[CRÍTICA] The Cloverfield Paradox – Tanto Espetáculo para Nada!

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[CRÍTICA] The Cloverfield Paradox – Tanto Espetáculo para Nada!

Por Gus Fiaux

Um dos “universos cinematográficos” mais peculiares do momento acaba de receber mais um novo capítulo. Estamos falando de The Cloverfield Paradox, que segue a linha de histórias estabelecida por Cloverfield: Monstro e Rua Cloverfield, 10, situada em um mundo onde criaturas desconhecidas surgem repentinamente, ameaçando a vida na Terra.

O filme foi feito às surdinas e lançado ontem à noite, logo após a exibição de seu primeiríssimo trailer durante o Super Bowl… mas os resultados podem não agradar muito aos fãs da franquia…

Créditos: Netflix

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Ficha Técnica

Título: The Cloverfield Paradox

Ano: 2018

Data de lançamento: 5 de fevereiro (Brasil)

Direção: Julius Onah

Classificação: 16 anos

Duração: 102 minutos

Sinopse: Enquanto orbitam um Planeta Terra à beira de uma guerra, cientistas testam um dispositivo que pode resolver a crise de energia mundial, e acabam se deparando com uma realidade sombria e assustadora.

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The Cloverfield Paradox – Tanto Espetáculo para Nada

Cloverfield é uma franquia de potencial imenso. Se o primeiro filme já surpreendeu por fazer um found-footage basicão, mas muito bem executado, o segundo filme da franquia, Rua Cloverfield, 10, apostou em algo muito mais peculiar e arriscado: um filme de suspense psicológico, entremeado por referências aos eventos e tramas do primeiro filme.

Agora, chegamos ao terceiro capítulo dessa "saga", The Cloverfield Paradox - ainda sem um título abrasileirado. E por mais que tenha toda sua legião cult de fãs, o filme foi realizado e lançado de surpresa, gerando um verdadeiro espetáculo por trás das câmeras para a Netflix, que lançou o primeiro (e provavelmente único) trailer do filme ontem à noite.

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E, assim como o excelente filme anterior, Paradox tenta fazer algo corajoso: lançar uma história própria e aparentemente fechada, que ao mesmo tempo é entremeada pelos acontecimentos da franquia Cloverfield. No entanto, essa tentativa não passa disso, e o resultado é um filme esquecível, insosso e sem muita personalidade.

Aqui, conhecemos a tripulação da base espacial Cloverfield, que orbita a Terra na esperança de resolver a maior crise energética que o mundo já sofreu. Um elenco diverso compõe essa equipe, enquanto todos os cientistas tentam oferecer soluções que acabam desenvolvendo um problema ainda maior, uma vez que o uso de seu acelerador de partículas resulta em um estranho evento envolvendo realidades alternativas e paradoxos.

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Na trama, seguimos de perto a cientista Ava Hamilton, interpretada pela sempre-excelente Gugu Mbatha-Raw. Ela é os olhos do público dentro dessa nave, e se divide no dilema clássico entre o amor por sua família e seus deveres profissionais. Ao mesmo tempo, ela parece bem indiferente à crescente tensão da tripulação, especialmente nas brigas entre Volkov (Aksel Hennie) e Schmidt (Daniel Brühl).

Em termos de elenco, temos algo... operante. Mbatha-Raw e Brühl mandam bem em seus papeis, ao lado de David Oyelowo, que interpreta o capitão da nave. Por outro lado, nomes como Elizabeth Debicki e Zhang Ziyi são desperdiçadas pelo roteiro que, ora acelera ao máximo, ora é lento como um jabuti. Enquanto isso apenas sentimos vergonha alheia do alívio cômico forçado de Chris O'Dowd e de John Ortiz interpretando o brasileiro mais hispanizado de todos os tempos.

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Em termos de história, o filme se desenrola como qualquer slasher espacial que esperávamos. Há uma cena bem peculiar, pouco antes da metade, onde as coisas realmente começam a ficar estranhas. A sequência é feita de modo que tenta homenagear a icônica cena de Alien: O Oitavo Passageiro, mas a impressão que passa é que já vimos homenagens muito melhores e mais bem-construídas.

