudo para conquistar Laureline A moça, por sua vez, de início não quer ceder ao colega de trabalho. Eventualmente, somos apresentados ao Comandante Fillit (Clive Owen, competente no papel), um militar cujos propósitos são misteriosos.

No meio da trama, caem de paraquedas Ethan Hawke e Rihanna, e é justamente quando a famosa artista aparece que o filme perde o controle e desce uma ladeira que parece irreversível. Além de possuir uma cena extremamente gratuita, apenas para lembrar ao público de que “sim, é a Rihanna cantora, aquela que você escuta na rádio” a atuação da artista é extremamente artificial e monotônica.

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No terceiro ato, apesar de algumas coincidências e alguns furos de roteiro bem evidentes, a trama recupera seu fôlego, voltando a gerar um encantamento pela ambientação e pela construção de mundo, ainda que a animação já não seja a mesma do início. De certa forma, é uma queda que abraça a artificialidade dos personagens e traz momentos bem caricatos.

E se você leu até aqui, deve estar pensando algo como "ah, então é um filme com um visual legal e uma história ordinária". E embora isso seja parcialmente verdade, vale lembrar que ele também é um filme de Luc Besson, o que automaticamente o leva em uma jornada um pouco diferente de filmes similares.

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Assim como em O Quinto Elemento, o cineasta busca ressaltar as qualidades estéticas em prol da substância. Isso não é de todo ruim principalmente aqui, já que a concepção visual é a parte mais importante da construção da narrativa. Aliás, o filme compartilha de algumas semelhanças com O Quinto Elemento e fãs mais assíduos poderão reconhecer alguns easter-eggs muito bem escondidos.

Aliás, falando em fãs, Valerian pode ter decepcionado o público atual. Mas especulando um futuro não muito distante, há grandes chances dele se tornar um sucesso cult, principalmente o analisando como a adaptação da graphic novel francesa de Jean-Claude Mézières.

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Em outros aspectos, o filme faz um trabalho bom. A direção de arte, bem como o uso dos efeitos visuais, é digna de prêmios. Em termos de fotografia, o longa traz alguns cenários vastos e belíssimos em contraste com outras paisagens escuras e pessimistas, sem nunca deixar de lado a natureza lúdica e jovial de Besson, de modo que a câmera parece "engolir" esses panoramas da melhor forma possível.

A trilha sonora de Alexandre Desplat traz uma leve sensação de déjà vu, embora isso se deva ao fato dela não acompanhar o exagero a excentricidade visual do filme. Por fim, destaque para o figurino, que apesar de simples, não deixa a desejar em sua composição.

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Valerian e a Cidade dos Mil Planetas é sem dúvidas o projeto mais ambicioso de Luc Besson. E embora o diretor dê seu máximo para elevar a história em um ambiente sci-fi complexo e ultra-futurista, o filme acaba encontrando problemas em suas estruturas mais básicas: narrativa e interpretação.

Ainda assim, é um longa que diverte e encanta visualmente. E que sabe criar uma história fechada sem apelar para continuações, como é o padrão hollywoodiano atual. E se ainda assim você não está convencido, deveria tentar ao menos pela primeira cena ao som de Bowie.

Nota: 3/5