[CRÍTICA] Jogador Nº 1 – Spielberg no topo!

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[CRÍTICA] Jogador Nº 1 – Spielberg no topo!

Por Felipe Vinha

A adaptação para os cinemas de Jogador Nº 1 sempre gerou certas desconfianças. Afinal, os direitos para virar filme foram comprados antes mesmo de o livro ser publicado. Além disso, a história parecia ser apenas um amontoado de referências, sem muitas amarras ou com narrativa fraca.

Bem, estávamos redondamente enganados.

Como filme, Jogador Nº 1 supera qualquer expectativa e entrega justamente o que promete. Não vai além, nem se retrai. É um longa-metragem divertido, espirituoso e, sim, cheio de referências para todas as idades.

O que temos aqui é, basicamente, o Steven Spielberg “nerd” em sua melhor forma. O mesmo Spielberg que nos fez amar Jurassic Park, Os Caçadores da Arca Perdida e E.T. – O Extraterrestre, só para citar os mais famosos.

Aperte o Play, ou melhor, passe a lista, e acompanhe nossa crítica sobre Jogador Nº 1!

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Ficha Técnica

Título: Jogador Nº 1

Ano: 2018 Lançamento: 29 de março de 2018 (Brasil)

Direção: Steven Spielberg

Duração: 140 Minutos

Sinopse: Em 2044, Wade Watts, assim como o resto da humanidade, prefere a realidade virtual do jogo OASIS ao mundo real. Quando o criador do jogo, o excêntrico James Halliday morre, os jogadores devem descobrir a chave de um quebra-cabeça diabólico para conquistar sua fortuna inestimável. Para vencer, porém, Watts tem de abandonar a existência virtual e ceder a uma vida de amor e realidade da qual sempre tentou fugir.

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A caixinha de areia de Spielberg

Por mais que tenha dirigido filmes considerados “sérios”, baseados em fatos reais, históricos e tudo o mais, Steven Spielberg é considerado também um “diretor nerd/geek”, por mais que rótulos talvez não definam muito bem o trabalho do autor. Assim, em Jogador Nº 1, ele tem uma “caixinha de areia” para brincar da forma que bem entender, utilizando conceitos de outros criadores.

Enquanto o filme não estreava, rolaram comentários de que Spielberg promoveria uma “auto homenagem” com Jogador Nº 1. A afirmação não poderia estar mais errada.

É verdade que há elementos que foram retirados de outros longas do diretor, como o T-Rex de Jurassic Park, mas eles passa tão rápido e de forma tão insignificante, que não são o ponto central da história. Pelo contrário, passa longe de ser. Portanto, não se preocupe em ver esse suposto ego de Spielberg. Isso não existe por aqui.

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Respeito à cultura pop moderna

Da mesma forma que no livro, o filme de Jogador Nº 1 tem um enorme respeito pela cultura pop moderna. Ele não apenas utiliza as referências, personagens, cenários e outros elementos a seu bel prazer, mesclando-os com um elenco que parece que não faz ideia do que está rolando ali (oi, Pixels).

Pelo contrário, o roteiro dá um tom de sintonia muito bom entre tudo. O elenco principal ser formado por jovens ajuda bastante nessa identificação, mas a grande verdade é que a narrativa é tão bem trabalhada que você não sente que está sendo, simplesmente, vítima de uma torrente de referências pop/geek/nerd/qualquer outra coisa.

E, apenas reforçando: é o que ocorre também no livro.

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Ação, ação, ação!

Mas, como quase toda adaptação de obra literária para as telonas, Jogador Nº 1 sofreu diversas mudanças. Talvez usar “sofreu” passe uma impressão errada. Não quero dizer que tenha sido algo ruim. Por exemplo: as chaves que os protagonistas buscam surgem na história de forma bem diferente do que é visto nas páginas da obra de Ernest Cline.

Porém, tais mudanças foram para dar um ritmo de ação maior à projeção e isso é notável logo nos primeiros 15 minutos. Aliás, que se abra um parêntese na crítica: toda a sequência de abertura, incluindo a corrida que também é vista no trailer, está entre uma das melhores aberturas de filmes de ação que já vi nos últimos, sei lá, 20 anos.

É perceptível que o roteiro foi adaptado para ter mais ação em cada um de seus capítulos. O lado bom é que… Bem, não ficou ruim! O filme apenas ganha com isso.

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Algumas pequenas forçadas de barra

Mas vamos com muita cautela, o roteiro de Jogador Nº 1 não é perfeito. Ainda que mudanças tenham sido feitas, a produção resolveu manter sequências quase exatas em relação ao livro, com toda a certeza para dar um “prêmio extra” a quem leu antes de encarar o filme, como uma referência adicional e bem colocada.

Há até mesmo diálogos inteiros que foram colados do livro, de forma exata, replicados palavra por palavra. O grande problema é que, em alguns casos, eles estão em partes diferentes da história, fisicamente ou narrativamente, e acaba soando um pouco artificial. Dá para perceber que as frases foram colocadas ali só para ficar igual, sabe? E não soam tão naturais quanto as outras.