Ainda assim, há uma tentativa eficaz de tentar construir uma série de anomalias físicas e espaciais para indicar uma convergência de realidades. Isso vai desde a translocação de objetos e criaturas pelo território da nave, fenômenos eletromagnéticos e até mesmo a mudança espacial da própria nave.

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Infelizmente, no entanto, enquanto essas cenas oferecem recursos que envolvem o público, eles passam a não fazer o menor sentido quando paramos para analisar mais friamente. Tudo bem, o braço de Mundy é sugado por uma parede... mas como ele não sente dor? De que forma o braço se torna senciente? Estaríamos diante de um crossover de Cloverfield com a Família Addams?

Menos sentido ainda fazem as decisões e a interação adotada pela equipe. A trama a partir daí varia de furos de roteiro a escolhas narrativas simplesmente estúpidas. Se todos eles são cientistas, como ninguém sabia que a nave havia sido translocada, uma vez que as constelações ao seu redor haviam mudado? Não há nenhum engenheiro que entenda o básico da estrutura da nave na cena em que encontramos Mina Jensen presa na parede? E, se eles tinham naves individuais, como ninguém tenta resgatar o Capitão Kiel após seu "sacrifício"?

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De maneira geral, o filme é competente em sua estrutura técnica. O diretor Julius Onah, em seu segundo longa-metragem, demonstra um controle eficiente das esferas operativas da trama. A fotografia, apesar de um filtro exageradamente escurecedor, é bonita e consegue incorporar alguns truques de enquadramento satisfatórios. O design de som é utilitário, sem nenhuma surpresa positiva ou negativa.

Curiosamente, todo o longa foi concebido como narrativa cinematográfica, e isso nota-se profundamente na escala da gravação. Isso nos faz especular que a decisão de lançá-lo pela Netflix foi tomada em última hora, e não teve nenhum tipo de refinamento para deixá-lo mais adequado às telas menores de TVs e computadores.

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Como consequência, temos um filme que falha em um conceito básico (sobretudo em ação espacial): a imersão. Nós vemos a nave - que tem um design interessante -, mas em momento algum nos sentimos presentes nela. Isso, aliado ao roteiro desinteressante, só ajuda a nutrir um senso ainda maior de distanciamento do público.

Por outro lado, os efeitos visuais estão no ponto certo. O filme claramente tem um orçamento muito limitado, mas isso não se torna aparente por sua estética, que consegue fazer um bom uso de todos os seus elementos, passando a imagem de um filme até mesmo caro e refinado. Destaque para as cenas "externas" da nave e para as flutuações gravitacionais de objetos e pessoas.

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Por fim, no que diz respeito às conexões com filmes anteriores da franquia Cloverfield, o terceiro capítulo é desastroso. Ao mesmo tempo que essas ligações conferem um diferencial ao longa, que por si só é derivativo e clichê, são justamente as cenas mais problemáticas, por irem de nada a lugar nenhum e por distraírem constantemente do plot principal.

A premissa original prometia trazer uma "origem" para o primeiro filme e seus eventos dantescos, e amarrar as pontas com a primeira continuação. No fim, temos apenas uma frase de diálogo expositivo que tenta fazer isso, mas sem a menor responsabilidade de franquia ou até mesmo peso dramático. É como se o filme passasse sem um menor pingo de emoção, mesmo fazendo parte de um universo cultuado.

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Em sua totalidade, The Cloverfield Paradox é uma decepção plena. Um filme tão encoberto de mistério e com uma premissa de franquia tão empolgante não consegue sair da margem do clichê. Seu único traço de personalidade são as conexões com os filmes anteriores, e mesmo estas são ruins.

Essa é a prova de que não basta apelar para o fervor cult dos fãs para fazer algo bom. Embora seja, em termos técnicos, competente, Paradox não apresenta nada de novo e nos dá o gostinho ruim de que tanto barulho feito pela Netflix e pelos realizadores, no final, não serviu para absolutamente nada.

Nota: 2/5