[CRÍTICA] God of War – Em nome do pai, do filho e do olimpo

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[CRÍTICA] God of War – Em nome do pai, do filho e do olimpo

Por Felipe Vinha

Pode parecer estranho, mas Kratos é considerado um símbolo de uma geração inteira de videogames. Lançado no PS2, no primeiro God of War, o guerreiro espartano já passou por muita coisa e ajudou a definir o gosto de muita gente. Por mais que olhemos para trás e vejamos suas aventuras com outros olhos, hoje, ainda é possível enxergar, nele, uma figura de extrema importância.

Mas isso tudo foi em 2005.

Ter um novo God of War, sem subtítulo nem nada, pode parecer sem sentido e “macete de dinheiro fácil” para as empresas envolvidas. Ainda mais depois da conclusão do terceiro capítulo, que trouxe Kratos ao final de sua jornada contra o Olimpo. Mas o que dizer quando SIE Santa Monica Studio, estúdio da Sony voltado para a série, nos apresenta a uma versão “repaginada” do herói?

Sim, herói. Por mais que seja pouco ortodoxo, Kratos realizou feitos heróicos, no sentido mais simples da palavra. Agora ele retorna de uma forma bem diferente, que faz sentido, mas ainda mantém os elementos que conhecíamos da saga.

Leia nossa análise completa do novo God of War.

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Ficha Técnica

Nome: God of War

Plataformas: PS4

Gênero: Ação

Modos de jogo: Um jogador

Estúdio: SIE Santa Monica Studio

Publicadora: Sony Interactive Entertainment

Data de lançamento: 20 de abril de 2018

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Cheio de mistérios

A história do novo God of War começa em algum lugar de Midgard, terra nórdica que representa o mundo dos homens, onde Kratos vive agora com seu filho, pouco tempo depois de sua esposa falecer por motivos misteriosos.

“Pera, como assim?”

É isso mesmo que você leu. Kratos não apenas constituiu uma nova família, como também teve mais um filho, Atreus. Para quem estranhar o fato, basta se lembrar que sua jornada contra os deuses começou apenas por conta de sua família, mulher e filha, que morreram devido às injustiças divinas, no passado.

A história começa quando o espartano é visitado por uma pessoa estranha, e logo descobre que precisa partir dali. A missão: levar as cinzas da esposa até a montanha mais alta da região, por conta de um objetivo que é, inicialmente, mantido em segredo.

O “segredo”, aliás, é algo que permeia toda a história. Começamos sabendo quem é Kratos, pois o jogo deixa claro que se trata de uma continuação, e não um “reboot”, como haviam mencionado anteriormente. Porém, muitas são as perguntas a serem respondidas: por qual motivo o Fantasma de Esparta está em Midgard? E seu passado na luta contra o Panteão Grego?

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Voltado à narrativa

Não queremos comparar jogos aqui, pois não é assim que se faz uma análise. Mas está claro que a Sony, e o estúdio de Santa Monica, quiseram criar uma nova forma de encarar God of War, seguindo de perto o exemplo de outros de seus títulos recentes, em especial The Last of Us.

Com muito mais momentos voltados para a história, e para o diálogo entre pai e filho, God of War procura mostrar o lado mais humanizado de Kratos, por mais que o espartano continue ranzinza, mal educado, truculento e de poucas palavras.

Ainda temos as cenas grandiosas, que todo God of War tem, mas os diálogos são muito mais valorizados, por mais que alguns soem superficiais demais – sério mesmo, Kratos, contar a história da lebre e da tartaruga para seu filho como se fosse uma grande novidade?

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Atreus, o X da questão

Um dos grandes novos elementos deste God of War é a presença de Atreus. Ele acompanha Kratos em 99,9% de sua jornada e não é apenas seu filho, mas também um novo elemento de jogabilidade.

É correto afirmar que o jogador tem poder sobre Kratos e sobre Atreus… De certa forma. O jovem não serve apenas para falar a todo o mundo, de forma enervante, mas também para atirar flechas para distrair inimigos ou alertar seu pai de algum perigo próximo, que a câmera não te permita ver chegando.

Ok que a experiência de um parceiro em campo, seja mirim ou não, tenha nos lembrado de momentos ruins nos games, em sua maioria, como Ashley Graham, em Resident Evil 4. Mas pense em Atreus como Ellie, de The Last of Us (desculpe, novamente ele). Ainda que o garoto seja muito mais irritante, em termos de bate-papo e falas óbvias.

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Kratos envelheceu, mas não seus movimentos

E é bem isso que afirmamos: Kratos está claramente mais velho. A barba serve para sinalizar isto, mas não apenas. Seu corpo apresenta as marcas da idade e, possivelmente por este motivo, a jogabilidade geral da série tenha mudado de foco.

A experiência ainda é em terceira pessoa, mas agora contamos com aquela famigerada câmera no ombro. Kratos não pula livremente – decisão de jogabilidade, mas não curtimos tanto –, somente quando encara abismos ou passagens em sua frente, de uma plataforma a outra. Além disso, o combate é muito mais cadenciado, e lento.

