[Crítica] Operação Red Sparrow – É o filme da Viúva Negra protagonizado pela Mística?

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[Crítica] Operação Red Sparrow – É o filme da Viúva Negra protagonizado pela Mística?

Por Fernando Maidana

Mas será que a história ainda tem um fôlego de originalidade em meio a tantas produções de super-espiãs?

Imagens: Divulgação
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Ficha Técnica

Título: Operação Red Sparrow (Red Sparrow)

Ano: 2018

Lançamento: 01 de Março de 2018 (Brasil)

Direção: Francis Lawrence

Classificação: 18 anos

Duração: 139 minutos

Sinopse: Outrora talentosa bailarina, Dominika Egorova encontra-se em maus bocados quando é convencida a se tornar uma Sparrow, ou seja, uma sedutora treinada na melhor escola de espionagem russa.

Após passar pelo árduo processo de aprendizagem, ela se torna a mais talentosa espiã do país e precisa lidar com o agente da CIA Nathaniel Nash. Os dois, no entanto, acabam desenvolvendo uma paixão proibida que ameaça não só suas vidas, mas também as de outras pessoas.

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Jennifer Lawrence vive uma relação de amor e ódio com o seu público.

Depois de viver a mutante Mística em X-Men: Primeira Classe e Katniss Everdeen em Jogos Vorazes, o mundo voltou seus olhos para a atriz, que se transformou na queridinha de Hollywood.

O problema foi que os estúdios perceberam isso e passaram a explorar ainda mais a imagem de Lawrence, deixando o público cansado de seus protagonismos forçados mesmo quando a atriz entregava um trabalho competente em tela.

Alheia às críticas, a atriz vem expandindo seu currículo com papeis cada vez mais complexos e profundos. Foi assim com o elogiado Mãe! e parece se repetir em Operação Red Sparrow.

Não esperem uma trama recheada de pancadaria visceral e tomadas de tirar o fôlego, como aconteceu em Atômica. Pelo contrário. Aqui, a violência é mostrada de uma maneira muito mais psicológica.

O que não a torna menos chocante!

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A introdução do filme nos apresenta ao contexto que será abordado durante toda a trama.

Vemos Dominika cuidando de sua mãe doente antes de sair de casa e apresentar-se como a mais importante bailarina da Escola Bolshoi. Ao mesmo tempo, o agente da CIA, Nate Nash, encontra-se com um informante para trocar informações confidenciais.

A direção de arte de Francis Lawrence é impecável mesmo em ambientes completamente opostos.

O diretor consegue destacar a beleza nos movimentos de dança dos bailarinos diante dos holofotes, assim como por mais que Nate se encontre com seu informante em um ambiente escuro e misterioso, o tempo todo percebemos tudo o que acontece ao seu redor.

Mas é claro que precisamos de uma reviravolta para a história, de fato, ter início.

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Durante uma das apresentações mais importantes de sua vida, Dominika sofre um acidente que acaba de vez com sua carreira.

Enquanto isso, uma ronda rotineira da polícia assusta Nate, que, desesperado por proteger seu informante, foge e põe fim à sua operação na Rússia.

É aqui que os caminhos de nossos personagens começam a se enveredar a um mesmo destino.

Com o fim de seu envolvimento com o Balé Bolshoi, a Escola logo deixará de pagar o aluguel de seu apartamento, assim como as despesas médicas de sua mãe. A par do que acontece com Dominika, seu tio lhe oferece uma chance para conseguir muito dinheiro.

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Seu tio é ninguém menos que o chefe da SVR, o Serviço de Inteligência Russa.

Desesperada por conseguir dar uma condição de vida digna à sua mãe, Dominika aceita a proposta de seu tio, mas é testemunha de um crime e sua única chance de continuar viva é tornar-se uma Red Sparrow.

Red Sparrow é um programa de treinamento que prepara homens e mulheres para extrair informações de agentes de outras Companhias de Inteligência ao redor do mundo.

Aí você se pergunta: É agora que ele se torna a Viúva Negra?

NÃO!

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Ao contrário do que possa parecer (e do que os trailers nos fazem pensar) a Operação Red Sparrow não forma super-agentes. Na verdade, ela forma super-amantes!

O treinamento inclui certa perícia em elementos infiltrativos e até mesmo uma dose de resistência a técnicas de tortura, mas em nenhum momento é sugerido que os Red Sparrow são combatentes ou estrategistas.

