[CRÍTICA] Cemitério Maldito – Onde vivem os monstros!

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[CRÍTICA] Cemitério Maldito – Onde vivem os monstros!

Por Gus Fiaux

Uma nova adaptação de Stephen King está chegando aos cinemas. Dessa vez, trata-se do filme de Cemitério Maldito, uma das obras mais aclamadas do autor. Com diversas liberdades criativas e uma dupla de diretores de terror em ascensão, será que o filme consegue se manter no nível do Mestre do Horror?

Créditos: Paramount Pictures

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Ficha Técnica

Título: Cemitério Maldito (Pet Sematary)

Direção: Kevin Kölsch e Dennis Widmyer

Roteiro: Matt Greenberg e Jeff Buhler

Ano: 2019

Data de lançamento: 9 de maio (Brasil)

Duração: 101 minutos

Sinopse: O Dr. Louis Creed e sua esposa, Rachel, se mudam de Boston para o interior do Maine com seus dois jovens filhos. O casal logo descobre um cemitério escondido na floresta em sua propriedade.

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Cemitério Maldito - Onde vivem os monstros!

Toda vez que uma nova adaptação de Stephen King é anunciada, o público fã de horror fica em polvorosa, tensos para saber se o produto final se manterá ao altíssimo nível do material-fonte. Quando falamos de Cemitério Maldito, a expectativa é alta, tendo em vista que o livro é considerado uma das obras mais assustadoras da carreira do Mestre do Horror.

Tendo uma adaptação já produzida em 1989 - que, apesar do valor nostálgico, não é considerado um filme particularmente bom -, a história acaba de voltar aos cinemas com uma nova roupagem e algumas reformulações. E devo avisar de antemão que, se você está esperando uma análise da adaptação, talvez esteja no lugar errado. Cemitério Maldito é ótimo, mas não é fiel.

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A história parte da mesma premissa. Louis Creed se muda com sua esposa, Rachel, e seus filhos, Ellie e Gage, para uma cidade chamada Ludlow, no interior do Maine. Porém, pouco depois de se realocarem para sua nova casa, eles descobrem que sua propriedade também abrange um cemitério destinado aos animais de estimação dos habitantes locais.

Tudo muda quando Church, o gato da família, morre e é enterrado numa extensão desse "simitério" de bichos - o que o traz de volta à vida... mas não da forma que se espera. A partir daí, eventos trágicos começam a obscurecer o relacionamento de Louis, sua esposa e seus filhos, enquanto a terra podre exerce um poder fatal sobre cada um deles.

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O grande mérito de Cemitério Maldito está na dinâmica de personagens e na atmosfera. Jason Clarke manda bem ao interpretar o introspectivo Louis, com suas falas cheias de reticências e um ar calejado, apesar de gentil. Por outro lado, o grande destaque realmente vai para Amy Seimetz, que sabe explorar muito bem o trauma passado de sua personagem.

John Lithgow, por sua vez, transmite a imponência e a experiência de Jud Crandall, o vizinho dos Creed. Infelizmente, a falta de conexão entre seu personagem e Louis torna sua participação menor do que deveria. No fundo, ele aparenta ser um personagem rico e cheio de potencial - mas nós nunca vemos isso sendo completamente aprofundado no filme.

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Contudo, a peça central do filme é Jeté Laurence, que interpreta Ellie Creed. Se você conhece o livro ou a adaptação original, sabe que Gage, o filho mais novo dos Creed, sofre um acidente e é enterrado no mesmo cemitério que Church, retornando à vida de uma forma amedrontadora. Aqui, como os trailers já haviam revelado, esse papel é dado à filha mais velha do casal.

Jeté, apesar de jovem, é uma atriz exemplar. Ela consegue transmitir a inocência e o medo de morte de sua personagem, ao mesmo tempo em que se transforma por completo quando retorna à vida como um espectro do que já foi um dia. Sua voz, seus trejeitos e até sua expressão mudam de uma forma monstruosa, tornando-a um verdadeiro pacote de sustos.

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Infelizmente, os sustos apresentam um dos maiores problemas do filme. No primeiro ato, são várias as cenas que contam com o recurso barato dos jump scares - especialmente de caminhões correndo na estrada, apenas como um prenúncio da tragédia que está por vir. Isso acaba tirando muito da tensão - que poderia ser o ponto central dessa adaptação.

E se a atmosfera pelo menos consegue se manter nas alturas, com a presença do "simitério" de bichos sendo sempre sentida, dá para perceber uma certa "corrida" do roteiro no primeiro ato, para estabelecer tudo de uma forma mais clara o possível para o espectador. E é aí que entram diversas cenas expositivas que matam qualquer ambiguidade deixada pela trama.

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Ainda assim, o resto do filme se mantém bem sagaz. Diferente do longa original, que parece fazer um fichamento do livro, "copiando" todas as frases e cenas importantes, o novo Cemitério Maldito é o produto de uma análise calculada, que ressignifica a história para encaixá-la em um contexto contemporâneo e revitalizado.

Nisso, os diretores Kevin Kölsch e Dennis Widmyer acertam em cheio - eles conseguem usar o livro como uma base sólida, mas aproveitam para criar coisas novas, que apesar de não serem tão bem exploradas como deveriam, ainda servem como elementos arrepiantes do longa. Um exemplo disso são as crianças com máscaras de animais levando seus bichos para serem enterrados.

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E é nessa "nova criação" que o filme consegue surpreender, mesmo entregando detalhes razoavelmente alterados da trama original de Stephen King. Talvez, o único deslize em relação a isso seja o controverso final, que tira um pouco o pesar e a ideia de insanidade para acabar em uma resolução assustadoramente "feliz".

De qualquer jeito, podemos dizer que, ao menos por um bom tempo, o novo Cemitério Maldito vai ser a adaptação definitiva de um dos livros mais pavorosos do horror contemporâneo - enquanto também se enquadra como um drama familiar e uma análise da perda e do luto (tudo isso envolvido por uma boa dose de terror e sustos).

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Em quesitos técnicos, o filme é bem competente. A fotografia tem lá seus momentos brilhantes - como o jogo de câmera usado logo depois do atropelamento de Ellie. O design sonoro não chama muita atenção, mas não atrapalha. E os efeitos visuais e direção de arte são bem satisfatórios, dentro da medida do possível (e do orçamento).

Para os fãs da obra de King, ainda há muito a ser dissecado aqui. Pode esperar por uma nova versão de Pet Sematary (originalmente do The Ramones, dessa vez performada pelo Starcrawler), assim como outros elementos clássicos do livro - nesse sentido, devo dizer que Zelda Goldman é apavorante e exerce uma presença angustiante na trama.

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O novo Cemitério Maldito pode desagradar alguns dos fãs que esperavam uma releitura literal do livro. Entretanto, como filme, ele sabe como manter a atenção do espectador fisgada, ao mesmo tempo em que nos entrega uma dose equilibrada de drama, pavor e luto. É um produto de seu tempo, que traz essa história aterradora para a contemporaneidade.

Nas mãos de Kevin Kölsch e Dennis Widmyer, o "simitério" de bichos toma um contorno ainda mais mortal e dramático, fazendo sua presença ser sentida desde o frame inicial até o último momento antes dos créditos. Afinal de contas, é no Cemitério Maldito onde (re)vivem os monstros.

NOTA: 4/5