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Um elenco desses, bicho

O elenco de Jogador Nº 1 não é formado por grandes estrelas (em relação aos grandes de Hollywood), ao menos não o central. O mais expressivo, claro, é Tye Sheridan, que ganhou algum destaque entre o público geek, nos últimos anos, por conta de seu papel como Ciclope nos filmes dos X-Men. Olivia Cooke também é notavelmente talentosa, ainda que menos famosa.

Mas os dois funcionam muito bem! Com muita química! Dentro do Oasis, Art3mis e Parzival formam uma dupla incrível, por mais que sejam antagonistas de objetivo. Os personagens se “acertam” tanto no mundo virtual, quanto no real, em termos de desenvolvimento e de serem bem trabalhados.

Há outros grandes nomes que complementam os personagens. Apesar de caricato demais, Simon Pegg faz um ótimo Ogden Morrow. Mark Rylance está incrível como James Halliday – ele te passa a exata impressão de ser quem é, um criador frustrado e no fim de sua carreira, ainda que excêntrico, como as grandes mentes do nosso século.

É claro que não dá para deixar de citar Lena Waithe, Philip Zhao e Win Morisaki, que completam “Os Cinco do Topo”, o grupo central de heróis. Em geral, os atores que fazem os mocinhos estão realmente de parabéns.

O mesmo já não pode ser dito sobre o lado maligno…

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O ponto fraco da corda

O elenco que forma o lado vilanesco de Jogador Nº 1 talvez seja a única e real crítica negativa que tenho sobre o filme. O pior é que ele é composto por, igualmente, atores bons – com exceção de T.J. Miller, que interpreta I-R0k por aqui. Aparentemente, Miller só sabe interpretar um único personagem: ele mesmo. Foi assim em Sillicon Valley, foi assim em Deadpool. É assim aqui.

A participação fraca de Miller apenas colabora com o restante. Hannah John-Kamen, que esteve bem em seriados que participou – entre eles Black Mirror – faz uma capacho de vilã sem carisma e totalmente apagada.

O grande inimigo da trama, Nolan Sorrento, é interpretado por Ben Mendelsohn. Para um cara que nos deu Orson Krennic em Rogue One: Uma História Star Wars, seu Sorrento é fraco demais. Canastrão até dizer chega.

Talvez tenha sido decisão do roteiro, por ser um filme “infanto-juvenil”, mas, ainda assim, no livro ele não pega tanto para esse lado mais “afetado no último”.

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E que visual!

Jogador Nº 1 é um filme de cinema, para ser visto no cinema, de fato. Em cada cena ele justifica isso. O visual é incrível, os efeitos especiais dentro do Oasis – que é todo gerado por computador, com gráficos que lembram videogames modernos – estão em altíssimo nível.

Os personagens, sim, parecem artificiais. Mas é proposital. Afinal eles são, de fato, personagens falsos dentro de um mundo 3D. Tudo isso seria muito vazio, se o longa fosse apenas efeitos especiais, mas eles conversam muito bem com o mundo criado originalmente por Cline, e logo em seguida por Spielberg.

A transição entre mundo real e Oasis é sempre feita com naturalidade e você não sente um “choque” muito grande ao notar as diferenças visuais entre os dois mundos.

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E, claro, as referências

Gundam, Overwatch, Street Fighter, Tomb Raider, Batman, Lara Croft, Halo, Robô Gigante, Akira, De Volta para o Futuro, Jurassic Park, só para citar algumas que estão no trailer, sem revelar os segredos do filme!

E acredite: os trailers mostraram pouca coisa. Há muito mais referências na trama, sejam indiretas ou diretas, com importância ou sem. O longa, sim, “te joga” tudo isso na projeção, mas a história não funciona em prol delas – é justamente o contrário. Elas são ferramentas que colaboram com a história, da mesma forma que no livro, e não estão exageradas.

Além disso, elas vão além de personagens ou cenários. A trilha sonora também é repleta de músicas dos anos 80. Há cartazes nas paredes de jogos e filmes antigos. Entre outras surpresas.

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Não adianta referência sem roteiro!

Jogador Nº 1 seria um filme Pix… Ops, seria um filme péssimo com tantas referências, mas sem um roteiro decente! E bem, está tudo aqui. É Spielberg trabalhando com o que gosta, bons personagens, bons atores (ao menos em maioria) e elementos clássicos que tornam este um filme que já nasce clássico, definindo uma geração – ou até duas.

O roteiro trabalha bem não só um certo conflito de gerações, mas também de ideias. Ele se desenvolve direitinho e, por mais que tenhamos mais de duas horas de aventura, Jogador Nº 1 não soa cansativo em nenhum momento. Pelo contrário: quando acaba, você quer ver mais!

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Conclusão

Você ainda quer que eu fale algo mais sobre Jogador Nº 1?

Serve um resumo da crítica?

Então aí vai:

Só me resta bater palmas.

Nota: 4,5 de 5