[CRÍTICA] Sekiro: Shadows Die Twice – Desafio, raiva e glória de volta aos games!

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[CRÍTICA] Sekiro: Shadows Die Twice – Desafio, raiva e glória de volta aos games!

Por Márcio Jangarélli

Depois de muita ansiedade, Sekiro: Shadows Die Twice, novo game da FromSoftwaredesenvolvedora da franquia Souls – e da Activision foi lançado no dia 22 de Março coberto em expectativas. Será que o game é tão bom quanto os Souls? É uma versão shinobi da outra franquia? Esse jogo pode mesmo elevar essa categoria que vem crescendo tanto nos últimos anos?

Bom, para responder todas essas dúvidas, jogamos Sekiro, sofremos muito, morremos muito, choramos muito – muito mesmo – e trouxemos nossa análise do game para vocês.

Convoque seu Buda, pegue todas as sementes de cabaça possível, entre no modo stealth e vem com a gente nessa aventura. Review sem spoilers.

Imagens: Divulgação
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Vamos deixar bem claro desde o início: Sekiro é um jogo EXTREMAMENTE difícil. Não dá pra comparar com Dark Souls ou Bloodborne porque são mecânicas diferentes, então talvez você tenha mais facilidade nos outros e aqui sofra muito ou vice-versa. Independente disso, não tem modo fácil nesse game. Essa é a proposta e já tínhamos uma noção disso desde a demo - e por conta dos responsáveis pela criação.

Isso significa que esse não é um jogo pra todo mundo, é feito para um nicho. A temática shinobi/mística cria mais uma peneira, para aqueles acostumados apenas com histórias eurocêntricas ou americanizadas. E a diferença de mecânicas do game dos seus irmãos da FromSoftware também deixa ele um pouco mais específico.

Mas por que falar tudo isso e afunilar tanto? O jogo é ruim por essas coisas? Não. Muito pelo contrário. Ser um game de nicho, profundo nas raízes japonesas e com uma jogabilidade distinta o torna uma experiência única e, em partes, nostálgica.

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A referência que todos vão pegar aqui é Dark Souls - pela desenvolvedora e por ser mais recente - mas Sekiro é muito mais parecido com Tenchu, de PS1, hoje da FromSoftware e Activision, e, bem mais recente, Nioh. Não só por serem games de shinobis/samurais, mas pela jogabilidade. Sekiro seria um novo Tenchu, na verdade, mas acabou se desviando do título durante o desenvolvimento.

Sekiro tem toda a dificuldade possível de um Souls - talvez até mais - mas ele possui muito mais estratégia e stealth envolvidos em sua mecânica. O game não aposta apenas em derrubar um inimigo por ataque e diminuição de HP; o caminho para o sucesso é quebrar a defesa com diversas técnicas de parry e evasão ou usar do stealth para matar ou enfraquecer o oponente antes da luta em si.

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Toda a jogabilidade de Sekiro é primorosa. Completamente fluida, intuitiva, e te oferece caminhos distintos para a execução de um objetivo. Ainda que cada inimigo tenha lá seu ponto fraco, você consegue vencê-lo das mais diversas formas, sempre aprendendo com a sua própria derrota.

O mesmo vale para o cenário e a exploração que, ainda que não seja um mundo totalmente aberto, te proporciona opções diferentes para seguir. Com o sistema das memórias, por exemplo, você pode fazer duas histórias ao mesmo tempo.

Existe, sim, um probleminha aqui. A inteligência artificial do jogo para os inimigos comuns não é das melhores. Às vezes você até dança do lado de um adversário e ele não te vê, às vezes um passo em falso chama um bando todo nas suas costas.

No entanto, para as batalhas mais difíceis, como miniboss e os boss, a IA é mais refinada e cria lutas épicas. Por mais que dê raiva e seja muito difícil, você ainda gosta da batalha e termina ela com um sentimento de “essa luta foi realmente boa”.

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A joia do jogo está na Presa Shinobi, o braço mecânico do Lobo. Ela possui diversas modificações, uma mais maluca e incrível que a outra, para te ajudar na confecção da batalha. Pegando pistas dos inimigos, você descobre fraquezas que os boss, miniboss, etc, possuem que cabem em uma dessas modificações.

Importante ressaltar o quão bacana é o sistema de gancho do game, que te permite subir em praticamente tudo, cria situações de stealth, fuga e batalha sensacionais e eleva a exploração do mapa para outro nível. O gancho, os saltos e as partes escaláveis dos cenários são fatores que acrescentam muito em Sekiro, quando abrem uma dinâmica meio que de puzzles para o game.

A árvore de skills é bem vasta, mas simples de executar e entender. As técnicas são bem simples também, mas eficientes; o que o jogo te desafia é acertar o timing das coisas. Não é porque você dominou executar um combo ou um tipo de defesa que necessariamente está tudo bem. O timing nas batalhas é uma das chaves em Sekiro.

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Outra coisa que diferencia o game dos irmãos Souls é a narrativa. A história de Sekiro ainda não é toda linear, mas não é tão obscura para acompanhar quanto a de Dark Souls.

A narrativa possui uma linha principal própria e bem clara que vai se enriquecendo com a sua exploração. Os cenários dizem muito, conversas aparentemente inofensivas levantam dúvidas, é possível espionar diálogos, aprender muito com o Escultor - por um preço em "chá" - e você fica cada vez mais preso em descobrir tudo o que o jogo tem para te contar.

