[CRÍTICA] Liga da Justiça – Sem Limites!

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[CRÍTICA] Liga da Justiça – Sem Limites!

Por Gus Fiaux

E hoje, chega aos cinemas brasileiros um dos filmes mais esperados do ano. Após uma produção obscura e turbulenta, Liga da Justiça pairou no horizonte de muitos envolto por uma nuvem de desconfiança e medo.

O filme teria que lidar com consequências negativas de alguns dos filmes anteriores do Universo Estendido da DC Comics e algumas notícias recentes – como o tempo de duração reduzido – fizeram os fãs se preocuparem com a qualidade da obra.

E no fim o que tivemos foi uma grata surpresa…

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Ficha Técnica

Título: Liga da Justiça (Justice League)

Ano: 2017

Data de lançamento: 15 de novembro (Brasil)

Direção: Zack Snyder

Classificação: 12 anos

Duração: 121 minutos

Sinopse: Motivado por sua fé restaurada na humanidade e pelo sacrifício altruísta do Superman, Bruce Wayne procura a ajuda de sua recente aliada, Diana Prince, para montar uma equipe e enfrentar uma ameaça ainda maior.

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Liga da Justiça - Sem Limites!

Mesmo os maiores fãs do Universo Estendido da DC Comics podem concordar que os primeiros anos da franquia nos cinemas foram polêmicos. Se Homem de Aço já tinha dividido opiniões na época de seu lançamento, Batman vs Superman: A Origem da Justiça surgiu para ser o filme de super-heróis mais controverso da história. E Esquadrão Suicida, para ser puramente ruim.

As coisas passaram a mudar fortemente em 2017. Mulher-Maravilha veio ao front de batalha e, apesar de conter um ou outro errinho pequeno, trouxe um grande respiro à série de filmes, justificando sua imensa bilheteria e popularidade. Liga da Justiça não apenas concretiza o caminho iniciado pelo longa da heroína, como também traz uma das melhores aventuras de super-heróis do ano.

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Em vez de ter um plot convoluto e pseudo-complexo como Batman vs Superman, o longa prefere optar pela simplicidade. A trama é consideravelmente menor e mais coesa, com pequenos vislumbres para futuros projetos, sem transformar o filme em um trailer de duas horas para o que está por vir na franquia cinematográfica da editora.

Aqui, acompanhamos Bruce Wayne reunindo um grupo de heróis ao notar a estranha presença de criaturas assombrosas surgindo no mundo. Tratam-se dos Parademônios, membros do exército do Lobo da Estepe, despertos pela recente atividade das Caixas Maternas, objetos de grande poder cósmico escondidos na Terra.

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A partir daí, somos apresentados a diversos personagens e como eles interagem entre si pela chance de salvar o planeta. Conhecemos um Batman mais leve e esperançoso; uma Mulher-Maravilha com seus próprios motivos para se envolver na batalha; e um Aquaman recluso e beberrão, que esconde em si um espírito heroico incansável.

Mas as verdadeiras adições brilhantes da equipe são o Flash e o Ciborgue. Enquanto Ezra Miller combina o melhor de Barry Allen e Wally West em um único personagem, o ator consegue transmitir um talento tão grande tanto para o cômico quanto para o drama. Por outro lado, Ray Fisher representa o herói mais trágico e sombrio da equipe e ainda assim consegue encaixar no tom do grupo e ter momentos genuínos de brandura.

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Por outro lado, em termos de ameaça, o filme não se preocupa em apresentar um vilão muito memorável. E, embora isso possa soar um problema para alguns, o Lobo da Estepe de Ciarán Hinds cumpre seu propósito. Sem querer traçar comparações, mas já comparando, ele serve como Loki serviu para Os Vingadores - tendo a função de unir a equipe e apresentar um perigo superior, e nada além disso. Porém, o que lhe falta em carisma, lhe sobra em ameaça.

Além deles, outros personagens secundários são apresentados e prometem ter papeis fundamentais no futuro da DC Comics no cinema. Mera, Comissário Gordon, Henry Allen e Silas Stone dão as caras e todos estão minimamente promissores. O gosto final é de "quero mais", uma vez que os filmes solo de cada personagem poderão desenvolver melhor seus coadjuvantes.

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Mas, é claro, você deve estar se perguntando sobre o maior herói de todos os tempos. Muito bem escondido pelo material de divulgação do filme, o Superman tem uma participação bem pequena, mas indispensável. E se você gostou ou não da performance de Henry Cavill como o personagem até aqui, pode ficar aliviado. Essa é a melhor versão do Homem de Aço em um filme do Universo Estendido da DC Comics.

Cavill, aliado pelo roteiro, consegue trazer à vida um herói muito mais gentil, esperançoso, divertido e até mesmo inocente, remetendo às melhores fases do herói nos quadrinhos, como na Era de Prata e atualmente, no Renascimento DC. Sendo bem sincero, é quase como se Christopher Reeve tivesse reencarnado no corpo do ator britânico.

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E por mais que até agora tenha tecido só elogios, há algumas críticas pontuais a serem feitas. Embora a trama seja mais simples e coerente, há uma porção de eixos narrativos referentes às Caixas Maternas. E infelizmente, nenhum deles funciona. Tudo o que temos são explicações confusas e muito abstratas, que acabam confundindo um pouco o espectador.

Em termos narrativos, a edição do filme também pode ser um pouquinho ineficiente, em alguns casos. Há cenas em que o corte muito abrupto provoca uma sensação de "falta de respiro". Basta notar as cenas envolvendo os flashbacks da primeira chegada do Lobo da Estepe à Terra. Apesar de recheadas com easter-eggs do Universo DC, as cenas são um tanto quanto truncadas.

