[CRÍTICA] Como Treinar o Seu Dragão 3 – Toda história precisa ter um fim!

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[CRÍTICA] Como Treinar o Seu Dragão 3 – Toda história precisa ter um fim!

Por Gus Fiaux

Uma das franquias mais bem-sucedidas da Dreamworks, Como Treinar o Seu Dragão acaba de ter seu terceiro capítulo – que provavelmente, é o mais emocionante de toda a trilogia. Aqui, vemos Banguela e Soluço reunidos para mais uma aventura.

Com um visual de tirar o fôlego e uma trama empolgante, o filme tem o desafio de se provar uma conclusão à altura dos longas anteriores – e será que ele consegue cumprir esse papel com exatidão?

Créditos: Universal Pictures

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Ficha Técnica

Título: Como Treinar o Seu Dragão 3 (How to Train Your Dragon: The Hidden World)

Ano: 2019

Data de lançamento: 17 de janeiro (Brasil)

Direção: Dean DeBlois

Duração: 104 minutos

Sinopse: Quando Soluço descobre que Banguela não é o único Fúria da Noite, ele precisa encontrar o “Mundo Escondido”, uma utopia secreta dos dragões, antes que um tirano chamado Grimmel o encontre primeiro.

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Como Treinar o Seu Dragão 3 - Toda história precisa ter um fim!

Quando Shrek chegou ao seu decadente fim, a Dreamworks começou a investir em outras franquias que pudessem carregar o lucro principal do estúdio. A partir daí, surgiu um dos melhores filmes da empresa animada: Como Treinar o Seu Dragão, em 2010. Agora, nove anos depois, a jornada de Soluço e Banguela chega ao seu derradeiro fim.

Podemos dizer que Como Treinar o Seu Dragão 3 é um encerramento de ciclo e um filme que consegue cumprir bem seu papel em relação à série de filmes de Dean DeBlois? Talvez - mas o longa já deixa claro que, assim como em toda a franquia, o que importa não é o destino, mas sim a jornada até ele.

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Na história, temos algumas subtramas que se desenrolam em torno de núcleos distintos. De um lado, Banguela descobre a existência de uma fêmea de sua espécie - que logo é apelidada de "Fúria da Luz". Já, do outro, vemos Soluço liderando os melhores guerreiros da cidade de Berk para resgatar dragões presos por caçadores.

Essas duas histórias convergem com o surgimento de um vilão devastador: o maligno Grimmel, que é um caçador de dragões famoso por já ter matado todos os Fúrias da Noite que cruzaram seu caminho. Quando ele põe seus olhos em Banguela, percebe que logo terá de fazer outra vítima - e então os heróis precisam bolar um plano.

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Talvez, o principal "problema" do filme está em sua construção de trama. Como o título original sugere, parte da história diz respeito ao "Mundo Secreto", que é um santuário dos dragões localizado próximo ao fim do mundo. Para fugir de Grimmel, Soluço decide encontrar esse local e transferir seus dragões para lá.

No entanto, há pouco do Mundo Secreto em jogo. Quem esperava ver um mundo lindo e cheio de dragões como o santuário de Valka no segundo filme, vai ficar decepcionado - mas não pela ausência desse mundo, e sim pela brevíssima aparição dele. Apesar de estar no título original do longa, o Mundo Secreto não é, nem de longe, o foco da trama.

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Por outro lado, a diversão está justamente na construção da paixão de Banguela. O período em que ele conquista a Fúria da Luz pode até ter sido bem explorada nos trailers, mas é justamente o senso cômico aqui que torna o filme mais leve do que os dois primeiros, por exemplo. E isso torna mais digerível a trama de Soluço e a ameaça de Grimmel.

No entanto, há uma falta de equilíbrio entre essas tramas - e isso fica nítido quando percebemos que alguns personagens são deixados de lado por um tempo em detrimento a outra trama. Há um segmento relativamente longo onde o próprio Banguela, uma das estrelas do filme, simplesmente não aparece, por não fazer parte da trama "em destaque".

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Além disso, o filme possui uma grandiosidade e um senso de clímax regressivos em relação aos anteriores. Por mais que Grimmel seja um vilão bem interessante, visualmente capcioso e nitidamente ameaçador, o personagem ainda não se compara com Drago, o vilão principal do segundo longa.

O próprio clímax é uma regressão em relação aos primeiros. Falta algum elemento emocional que torne a jornada um caminho de perdas e ganhos, e no fim, a experiência de que tudo ficou bem é até boa e reconfortante, mas sentimos falta da sensação de que, na guerra, algo precisa ser perdido - como uma perna ou até mesmo um pai.

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Mas por mais que essa sensação sobressaia, Como Treinar o Seu Dragão 3 jamais pode ser considerado um filme ruim. Há muito aqui a ser elogiado a plenos pulmões, a começar pela animação espetacular. Temos aqui a melhor criação gráfica da história da Dreamworks, com cenas sensacionalmente lindas e uma composição de mundo inacreditável.

Além disso, a trilha sonora de John Powell é um dos pontos altos, passando a sensação de um mundo épico ao mesmo tempo em que explora nuances de cada personagem com acordes levemente modificados. É um trabalho suave, que supera as trilhas dos longas anteriores, ainda que retendo seus melhores momentos.

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Além disso, a evolução dos personagens - tanto em um quesito visual quanto emocional - é um destaque muito forte. Soluço está cada vez mais perto de ser um rei como seu pai, enquanto Astrid continua sendo uma guerreira formidável, mas mais amaciada e sábia. Os outros coadjuvantes compensam no humor e nas cenas de ação.

Aliás, falando nas sequências de ação, o longa pode até ter uma escala menos grandiosa que seus antecessores, mas quando ele investe, perdemos o fôlego. A prova disso é um plano-sequência que tem início logo no começo do filme, quando os heróis estão reunidos para libertar dragões presos em um barco. É facilmente um dos momentos mais empolgantes do filme.

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No fim, o filme é uma jornada satisfatória. Por mais que não seja tão emocional ou complexo quanto os dois primeiros, Como Treinar o Seu Dragão 3 consegue arrancar algumas lágrimas, nos lembrando que nem tudo são perdas - mas que ainda assim, as despedidas são necessárias (algo inclusive que tem um teor metafórico sobre a própria franquia)

Em resumo: se você quer ver o Banguela e o Soluço juntos, terá um prato cheio aqui. Se você gosta de dragões cada vez mais interessantes e bizarros, o prato vem ainda mais completo. E se você acha que a jornada é mais importante que o local ao qual ela leva, terá uma refeição única, que mescla emoção, encantamento e bravura.

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Como Treinar o Seu Dragão 3 é um filme bonito e com uma mensagem poderosa, mas que infelizmente sofre um pouco com a falta de equilíbrio de seu roteiro e uma escala menor que os longas anteriores. Ainda assim, há muito a ser apreciado e o filme jamais deixa de lado o foco em quem interessa: Banguela e Soluço.

Um poderoso conto sobre amizade, amadurecimento e sobrevivência, é um filme que marca o final dessa trilogia tão espetacular arquitetada pelo diretor canadense Dean DeBlois, e que certamente vai deixar saudades. No entanto, guardamos na memória com carinho as histórias do povo de Berk, uma ilha que em vez de praias exóticas possui algo bem mais curioso: dragões.

NOTA: 3,5/5