Suas missões envolvem sedução, conquistar a confiança do inimigo e extrair o que precisam dele, mas sem o uso da violência. Mas isso não torna o treinamento menos árduo.

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É durante o treinamento que temos algumas das cenas mais chocantes do filme.

Dominika é humilhada, sofre tentativas de estupro, é julgada por algo que parece absurdo conceber, mas segue adiante. Inabalável.

Ao concluir o treinamento, ela recebe sua primeira missão: Descobrir quem é o informante de Nate Nash, por quem ela acaba se apaixonando.

Talvez essa seja uma das grandes falhas do filme.

O tempo todo, vemos Dominika como uma mulher forte que faz de tudo para alcançar seus objetivos, mesmo que isso a faça lutar contra todos em seu caminho.

O relacionamento entre os agentes enfraquece a imagem que é construída durante toda a trama.

Como se não bastasse, a química entre os atores não funciona em tela. Joel Edgerton entrega uma performance apagada, ofuscada ainda mais pelas boas atuações de Jeremy Irons, Matthias Schoenaerts e da própria Jennifer Lawrence.

Nós não conseguimos sentir aquela paixão proibida, que faz com que os agentes desafiem uma missão de risco para proteger um ao outro.

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Mas um dos principais problemas da produção é o seu ritmo.

Mesmo se tratando de uma história focada em jogos de espionagem e muito mais puxada para o drama do que a ação, ainda assim a trama discorre de maneira lenta e arrastada.

É possível sentir que boa parte das cenas poderiam ser cortadas sem que isso prejudicasse o roteiro.

Aliás, essas cenas acabam por adicionar alguns furos ao roteiro, ou pelo menos deixar o espectador pensando que aquela solução foi muito conveniente para a reviravolta final.

Pelo menos, a trama te recompensa com algumas reviravoltas satisfatórias. Afinal de contas, não faria sentido um filme com mais de duas horas se desenvolver de maneira lenta para no final ser exatamente aquilo que você estava imaginando o tempo todo!

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Mais uma vez precisamos elogiar as atuações. Principalmente por se tratar de um filme com pouca ação, os atores precisam se entregar ao máximo para convencer quem está assistindo.

Jeremy Irons rouba a cena sempre que aparece. O ator consegue ofuscar a grande atuação de Lawrence e até mesmo o surpreendente Schoenaerts.

Matthias Schoenaerts, o tio de Dominika, é extremamente competente em seu papel. Ele nos entrega uma performance fria e ao mesmo tempo deturpada, sempre escondendo algo malicioso por trás de suas palavras gentis.

Mas o grande destaque vai para Charlotte Rampling, a instrutora dos Red Sparrow. A atriz está assustadoramente confortável em seu papel, de um modo que é possível perceber sua devoção pelo país e o quanto ela se sente bem em "torturar" seus alunos. Mas não porque ela é uma pessoa ruim, mas porque isso os transformará em agentes melhores para servir à Rússia.

Talvez seja por termos atuações tão sólidas e consistentes que Joel Edgerton fique apagado. Até mesmo o alívio cômico do filme é mais interessante que o agente Nate.

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Operação Red Sparrow vem no embalo de Atômica e pode chamar a atenção de um público que gostaria de ver a Viúva Negra ganhando sua própria produção. Afinal de contas, as semelhanças são óbvias.

No entanto, ele consegue se destacar por seus méritos próprios, mesmo que possua um ritmo lento e que pode desagradar parte do público. Para aqueles que conseguirem acompanhar a jornada com paciência, a recompensa é gratificante, mas vale lembrar que se trata de um filme que exige esse tipo de artifício.

As atuações sólidas e a direção impecável de Francis Lawrence são o grande destaque do filme, além de termos mais uma protagonista feminina forte para integrar um time que vem se tornando cada vez mais significante nas telonas.

Dominika Egorova pode não ser o papel de maior destaque da carreira de Jennifer Lawrence, mas é certamente um dos mais fortes e complexos pelos quais a atriz já passou.

Se você quer um filme recheado de cenas de ação, talvez seja melhor procurar outra opção. Mas se você quer pensar e ser surpreendido, Operação Red Sparrow é uma escolha ousada, mas que te deixará com aquela sensação de valeu a pena!

Nota: 3,5/5