[CRÍTICA] Days Gone – Uma conversa sobre expectativas e um protagonista difícil

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[CRÍTICA] Days Gone – Uma conversa sobre expectativas e um protagonista difícil

Por Márcio Jangarélli

No fim de Abril, depois de muita espera, a PlayStation lançou Days Gone, seu aguardado exclusivo de motoqueiros e apocalipse zumbi produzido pela Bend Studios.

Será que a aventura de Deacon St. John nesse novo fim de mundo vale o status de exclusivo?

Imagens: Divulgação/Playstation
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Ficha Técnica

Título: Days Gone

Plataformas: Exclusivo para PS4;

Gênero: Shooter, Terceira Pessoa;

Quantidade de jogadores: 1

Estúdio: SIE Bend Studios

Publicadora: Sony Interactive Entertainment

Data de lançamento: 26/04/2019

Maneire suas expectativas. Esse tem sido um mantra meu por bastante tempo já e me fez muito bem. Sério. Seja para filmes, livros, jogos, música, até para artistas que você gosta ou a vida em geral. Expectativa alta é quase sempre sinônimo de decepção.

A PlayStation mandou pra gente, um tempinho atrás, Days Gone - inclusive, todo o meu agradecimento para eles, foi uma jornada bem divertida - e quando eu realmente peguei o game para jogar, não tinha nenhuma expectativa envolvida.

Days Gone foi anunciado tem um tempo, lá na E3 de 2016, e lembro que a minha impressão sobre o primeiro visual do jogo foi “aparentemente genérico, mas promissor”. Mantive essa ideia até entrar na pele do Deacon e devo dizer que estava quase certo.

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Pra quem não conhece, esse é um jogo shooter, de apocalipse zumbi, em terceira pessoa, produzido pela Bend Studio e distribuído pela Sony como exclusivo para PS4. Você controla o Deacon, um motoqueiro bem controverso, dois anos depois de um vírus transformar boa parte da população em “Frenéticos”. A história se passa em um pedaço do Oregon, nos EUA, com “mundo aberto” - vamos discutir isso depois - e é sobre solidão, liberdade e as linhas tênues de justiça, além do próprio plot do fim do mundo.

Days Gone é um game difícil em vários pontos, menos em jogabilidade. Apocalipse, zumbi e tudo mais são assuntos tão batidos que já te deixam com um pé atrás. Se não é um mundo super diferente, como Fallout, por exemplo, o maior perigo do jogo é ser mais um no meio da enxurrada desse mesmo conteúdo (seja para qualquer mídia).

Toda a ideia dos motoqueiros e foras da lei também é uma área arriscada, visto que pode ficar caricato ou ofensivo de maneira não-intencional. Ainda, tem toda uma parte de cultos e loucura que também é bem clichê e pode desandar tudo. E, por fim, o Deacon, o protagonista, tem uma personalidade não tão amigável assim para o jogador. Difícil, né?

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Bom, pensando nisso tudo, o jogo se saiu até que muito bem. È inovador? Não. Não trata nenhum dos temas de forma nova - ele é quase uma mistura estranha de vários games shooter e de fim do mundo. É clichê? Com toda a certeza. O protagonista é carismático? Não, pelo menos até certo ponto. Mas, de alguma forma, Days Gone ainda é divertido. É o exemplo perfeito de um jogo legal - mas só legal.

Ele não reinventa a roda em nada, história, mundo ou jogabilidade. Na verdade, é um game bem simples. Perfeito se você nunca jogou nada do gênero e quer começar ou se é ruim de mira igual eu. A maior dificuldade do jogo são as hordas, que são um dos desafios mais legais também, mas sem isso o modo mais difícil do game dá pra passar sem morrer.

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A câmera e os movimentos são bem feitos, andar de moto pelo jogo é MUITO bom e contemplativo e o game não possui uma grande variedade armas, inimigos ou skills, mas os que estão ali são divertidos.

Algo que vale ressaltar é que se você não quiser ficar tanto nos tiros, ainda que a mira seja bem boa e simples de entender, e preferir tankar os Frenéticos no mano a mano, vai na fé. O combate com armas brancas é ótimo e fácil, principalmente se você já tem alguma habilidade de esquiva de jogos anteriores.

O game se vende como mundo aberto, mas é aberto daquele jeito. Dentro da área que você está, a exploração é decente, mas é incrível como o Deacon consegue fazer de tudo, menos escalar ou pular. Nadar também não, mas o jogo te dá um porquê.

Os gráficos desse mundo quase-aberto são o ponto mais alto de Days Gone - lindos, em qualquer área ou clima. Dá pra fazer altos wallpaper se você é desses.

