[CRÍTICA] O Mundo Sombrio de Sabrina (Parte 2) – Louvado seja o Senhor das Trevas!

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[CRÍTICA] O Mundo Sombrio de Sabrina (Parte 2) – Louvado seja o Senhor das Trevas!

Por Gus Fiaux

Após uma breve espera, os fãs de O Mundo Sombrio de Sabrina finalmente podem se deliciar com a segunda parte da série, lançada na última sexta-feira (05). Agora, Sabrina Spellman precisa lidar com diversos problemas entre o oculto e o mortal, enquanto a ascensão de Satã parece cada vez mais iminente.

Nós já fizemos nossa devida maratona da nova leva de episódios da série, e aqui respondemos às suas questões: afinal, a segunda parte da aventura consegue superar ou manter o nível da primeira? Descubra a seguir!

Créditos: Netflix

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Louvado seja o Senhor das Trevas!

Entre tantos lançamentos semanais - alguns facilmente ofuscados pela estrondosa onda de conteúdo novo -, O Mundo Sombrio de Sabrina definitivamente foi uma das maiores surpresas vindas da Netflix no ano passado. Lançada em outubro, a série trouxe uma série de elementos sobrenaturais e obscuros que a tornam bem diferente de qualquer série adolescente por aí.

E agora, a mágica está retornando graças à segunda parte, que chegou à plataforma de streaming na última sexta-feira (05). Sabrina Spellman está de volta, mas seus problemas e preocupações estão bem diferentes, agora que ela está tentando renunciar seu "lado humano" desde que assinou o Livro da Besta e, consequentemente, vendeu sua alma de vez.

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Por conta disso, a série realmente ascendeu ao patamar de seu título, tornando-se "sombria" como o mundo em que a protagonista vive. Se os 11 primeiros episódios eram um atestado sobre a perda da inocência (como uma ótima parábola para a transição entre adolescência e vida adulta), os nove novos episódios são um mergulho nas profundezas do inferno da alma.

Porém, o que mais encanta em O Mundo Sombrio de Sabrina é justamente como a série subverte temas reais para que se encaixem em seu perfil profano. Por conta disso, cada episódio da segunda parte da série toca em assuntos séries - transgeneridade, preconceito, machismo institucionalizado e até mesmo chacinas escolares -, tudo sob uma fachada de fantasia.

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Aliás, o que mais encanta é como a série não perde seu "ar adolescente" - e isso pode incomodar algumas pessoas, especialmente aquelas que têm asco de tramas adolescentes mesmo quando o produto é voltado para esse tipo de público (fazer o que). Aqui, por mais que as apostas estejam altas, Sabrina ainda precisa lidar com desafios desse período vertiginoso da vida.

Tudo isso, é claro, confere a O Mundo Sombrio de Sabrina um pé na realidade. Mas não pense que tramas adolescentes equivalem a melodrama desnecessário. A série renega isso mais de uma vez, recusando-se, por exemplo, a insistir no triângulo amoroso entre Sabrina Spellman, Harvey Kinkle e Nick Scratch - conferindo uma maturidade que é muito bem-vinda à trama.

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Por outro lado, essa nova leva de episódios realmente fez com que seus personagens crescessem - e não apenas os bruxos. Em Greendale High, temos um núcleo próprio - e embora Harvey seja escanteado ligeiramente, personagens como Theo e Roz ganham força em suas tramas individuais, tornando-se grandes aliadas, mesmo sem poderes hereges.

Por outro lado, é óbvio que Sabrina passa pela maior transformação. Na temporada, ela lida com suas responsabilidades como bruxa, enquanto sente a pressão cada vez maior do lado de Satã. É ela quem vem como um "anticristo", no sentido de subverter as expectativas do que esperamos de um protagonista - e felizmente, isso só confere mais ambiguidade e profundidade à personagem.

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Os coadjuvantes, por outro lado, possuem tramas muito fortes e particulares. Minha personagem favorita, nesse sentido, talvez tenha sido Madame Satã (ou Lilith, ou Sra. Wardwell). Aqui, ela ganha força em uma história mais intimista, embora ainda tenha seus trejeitos adoravelmente afetados. Por outro lado, outro que cresce bastante como personagem é o Padre Blackwood.

