[CRÍTICA] Assassinato no Expresso do Oriente – Falta Carvão nessa Locomotiva!

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[CRÍTICA] Assassinato no Expresso do Oriente – Falta Carvão nessa Locomotiva!

Por Gus Fiaux

Uma das autoras mais celebradas de todos os tempos, Agatha Christie teve diversas obras adaptadas para outras mídias. E como não podia deixar de ser, Assassinato no Expresso do Oriente é uma das mais famosas. Agora, temos uma nova versão prestes a entrar em cartaz nos cinemas, com um elenco estelar e uma direção de tirar o fôlego… mas será que isso é o suficiente para justificar essa nova adaptação da trama?

Créditos: 20th Century Fox
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Ficha Técnica

Título: Assassinato no Expresso do Oriente (Murder on the Orient Express)

Ano: 2017

Data de lançamento: 30 de novembro (Brasil)

Direção: Kenneth Branagh

Classificação: 12 anos

Duração: 114 minutos

Sinopse: Quando um assassinato acontece no mesmo trem onde ele viaja, o célebre detetive Hercule Poirot é recrutado para resolver o mistério.

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Assassinato no Expresso do Oriente - Falta Carvão nessa Locomotiva!

Não há muito o que dizer. A cada alinhamento interplanetário, teremos uma nova adaptação de Assassinato no Expresso do Oriente para os cinemas ou para a televisão. Já foram tantos filmes e séries que é difícil extrair algo novo e inspirador da obra máxima de Agatha Christie. E o novo filme de Kenneth Branagh se esforça ao máximo, mas cai vítima de vários problemas.

A narrativa não é muito diferente do que esperamos. Hercule Poirot - não confundir com o semideus greco-romano Hércules - precisa investigar um assassinato cruel em um trem onde faz uma viagem até a Europa Ocidental. No meio de sua jornada, ele se depara com diversos personagens e precisa escapar de uma rede de intrigas, onde todos parecem ser culpados.

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Em termos narrativos, a nova versão de Assassinato no Expresso do Oriente não foge muito do que já foi visto anteriormente, mas possui um bônus peculiar: é, provavelmente, a adaptação mais fiel à obra literária que o originou. E isso nem sempre significa algo bom, especialmente se tratando de cinema.

Em um nível básico, o filme foca bastante na investigação e na personalidade de Poirot. O diretor do filme, Kenneth Branagh, também assume o papel do investigador e traça trejeitos e maneirismos muito peculiares, que ao mesmo tempo, conseguem transformá-lo em um personagem excêntrico, complexo e agradável ao público.

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Porém, apesar de ser a maior força do filme, o detetive também acaba contribuindo para seu maior defeito. Apesar do elenco estelar, a maior parte dos personagens tem um desenvolvimento muito raso, o que acaba sendo inconveniente para uma trama cujo principal mistério reside por trás de rostos diversos. Passamos tanto tempo com Poirot, que o resto dos passageiros é deixado de lado.

Uma solução para isso teria sido investir mais nas cenas de interação entre o investigador e seus suspeitos. Ainda assim, muitos atores se esforçam com o pouco que têm em mãos e entregam performances formidáveis. Nesse ponto, preciso destacar a brilhante interpretação de Michelle Pfeiffer e de Josh Gad, respectivamente nos papéis da Viúva e do Assistente.

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Passado o problema principal - que são os personagens -, o filme trafega em trilhos turbulentos. Há destaques muito positivos e também há uma série de imperfeições na execução que acabam transformando a trama em uma história maçante e sem graça, ao contrário do livro de Christie.

Para nos livrar logo do lado ruim, podemos destacar o ritmo da trama. O filme começa de uma forma muito empolgante e envolvente, enquanto somos apresentados ao Investigador antes mesmo dele embarcar no Expresso do Oriente. Porém, uma vez que ele dá início à sua viagem e o crime acontece, a trama descarrilha abruptamente, quase que em uma metáfora a um evento que acontece simultaneamente no longa.

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A investigação de Hercule Poirot é uma das sequências mais desinteressantes do filme, porque ela não apresenta consigo aspectos interessantes o suficiente para prender o público na cadeira. Além disso, quando algumas verdades sobre os personagens se apresentam em tela, todo o mistério - para quem não leu o livro - fica um tanto quanto óbvio e é meio inacreditável ver um detetive tão brilhante quanto Poirot sem compreender o que está acontecendo.

Curiosamente, a trama também possui uma configuração que beira o teatral. Isso pode ser muito bem evidenciado pelos diálogos, que são exaustivamente expositivos, e ainda assim, não cumprem um papel muito bom ao tentar envolver e explicar ao público o que está acontecendo. Na verdade, é muito mais fácil se perder em meio a tantas explicações do que se encontrar.

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Mas isso não quer dizer que o filme não tem méritos. Afinal de contas, eles existem, por mais que sejam prejudicados pelo roteiro. Para início de conversa, dedico toda a exaltação a Kenneth Branagh e seu olhar de diretor. O cineasta prova que tem talento e que sabe criar cenas de formas inventivas, habilidosas e exóticas.

Destaque para a belíssima direção de fotografia, que busca ângulos extraordinários para enquadrar seus personagens. Particularmente, favorito as cenas onde toda a ação acontecendo por cima da cabeça dos personagens e a cena em que Poirot embarca no trem, onde vemos ele atravessando toda a extensão do veículo por fora.

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Simultaneamente, outras categorias do filme dignas de aplausos são as que compõem esse universo. Há uma direção de arte fenomenal por trás desse mundo, que ressalta muito bem a estilização narrativa de Branagh. O trem ganha vida através de seus cenários e ambientes, e funciona como uma estrutura paralela à história.

O figurino dos personagens é digno de aplausos. Até mesmo em roupas similares, como o clássico terno, podemos ver pequenas distinções que ajudam a compor a personalidade de cada um. Há também um trabalho belo, ainda que passe despercebido, no uso de maquiagem e próteses faciais.

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A composição sonora também é muito elegante e ajuda a envolver o público na aura do mistério, por mais que o roteiro não coopere. É o típico filme que você pode ver no automático, sem prestar muita atenção na história, uma vez que ainda vale o bilhete para a viagem estética, visual e sonora.

Aliás, é curioso notar que, aparentemente, a 20th Century Fox planeja construir todo um "universo cinematográfico" baseado nas obras de Christie que têm como protagonista o detetive Poirot, como fica muito bem evidenciado pela sequência final. Por mais que o filme acabe deixando um gosto amargo, ainda há chance de melhorias em um futuro, caso a equipe de roteiristas aprenda com os erros de Assassinato no Expresso do Oriente.

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Em suma, estamos diante de mais uma adaptação da obra, e apesar de seu elenco magnífico, a sua trama é justamente seu elo mais fraco. Todo o potencial de uma jornada de mistério cativante é jogada para escanteio por um roteiro lento, inchado e até mesmo preguiçoso. O que só fica pior com alguns problemas de montagem aqui e ali.

Ainda assim, podemos ver que todos os envolvidos estão se esforçando para conceber a melhor obra possível, e Kenneth Branagh é o melhor exemplo disso, servindo como um herói duplo em sua atuação peculiar e em sua direção estética exótica. Infelizmente, nem isso é capaz de redimir os crimes de Assassinato no Expresso do Oriente.

NOTA: 2/5