[CRÍTICA] Mulher-Maravilha – O Universo DC no caminho certo!

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[CRÍTICA] Mulher-Maravilha – O Universo DC no caminho certo!

Por Gus Fiaux
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Ficha Técnica

Título: Mulher-Maravilha (Wonder Woman) Ano: 2017 Lançamento: 1º de junho de 2017 (Brasil) Direção: Patty Jenkins Classificação: 12 anos Duração: 141 minutos

Sinopse: Antes de ser Mulher-Maravilha, ela era Diana, princesa das Amazonas, uma guerreira treinada. Quando um piloto cai na Ilha de Temíscira e fala do conflito no mundo exterior, ela deixa seu lar para lutar em uma guerra para terminar todas as guerras, descobrindo seus poderes e seu verdadeiro destino.

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Mulher-Maravilha – O Universo DC no caminho certo!

Com a grande quantidade de filmes de super-heróis nos cinemas todos os anos, os estúdios aprenderam a fazer histórias sobre seres extraordinários salvando o mundo. Contudo, ainda é difícil dar um rosto a esse “mundo” e mostrar por quais motivos o herói se importa o suficiente para salvar vidas inocentes.

Embora isso seja visto com clareza em filmes como Homem-Aranha 2, Homem de Ferro ou Batman: O Cavaleiro das Trevas, tem se tornado uma condição cada vez mais escassa em meio ao cenário de blockbusters em Hollywood. E, remando contra a maré, Mulher-Maravilha acerta em cheio nisso, presenteando os fãs com o primeiro excelente filme do Universo Estendido da DC Comics.

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Ambientado cerca de cem anos antes dos eventos de Batman vs Superman: A Origem da Justiça, o filme conta a origem de Diana, a filha da Rainha Hipólita e princesa da Ilha de Temíscira, habitada pelo lendário povo das Amazonas. Desde cedo, ela se mostra ávida para o combate, e é treinada por sua tia Antíope ao longo dos anos, para cumprir um destino nebuloso.

Tudo muda em sua vida com a chegada de Steve Trevor, um jovem espião britânico que acaba sofrendo um acidente próximo à Ilha Paraíso. Consigo, ele traz as notícias da Primeira Guerra Mundial, que vem assolando o mundo externo à ilha. Mesmo contra a vontade de sua mãe, Diana se junta ao soldado e deixa sua casa, decidida a impedir aquele que ela crê estar nos bastidores: Ares, o temido Deus da Guerra.

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Contrariando tudo que o Universo Estendido da DC Comics havia feito até o momento, Mulher-Maravilha é um filme deliberadamente esperançoso e otimista. Há uma emoção muito forte vindo da heroína e da relação entre os personagens, criando um laço harmonioso na trama que acaba conferindo uma vivacidade extra à origem da deusa.

É muito fácil ver em Diana um amor e um cuidado genuíno pela humanidade, tornando-a uma heroína icônica e poderosa, mas acima de tudo, relacionável com o público. Dessa forma, o filme abandona um tom mais frio e cínico para dar lugar a uma deusa entre homens, que sabe o seu lugar entre eles e também sabe sua responsabilidade. Dessa forma, a Mulher-Maravilha consegue ter um elo com o público ainda mais profundo que o Superman de Zack Snyder, por exemplo.

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E grande parte disso deve-se, principalmente, ao talento exuberante de Gal Gadot. Inicialmente criticada por sua escalação no papel, a atriz prova que pode fazer o público pagar a língua, dando uma performance sagaz, bem-humorada e carregada com genuína emoção, sem deixar de lado o preparo marcial da personagem.

Ao seu lado, o elenco continua mantendo-se à altura, principalmente na Ilha de Temíscira. Tanto Connie Nielsen (como Hipólita) quanto Robin Wright (Antíope) interpretam personagens femininas que, apesar de atuarem em campos opostos – uma é o coração, e a outra, os músculos – conseguem complementar seus papeis, o que dá a impressão de um lar ainda mais acolhedor para Diana.

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No lado humano, Chris Pine brilha como Steve Trevor. O ator compartilha de uma química muito poderosa com Gadot, e juntos, eles formam um casal compreensível, cujo relacionamento ajuda a trama a crescer, em vez de atrapalhar a narrativa com um subplot descartável.