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Uma coisa engraçada do game é que ele tem várias funções bem desnecessárias - ou mal utilizadas. Por exemplo, ele te dá a opção de caçar, colher plantas e orelhas dos zumbis mortos. Aí você pensa: nossa, isso deve servir pra ganhar várias recompensas ou pra aprender fazer novos equipamentos, curas e tudo mais. Não.

Com algumas exceções, tudo o que você coleta gera um pouco de dinheiro e reputação no acampamento escolhido, mas coisa mínima. Não tem nada do tipo Far Cry de montar uns itens muito loucos com tal e tal ingredientes - ainda que o jogo tenha várias coisas de Far Cry. É só um desperdício de tempo e potencial - e esse é só um caso.

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Além dos gráficos - e da jogabilidade simples pra quem quer simplicidade - a história é um dos destaques. Isso porque ela é um desafio: te desafia a aguentar o protagonista até entender ele.

Deacon St. John é um cara difícil, sabe? No começo do game, se por um milagre você morrer, você não vai sentir muita pena. Ele parece ser um cara egoísta, arrogante, reclamão e que você não tem ideia de como o Boozer, o melhor amigo dele, aguenta esse rapaz - ou como ele tinha uma esposa que parecia legal.

No entanto, se você persistir o suficiente, o Deacon tem uma evolução MUITO evidente e que te faz entender e até gostar do personagem - foco no “até”, ele continua não sendo alguém pra todo mundo cair de amores. No fim das contas, ele é só um cara reclamão e rabugento, mas é bem divertido e gente boa também. Os flashbacks são o que mais adicionam pra ele, então esperem até ver ele interagindo com a Sarah ou chegando no terceiro acampamento do jogo. Aí dá pra julgar melhor.

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É corajoso levar a narrativa dessa forma e criar um personagem desses - e, ao que tudo indica, ele era ainda mais rabugento antes; a personalidade do Deacon foi alterada com feedback dos fãs antes de lançarem o jogo. A única coisa que eu preciso ressaltar é que a dublagem em português é… estranha. Não para os outros personagens, mas para o Deacon. Às vezes as falas e reações não parecem condizentes com o momento. Vejam por vocês mesmos e me digam depois se é só impressão minha.

Por outro lado, todo o “elenco” do game além do Deacon é bem legal e muito mais “gostável” que ele. Ainda dentro dos clichês e inspirações de outros jogos e mídias, é interessante como cada acampamento realmente possui uma personalidade diferente e os líderes são construídos de uma maneira bem rica.

É legal ver um acampamento meio conspiracionista e malandro, outro com um trabalho quase escravo, mas bem protegido, e por aí vai. O melhor exemplo disso é a Tucker, líder de um dos refúgios, que em partes trata o acampamento como uma prisão, porque ela trabalhava em uma, mas também realmente se preocupa com as pessoas ali e quer manter todos seguros.

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O que mais senti de negativo em Days Gone foi o sistema de progressão e missões. Tudo é missão, as histórias são divididas em missões, mas a maioria delas são idênticas e repetitivas.

Os objetivos da campanha principal não caem tanto nisso, mas as secundárias, as que constroem o universo do jogo, são as mesmas em todas as regiões - muda que algumas delas você faz à noite, no pântano, na neve, etc. Só. Existem algumas exceções, claro - as perseguições de moto são bem bacanas - mas é tudo muito repetitivo e cansativo - quase ao ponto de te fazer querer largar tudo.

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Assim, expectativas podem arruinar uma experiência e com toda certeza prejudicaram esse jogo. Days Gone criou sim expectativas em muita gente. Parecia uma jornada introspectiva, muito mais focada na solidão, com um personagem que prometia um jeito e caminho muito diferentes do que acabou apresentando.

É quase como se o jogo se vendesse como um Logan, uma música do Johnny Cash, mas a entrega foi um Wolverine Imortal e uma música folk qualquer.

Esse é mais um game shooter de apocalipse zumbi, nada além disso. Esperar mais que isso antes de jogar é se enganar. Mas é bem feito e divertido dentro de seus próprios limites.

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Particularmente, eu joguei sem expectativa nenhuma, até porque nem é meu gênero favorito de games, e me diverti bastante, mesmo com todos os pontos negativos.

De novo, é um belo exemplo de jogo legal - nem bom, nem ruim, muito menos ótimo ou péssimo, só legal. Mas assim, não vejo como uma coisa ruim. Nem tudo precisa ser revolucionário. Precisamos de jogos legais pra dar uma balanceada, principalmente se você saiu de uma jornada estressante - mas recompensadora - como os games da FromSoftware.

Days Gone leva, então, 3 motoquinhas de 5. Vale à pena conferir mais sobre o jogo, principalmente se uma promoção boa estiver no horizonte.

Mas digam aí o que vocês acharam da jornada do Deacon. Concordam com a crítica? Não esqueçam de comentar! Vejo vocês na próxima o/