Se na primeira parte, ele era apenas um antagonista menor, agora podemos dizer que ele é o "grande vilão" até certo ponto. Sua participação mostra a estruturação e institucionalização de uma religião, e como a doutrina se afasta de um "deus" para atender aos desejos do homem. Por mais que a premissa da série seja satânica, isso pode ser incorporado a virtualmente qualquer religião.

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E é justamente nisso que a série encontra um forte: personagens que não foram tão bem desenvolvidos na primeira parte recebem um tratamento especial agora, enquanto outros são deixados um pouco mais de lado - mas sem perder sua importância. Ambrose, por exemplo, deve ter uma grande participação na próxima temporada, mas é bem escanteado por enquanto.

Prudence, por sua vez, ganha uma trama mais interessante e encorpada, sem deixar de lado sua personalidade forte e marcante. No fim das contas, será interessante descobrir o que o futuro reserva para ela - especialmente em sua próxima missão, que vai envolver o Padre Blackwood, seu pai renegado. Além disso, outras figuras como Zelda Spellman também possuem futuros promissores.

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Um grande acerto dessa nova leva de episódios é o ritmo. Embora seja vista como uma "segunda temporada" por muitos, a Parte 2 de O Mundo Sombrio de Sabrina é mais como a metade final da primeira temporada. E isso faz com que tudo transcorra de uma maneira rápida, com cada episódio trazendo um grande acontecimento que muda o status quo da série.

Se os quatro primeiros episódios parecem apenas uma preparação do que está por vir, os cinco finais apostam num verdadeiro (e quase literal) apocalipse. A progressão é fantástica, e assim que as cartas estão na mesa, não há tempo para respirar. Destaco o sexto episódio, que apesar de ser quase um "filler", avança a história da temporada e ainda termina em um clímax de tirar o fôlego.

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Nos quesitos técnicos, a série está melhor do que nunca. Os efeitos visuais funcionam na maior parte, mas são poupados de forma bem inteligente. Entretanto, os aplausos vão para toda a direção de arte da série, que não apenas tem a difícil tarefa de criar um mundo herege e oculto, mas também lidar com a estética anacrônica e atemporal - e isso está melhor do que nunca nesses novos episódios.

Outro destaque vai para o departamento de figurino. Os visuais e as roupas criam um ar estiloso e único, diferente de todas as séries teen da atualidade. A direção dos episódios é ágil e coesa, quase como se toda a temporada fosse comandada por um único diretor - ainda que cada qual com suas particularidades. E a fotografia é outro destaque, dessa vez sem os planos desfocados em excesso.

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Um elogio à parte vai para a pesquisa feita pelos roteiristas e diretores para representar a bruxaria e o ocultismo de uma forma fiel, ainda que com contornos mais fantásticos. Mais uma vez, vários rituais, invocações e poções seguem à risca algumas práticas pagãs - e para os interessados pela área, chega a ser recompensador ver um baralho de tarot sendo usado do modo certo.

Mais encantador ainda é ver como a série segue fiel à sua tradição. Não há um lado bom ou ruim, e tudo se mescla em diversos tons de cinza e vermelho. Falando em vermelho, a violência e o gore da temporada também foram elevados à enésima potência. Se você tem o estômago fraco, várias cenas podem causar desde um ligeiro desconforto às ânsias de vômito.

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No fim das contas, a segunda parte de O Mundo Sombrio de Sabrina mostra que a série veio para ficar. No meio de bruxas, criaturas demoníacas e conjurações obscuras, é uma das que mais retrata esse mundo de forma satisfatória e com um estilo único. Além disso, a própria narrativa se encaminha para transformar a série em uma sucessora espiritual de Buffy: A Caça-Vampiros e dos primeiros anos de Supernatural.

Com um futuro promissor pela frente - e personagens que crescem a cada episódio, a série teve uma excelente leva de episódios. Mais uma vez, entre tantos lançamentos semanais, O Mundo Sombrio de Sabrina se prova como um destaque gigantesco da Netflix, figurando ao lado de outras séries divertidas e sombrias, como Stranger Things.

NOTA: 5/5