Todos os outros personagens – Etta Candy (Lucy Davis), Sameer (Saïd Tahgmaoui) e Charlie (Ewen Bremmer), por exemplo – são até certo ponto caricatos e superficiais. Contudo, isso serve à trama, criando arquétipos facilmente identificáveis e se apropriando de uma linguagem mais originária das histórias em quadrinhos.

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Com relação aos vilões, uma análise superficial pode indicar que todos – principalmente Ludendorff e Doutora Veneno - Danny Huston e Elena Anaya, respectivamente – são unidimensionais e pouco aprofundados. Embora isso também seja verdade, é curioso analisar que, no conjunto da obra, eles servem como contraponto direto à Mulher-Maravilha e a Steve Trevor.

Ares, por sua vez – parte central de uma reviravolta arruinada por alguns spoilers revelados antes do tempo pelo próprio estúdio – é um personagem que, apesar do pouco tempo de tela, consegue estabelecer suas motivações de uma forma clara e simples, o que o torna compreensível e palpável. Ao mesmo tempo, seus poderes são retratados de uma forma bem instigante.

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As cenas de ação, por sua vez, são de tirar o fôlego. Por vezes, até diria que elas figuram entre as melhores sequências de ação de filmes de super-heróis, de forma geral, usando um esquema de coreografia bem planejado. Ao mesmo tempo, o CGI contribui para as sequências, dando mais profundidade e beleza estética – com exceção, talvez, apenas do conflito final.

Um recurso utilizado extensivamente é o slow motion, ou a “câmera lenta”. Contudo, as sequências que dispõem desse tipo de cena não soam gratuitas ou plastificadas. Em vez disso, o slow-mo ajuda a situar o espectador na ação, sem que ele acabe ficando perdido em meio ao espetáculo visual.

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E com isso, precisamos parabenizar a grande criadora por trás do filme. A diretora Patty Jenkins se prova mais que digna de seu cargo, coordenando diversos aspectos técnicos do filme a partir de uma perspectiva organizada e muito bem estruturada. É visível o cuidado da cineasta em adaptar da melhor forma possível o roteiro de Allan Heinberg e Geoff Johns.

Destaque também para a fotografia de Matthew Jensen, que cria um belo contraste entre o azul e o laranja, cores muito presentes na divulgação do longa. Essa transição acaba servindo como uma bela alegoria para a passagem do mítico à guerra. A música composta por Rupert Gregson-Williams também é digna de nota, compondo uma atmosfera formidável e servindo para dar impacto sobretudo às cenas de ação.

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A montagem e a edição acabam tendo alguns pequenos problemas, principalmente para criar a continuidade entre as cenas. Porém, isso é facilmente esquecido em meio à qualidade do produto como um todo. Certamente o público sairá do cinema com uma experiência completa, sem depender de edições estendidas ou cenas adicionais para entender o filme.

Com relação à inserção do filme no Universo Estendido da DC Comics, vale ressaltar que é um aspecto mínimo do longa, restrito apenas à primeira e à última cena do filme. Isso mostra que o estúdio aprendeu a se focar no presente, sem querer estabelecer um futuro sem bases. E por falar em futuro, algumas coisas são deixadas em aberto e podem ser exploradas em novos filmes, como por exemplo, a relação de Diana com sua mãe e Temíscira após o final da Primeira Guerra Mundial.

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Em linhas gerais, Mulher-Maravilha é um filme belo. E apesar de sua protagonista ser uma semideusa quase imbatível, o longa se prova bastante humano. Humano em sua construção e humano nas relações entre os personagens. Mesmo por trás de todo o show visual, há um coração pulsante e uma alma vívida.

O filme não apenas injeta humor, diversão e leveza ao DCEU, mas também consegue se provar em meio aos outros filmes de super-heróis da leva atual, mostrando sua própria personalidade e seu próprio pulso.

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E é por toda essa humanidade que temos aqui um filme delicado, bonito e empolgante. Certamente uma estreia solo digna para a maior heroína já criada nas histórias em quadrinhos, graças a todo o talento e esforço do elenco e da equipe presente, sobretudo Gal Gadot e Patty Jenkins.

Além de sua estonteante narrativa própria, Mulher-Maravilha traz novos ares ao Universo Estendido da DC Comics nos cinemas, e com sorte, essa mesma corrente deve envolver o aguardado Liga da Justiça.

NOTA: 5/5