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Contudo, talvez o maior problema esteja na parte visual, no que diz respeito ao uso de computação gráfica para algumas sequências específicas. O Lobo da Estepe, na maior parte de sua aparição, é um personagem nada convincente e artificial, uma vez que o CGI não parece estar renderizado o suficiente para dar a ele aspectos básicos, como a textura da pele. Além disso, há um problema incômodo na sincronia da dublagem do personagem com o movimento de seus lábios, embora seja pequeno.

O famigerado bigode de Henry Cavill também marca presença, mesmo não estando lá. O estúdio gastou milhões para apagar os pelos faciais do ator, que precisou mantê-los durante as regravações do filme. E ainda assim, ficam bem evidentes todas as cenas em que seu rosto foi modificado digitalmente, uma vez que o ator perde até a movimentação natural dos lábios.

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Supusemos também, por especulações de bastidores, que um dos pontos mais problemáticos do filme era a direção. Com a saída de Zack Snyder, após uma tragédia familiar, e a entrada de Joss Whedon, que conduziu regravações significativas para a trama esses rumores não podiam ser mais equivocados, para supresa geral.

Liga da Justiça é evidentemente um filme de Snyder. E vou além: é um dos melhores filmes da carreira do cineasta. A visão sombria e realista dele para super-heróis dá espaço a uma perspectiva muito mais iluminada e isso é sentido no próprio desenrolar da trama: há uma montagem inicial que remete bastante à sequência de abertura de Watchmen, mostrando um mundo desolado, que logo vai dando lugar a um sentimento crescente de esperança e otimismo.

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Ainda assim, é possível sentir uma influência geral do trabalho de Whedon no filme. Alguns dos diálogos são bem característicos do artista, bem como algumas sequências mais leves. Contudo, o estilo que se sobressai é o de Snyder, com planos altamente estilizados e bem-fotografados, além da ação irrefreável, ainda que mais consciente aqui do que como em outros filmes como Homem de Aço, por exemplo.

De forma geral, o filme até dá indícios de ser um "produto de dois pais diferentes", mas isso não é um aspecto negativo, de forma alguma. Em vez disso, a união acaba criando um trabalho muito mais recoberto de camadas e nuances. Além disso, a beleza visual do filme se contrapõe aos erros de CGI, de forma que o balanço geral é sobretudo positivo.

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Outros aspectos técnicos merecem menções honrosas. A produção sonora do filme funciona em sua maior parte, especialmente nas cenas mais calmas, onde não há tantos ruídos interferentes. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito sobre a trilha sonora de Danny Elfman. Falta originalidade em suas composições, e nenhuma delas chegou a grudar na cabeça como o tema da Mulher-Maravilha, por exemplo.

Em termos de direção de arte, o filme tem um trabalho moderado, mas muito convincente. Locais como a Batcaverna e o QG do Flash são ricos em detalhes, embora outras paragens como Temíscira e Atlântida sejam mais "limpos" visualmente, sem a presença de muitos objetos de cena.

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Em termos de figurino, Michael Wilkinson mais uma vez faz um trabalho digno de aplausos. O artista conseguiu dar a cada personagem sua própria marca visual, com uniformes que realmente serão vistos em feiras de cosplayers por alguns anos. Até mesmo trajes criticados, como o do Flash, acabam funcionando bastante dentro do contexto do filme.

E, é claro, os fãs de quadrinhos vão se deliciar, uma vez que o longa não tem barreiras na hora de fazer referências a personagens e momentos clássicos das HQs. Porém, o fanservice aqui é bem colocado, de forma que ele ajuda a construir o universo da trama e não a sufoca.

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Em suma, se você ainda estava preocupado, pode ficar tranquilo. Apesar de não ser o melhor filme do universo e conter uma razoável parcela de deslizes, Liga da Justiça ainda assim é um filme que entretém de forma tão consciente, tocando em questões reais e, principalmente, abordando algo que só havia sido tangenciado no Universo Estendido da DC Comics até aqui: a necessidade de super-heróis para o mundo.

Falando de uma perspectiva puramente pessoal, me arrisco a dizer que é meu filme de super-heróis favorito do ano, apesar de não ser o melhor, em aspectos técnicos. A vantagem, aqui, é que o filme se propõe a uma experiência tão pura e emocionante que até os maiores erros acabam passando despercebidos sob um olhar mais amplo. Se você não gostou de Homem de Aço e Batman vs Superman - ou se gostou - terá um prato cheio aqui, com um filme verdadeiramente divertido e envolvente. Não é o filme que muitos fãs esperavam, mas é definitivamente o que eles merecem.

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Apesar de nossos maiores receios, Liga da Justiça vem para nos provar errados, e se lança como um dos filmes mais importantes não apenas do Universo Estendido da DC Comics, mas de toda a história da editora nos cinemas. É um filme belo, divertido e emocionante, que além de qualquer coisa, mostrou que ainda há espaço para a esperança nos filmes da Warner Bros.

Se Mulher-Maravilha já havia mostrado uma melhora significativa em relação aos ícones da editora, o filme da equipe vem para sedimentar cada vez mais um novo rumo para esses heróis, e é o longa que certamente nos deixará ainda mais animados para o que há por vir.

E no fundo, o melhor elogio que posso tecer é: "É como se fosse um episódio de duas horas da icônica animação da equipe."

NOTA: 4,5/5