[CRÍTICA] Manto e Adaga (2ª Temporada) – Nem tudo é preto e branco!

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[CRÍTICA] Manto e Adaga (2ª Temporada) – Nem tudo é preto e branco!

Por Gus Fiaux

Embora não seja a série mais conhecida ou popular da Marvel no momento, Manto e Adaga fez um grande estouro em sua estreia no ano passado. Agora, retornamos para um segundo ano ao lado de Tandy Bowen Tyron Johnson, com dinâmicas invertidas e um vilão ainda mais perverso!

Lidando com temas sociais importantes e com elementos da natureza humana mais sombria, a série passou por uma desconstrução completa para nos mostrar que, às vezes, nem tudo é preto e branco. E aqui, você pode conferir o que achamos do segundo ano de Manto e Adaga!

 

Créditos: Disney/Freeform
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Manto e Adaga (2ª Temporada) - Nem tudo é preto e branco!

É curioso pensar que, na era dos filmes e séries de super-heróis, alguns produtos são deixados de lado pelo público - ainda mais em um mundo em que Vingadores: Ultimato está prestes a se tornar a maior bilheteria do mundo. Ainda assim, Manto e Adaga não é a série mais popular do momento - e isso é uma pena.

A série estreou no ano passado, e embora tenha sido pouco divulgada, acabou se provando uma das maiores surpresas da Marvel TV, conquistando fãs fiéis que estavam desesperados para ver como o segundo ano poderia incorporar mais elementos dos quadrinhos e estabelecer a nova jornada de Tandy Bowen e Tyrone Johnson.

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Na trama, vemos uma verdadeira inversão de valores. Se a primeira temporada nos apresentou Tyrone Johnson como um rapaz com a vida consolidada e uma família carinhosa, ele começa a temporada foragido de casa, perseguido por um "assassinato" que não cometeu. Já Tandy Bowen deixa de ser uma moradora de rua e passa a morar com sua mãe.

Isso, por si só, já estabelece um dos elementos mais recorrentes dos quadrinhos da dupla: os dois sempre estão trocando de papéis - seja de poderes ou de dinâmica de vida. Só isso já é o suficiente para ditar os caminhos da temporada, criando uma trama em que nenhum dos dois está totalmente preparado para suportar sua "nova vida".

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Mas a dupla central não é o único destaque do longa. Embora Aubrey Joseph e Olivia Holt deem uma interpretação formidável, indo desde um humor mais ácido à tragédia cotidiana, outros personagens (e seus respectivos atores) também ganham mais espaço, criando um elenco consistente e amadurecido em relação ao primeiro ano.

Emma Lahana é o maior exemplo disso. A atriz já havia sido um dos grandes destaques da primeira temporada, no papel da detetive Brigid O'Reilly, agora ela retorna com força dupla, interpretando também o lado "sombrio" da policial, conhecida como Mayhem. É uma performance sólida e que realmente aborda a dualidade da personagem.

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A trama, aliás, está mais madura. Tudo bem que o primeiro ano já tocava em temas sensíveis, como brutalidade policial e abuso de drogas - elementos que, apesar de muito discutidos atualmente, são atemporais. No entanto, agora temos tramas ainda mais densas, envolvendo o tráfico sexual e o abuso psicológico de mulheres.

Isso é o que motiva Tandy a entrar em uma missão e trazer consigo Tyrone. De certa forma, se a primeira temporada foi bem focada na jornada pessoal de Manto, o segundo ano é uma verdadeira desconstrução da Adaga - com direito à uma evolução significativa de seus poderes e uma tragédia passada retornando para assolá-la.

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Por outro lado, é necessário dar um aviso: se você não gostou da primeira temporada, provavelmente não vai se encantar muito com o segundo ano. E isso porque Manto e Adaga é uma série sobre super-heróis, e não de super-heróis. É uma série sobre como seres humanos normais podem usar seus poderes em situações cotidianas.

E isso, obviamente, não significa que Tandy e Tyrone não sejam tão heroicos quanto possam ser. No entanto, a série se propõe a fazer uma desconstrução, tornando essas figuras ainda mais humanizadas e ambivalentes. Não espere preto no branco ou um foco em confrontos épicos - embora a temporada tenha lá sua parcela de lutas incríveis.

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Além disso, a temporada evoluiu muito em aspectos socioculturais. Se, na primeira temporada, percebemos que elementos do vodu são importantes para o desenvolvimento da trama - mas aqui, eles estão em completo destaque, principalmente com a presença dos Loa, divindades da religião que mistura toques de cristianismo com crenças de matriz africana.

E essa trama respinga diretamente na história do vilão da temporada, o diabólico D'Spayre - que apesar de cometer atos hediondos, possui uma história de origem complexa e madura (mais uma vez, não espere por unidimensionalidade aqui). É mais do que interessante acompanhar o desenvolvimento de Tandy e Tyrone ao lado de seu novo antagonista.

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Em técnica, a série também evoluiu bastante. Os efeitos visuais são usados com parcimônia - até porque, venhamos e convenhamos, não há muita necessidade de efeitos na hora de retratar os poderes da dupla -, mas ainda assim, há cenas que se beneficiam muito da computação gráfica, com sequências icônicas e que realmente nos fazem vibrar.

No entanto, o verdadeiro destaque vai para a música. Se a trilha sonora já era um elemento importante na primeira temporada, aqui ela adquire um papel ainda mais central - sendo inclusive uma parte importante da mitologia de D'Spayre. Aliás, a temporada faz um ótimo trabalho ao "solidificar" conceitos abstratos de um modo muito original.

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Além disso, a série prova o que já conseguiu fazer em seu primeiro ano: construção lenta, mas objetiva. Talvez seja a série que melhor trabalha a ideia de "slow burn" dentro das diversas produções de super-heróis, uma vez que o showrunner Joe Pokaski sabe até quando cada arco pode durar, sem se prolongar em tramas desnecessárias.

É justamente essa construção que diferencia Manto e Adaga de outras séries de super-heróis. A série pode não ser um espetáculo de lutas e cenas épicas, mas sabe desenvolver seus personagens de um modo bem construtivo, além de manter uma linha narrativa que não é cansativa. De muitas formas, a série é, até o momento, a mais consistente em sua proposta, dentre vários lançamentos de super-heróis.

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Por essas e outras, Manto e Adaga continua se destacando - e realmente é uma pena que a série não seja tão difundida entre os fãs. Até porque, de forma mais direta, a série parece ser escrita por fãs - no sentido mais puro da expressão. Os personagens têm o tipo de desenvolvimento que apenas quem realmente os ama poderia escrever.

E isso é recompensador, tendo em vista que a série nunca deixa de agradar - ao mesmo tempo em que estabelece uma linha tênue entre esse "agrado" aos fãs e uma narrativa original e surpreendente. Mesmo suas reviravoltas mais simples não são previsíveis, e o resultado é uma linha de história gratificante, tanto para quem assiste quanto para a dupla de heróis.

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E é justamente por conta dessa consistência que Manto e Adaga é uma das melhores - senão a melhor - série televisiva da Marvel até o momento. Mesmo que não seja lá o tipo de série "para todo mundo". É uma série sobre super-heróis que sabe desenvolver o lado mais humano desses personagens incríveis.

Além disso, a season finale serve para abrir uma série de possibilidades. Ainda não sabemos qual será o destino de Tandy Bowen e Tyrone Johnson, mas a essa altura do campeonato, não é difícil pensar que o futuro dos dois será brilhante - ainda mais que um crossover com Fugitivos está mais próximo do que nunca.

NOTA: 5/5