Também, o universo criado para Sekiro é extremamente rico, bem feito e respeita suas origens. Você tem uma pequena contextualização de início, sobre a guerra em Ashina e quem é o Lobo, mas nada disso te prepara para toda a beleza mitológica que se segue.

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Aliás, quem é o Lobo? Bom, você descobre isso ao longo do game, mas ele é o nosso protagonista, também batizado de Sekiro em algum momento. Mesmo sendo muito silencioso e reservado, o Lobo é um protagonista curiosamente cativante. Talvez seja o mistério, talvez seja a determinação, mas não demora muito para você gostar desse personagem e querer saber mais e mais sobre ele. Pode ser que ver ele morrendo várias e várias vezes também crie simpatia, quem sabe.

Os outros personagens também são muito ricos e bem trabalhados. Você não ganha muita história do passado de nenhum deles, apenas o necessário, quando necessário, mas cada um tem particularidades que os tornam interessantes. Você quer saber mais sobre o Escultor, sobre o Herdeiro, sobre a Emma. Os boss também são muito únicos e despertam esse interesse. Não é só uma batalha, você é colocado em um contexto e entende ele enquanto tenta não morrer e superar o inimigo.

Vale nota que a dublagem em japonês do game é perfeita, nem ousem mudar para o inglês. O clima criado pela junção das vozes, personagens, cenários e situações faz parte da experiência única que é Sekiro.

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E o nome do game tem “shadows die twice” não é à toa. Você vai morrer. Muito. Assim como em Souls, faz parte do jogo morrer e voltar várias vezes até dominar aquela situação. Nesse caso, o conceito é ainda mais elevado; você morre e pode ressuscitar algumas vezes durante a batalha sem ter que perder nada ou voltar para o último save. Essa é uma das dinâmicas mais interessantes de Sekiro porque já te faz entrar em batalha sabendo que vai morrer e calculando suas mortes.

Não só isso, mas essas mortes têm impacto além do financeiro e na experiência. O Lobo retorna dos mortos por conta de uma particularidade em seu sangue, mas isso não é uma benção. Essa “particularidade” atinge aqueles próximos ao Lobo, que você vai conhecendo ao longo do game, os deixando doentes e, se você morrer demais, eles podem morrer também. Existe uma espécie de cura, mas escassa, então você vai sentir o desespero dessas mortes uma vez ou outra.

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Mas o que mais anima em Sekiro é o sentimento que o jogo passa. Mais que Souls, esse game aposta em trazer de volta todo o desafio que os jogos foram perdendo ao longo do tempo.

Sekiro te faz passar raiva. MUITA raiva. É aquele tipo de game que te faz querer quebrar o controle; que você tem que desligar o console e sair da sala pra respirar. Mas é aquela raiva catártica, boa de passar, porque quando você atinge um objetivo, por mais simples que seja, a vitória é gloriosa.

Esse é um sentimento que estava apagado desde a era do PS2 - o começo, não toda a era. Essa coisa de “eu quero vencer isso aqui só de raiva”. Isso é muito bem vindo para quem conhece todas as fases dos consoles e para os novatos na vida dos games - é bom pra esse pessoal aprender que o caminho nos jogos pode ser doloroso.

Aliado a um game extremamente bem feito e que te força aprender jogar para concluir, é algo que vale a pena gastar uns trocados e o seu tempo para vivenciar.

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Nem tudo são flores, porém. Sekiro é um jogo MUITO bonito, mas isso não significa que os gráficos são os melhores. Para quem conhece os games da FromSoftware, não deve ser um estranhamento, mas para os desavisados, Sekiro parece ter gráficos de um ou dois anos atrás. Não incomoda tanto, mas às vezes existe uma pixelação quando você está escondido, por exemplo, que é bem chato.

A câmera em batalha às vezes fica um tanto confusa - talvez a “mira” pudesse funcionar melhor e contornar isso. Não estraga o todo, mas te confunde e pode significar algumas mortes a mais às vezes.

E mesmo que seja admirável criar um game tão nichado, complexo, denso, ele acaba ficando um pouco preso nisso. De novo: não é um jogo pra todo mundo. Players casuais dificilmente vão terminar. É uma aventura que precisa de um engajamento maior e uma disposição para aprender. Também não é algo que todos vão conseguir jogar a qualquer momento. Como dito, é um jogo denso, que te desafia e faz passar raiva. É bom embarcar preparado nessa.

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Sekiro: Shadows Die Twice é mais um acerto gigante para a FromSoftware e para a Activision. Nenhum erro consegue ofuscar o quão excelente esse game é, cumprindo tudo o que promete e mais um pouco. Para os nostálgicos dos jogos mais difíceis e estratégicos e para os jogadores mais novos que querem experimentar algo diferente, não tem como deixar passar essa aventura por Ashina.

Vá preparado para morrer, mas também para voltar várias e várias vezes. O importante em Sekiro é se desafiar, desafiar o game e levar seu objetivo shinobi até o fim. Quando tudo acabar, sua honra vai estar lavada e o sentimento será glorioso.

Mesmo com alguns defeitinhos, Sekiro: Shadows Die Twice leva 4,5 estrelas sangrentas. Pelo sentimento, pela raiva e pela glória.

E vocês, o que acharam de Sekiro? Já jogaram? Se interessaram? Abandonaram? Morreram de raiva? Deixa aí nos comentários!