Não que isso seja algo ruim. Os controles de ataques foram remapeados, isto é, trocados de posição, para R1 e R2. Achou estranho? Nós também. Mas é uma questão de costume bem básica. Logo você vai se sentir em casa, ainda que as lutas sejam, em geral, bem difíceis.

Kratos ainda pode fazer combinações de golpes, lidar com inimigos de maneira brutal com finalizadores, entre outros pormenores que não vamos detalhar para não estragar surpresas. Então pode-se dizer que, apesar de nova, a jogabilidade ainda soa bem familiar para os fãs mais antigos da saga.

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Evolução complexa

A evolução em God of War talvez tenha sido o ponto que mais recebeu melhorias e adições em relação ao restante da série. Agora, em vez de apenas enchermos o medidor de globos vermelhos ou encontrar itens pelo cenário, podemos também utilizar um sistema de criação e melhoria de equipamentos, que deixa cada experiência única.

Kratos começa o jogo com um machado místico, de origem desconhecida, deixando as famosas lâminas de lado – também por razões desconhecidas. O machado pode ser melhorado e ganhar mais habilidades, magias por meio de runas, entre outros pontos que permitem ampliar os golpes do espartano.

Sua armadura, pela primeira vez na série, também pode se transformar, ou melhor, você pode criar outras peças, dando novos visuais ao guerreiro. Atreus, seu filho, passa por benefícios similares. É viável atualizar seu arco e flecha, armadura, entre outros pontos.

Isso não apenas dá ao game uma personalidade 100% nova, mas também permite que a minha experiência seja diferente da sua quase que de forma completa. Será difícil ter um Kratos igual ao outro por aí, dadas as muitas opções que surgem.

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Linear… não-linear… Como é?

Primeiro, tenha em mente que o novo God of War não tem o escopo de mundo aberto, como muitos estavam pensando por aí. Digamos que ele te dá uma liberdade maior de exploração, mas não muita.

A partir de determinado ponto do jogo, você pode entrar em missões paralelas, que podem render benefícios extras, mas isso não significa que ele não seja, ainda, um jogo bem linear no que se propõe.

A evolução da campanha ainda é repleta de “vai e vem” pelo enorme mapa, mas o caminho para chegar ao final é apenas um. Para quem esperava algo muito mais livre, muito mais aberto, vai ficar um pouco decepcionado. Não é bem assim.

Ao menos há muitos colecionáveis, em sua maioria para evoluir vida ou outros medidores, além de dinheiro para melhorar equipamentos, o que, de certa forma, rende uma boa exploração.

Somando colecionáveis e outros elementos extras, podemos dizer que a campanha é bem longa. Fechamos com quase 20 horas, mas dá para fazer em mais, sem pressa, o que é bem superior a qualquer outro God of War em termos de tempo.

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Eu já vi esse monstro em algum lugar…

Outro pequeno ponto que merecia uma atenção extra está nas criaturas que Kratos enfrenta ao longo de sua jornada. Elas são bem repetitivas. Até mesmo “chefões” se repetem, em casos bem pontuais, é verdade. Mas se repetem, mudando apenas de cor ou trocando de elemento – gelo por fogo, por exemplo.

Tudo bem que os God of War anteriores não tenham sido um enorme primor nesta área, mas a variedade era bem maior. Sem falar nas batalhas contra chefões, em especial aqueles que tinham tamanhos abissais. Pouquíssimo disso é visto por aqui. Talvez pela nova proposta que este GoW queira trazer, mas, ainda assim, ficamos desacostumados.

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E que visual!

Já sobre o visual de God of War… Bem, falar qualquer coisa boa sobre isso é “chover no molhado”. O resultado de muitos meses de produção se fez valer de verdade. O novo God of War é um dos títulos mais bonitos presentes no PS4. A coisa fica ainda melhor no PS4 Pro, se você tiver uma TV compatível com a famosa tecnologia 4K. Os cenários, efeitos visuais, luz, partículas, tudo com muito capricho.

O design dos cenários agrada bastante, ainda que diversas “paredes invisíveis” deixem a interatividade bem mais limitada do que era nos jogos passados. Contudo, cada novo ambiente que entramos é um show de detalhes, pequenos e grandes, que vão te deixar sem palavras em muitos momentos.

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Conclusão

God of War troca a mitologia grega pela nórdica para se renovar, e consegue fazer isso muito bem. O novo game ainda soa como parte da série, mas te apresenta a um Kratos bem diferente, que age de forma única e que é controlado de maneira inédita. Tudo neste sentido é bom: jogabilidade, personagens, narrativa.

O game tem pequenos problemas de linearidade na história, limitação nos cenários e repetição de inimigos, mas tenta compensar em todas as outras áreas. Ter um Kratos 100% personalizável, em termos de equipamentos e habilidades, fez muito bem para o novo capítulo. E, por mais que Atreus soe irritante, e realmente soa, ele se faz útil em muitos momentos.

God of War voltou com tudo, graças aos deuses.

Nota: 4,5 de 5