[CRÍTICA] Annabelle 2: A Criação do Mal – Uma surpresa que ninguém pediu!

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[CRÍTICA] Annabelle 2: A Criação do Mal – Uma surpresa que ninguém pediu!

Por Gus Fiaux

Nesta quinta-feira, chega aos cinemas Annabelle 2: A Criação do Mal, o segundo spin-off de Invocação do Mal focado na amedrontadora boneca endemoniada. O filme serve como um prelúdio para o primeiro longa da “personagem” – que, por sua vez, é um prelúdio da franquia principal. E apesar de toda a incerteza e dúvida do público, o resultado final é bom!

 

Créditos: Divulgação (Warner Bros.)
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Ficha Técnica

Título: Annabelle 2: A Criação do Mal (Annabelle: Creation) Ano: 2017 Lançamento: 17 de agosto de 2017 (Brasil) Direção: David F. Sandberg Classificação: 14 anos Duração: 109 minutos

Sinopse: Doze anos após a trágica morte de sua pequena filha, um criador de bonecas e sua mulher dão as boas-vindas a uma freira e diversas garotas vindas de um orfanato recém-fechado. Todos eles logo viram vítimas da criação amaldiçoada do criador de bonecas, a maldita Annabelle.

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Desde o início da civilização, bonecos são adoradas por crianças, veneradas por colecionadores e usadas em rituais religiosos como condutores do bem ou do mal.” Com esses dizeres, abre-se o filme Annabelle, de 2014. O longa veio – evidentemente – no sucesso de Invocação do Mal, mas deixou críticos e fãs decepcionados, com uma história fraca e a necessidade de um jump scare a cada dez segundos.

Agora, chega aos cinemas Annabelle 2: A Criação do Mal, que por sua vez é o prelúdio do prelúdio da franquia original. E embora ele sofra de alguns problemas similares ao seu antecessor, o filme certamente diverte e traz uma história robusta e assustadora, ainda que nada original, pavimentando o caminho para um verdadeiro “universo compartilhado” de Invocação do Mal.

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Dessa vez, seguimos a história de um grupo de meninas acompanhadas por uma freira (Stephanie Sigman, competente em seu papel), que se muda para uma casa de campo depois que o orfanato onde moravam é fechado. Lá, elas descobrem a história do dono da casa e sua esposa (Anthony LaPaglia e Miranda Otto, respectivamente). O casal perdera, há doze anos, sua filha em um acidente.

A história central é focada em duas meninas do grupo. A jovial Linda (Lulu Wilson) e Janice (Talitha Bateman), que foi vítima de poliomelite e tem problemas de locomoção. Elas são as primeiras a entrar em contato com Annabelle, a boneca que o seu hóspede havia feito para sua filha antes dela morrer.

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A trama começa a evoluir em uma progressão, contando a origem do demônio que possui a boneca e a relação com a filha do casal. O filme não inova muito em aspectos técnicos, mostrando uma estratégia bem convencional para causar sustos e deixar o público sem respirar.

Ainda assim, o brilho do filme está nos personagens. Lulu Wilson - que veio de Ouija: Origem do Mal (outro prelúdio de um filme de horror medíocre que se saiu infinitamente melhor que o original) - está bem consistente em seu papel, criando uma menina doce e relacionável com o público. Já Talitha Bateman confere um ar mais dramático à trama, sem sacrificar o jeito jovial e amável.

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O problema para as duas personagens está no roteiro. O texto de Gary Dauberman é um tanto quanto prolixo e sem espaço para subtextos maiores. Os diálogos são bem forçados, ainda que todos os atores do filme deem o melhor de si para tentar torná-los mais naturais. Consequentemente, as melhores cenas do filme acontecem quando a atmosfera é mais silenciosa.

Em termos de horror, o filme faz um bom trabalho, considerando o público padrão do gênero. As figuras de ameaça - sobretudo a própria boneca Annabelle, o demônio que a possui e outros "monstros" da trama - são muito bem apresentadas, especialmente em termos visuais. Há um visível e belo trabalho de direção de arte e maquiagem.

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Contudo, como qualquer outro filme de terror de vertente comercial, Annabelle 2 exagera na dosagem dos jump scares. A quantidade - e frequência - de sustos "fabricados" é tão gigantesca que, a partir do meio do filme, são colocados diversos momentos do tipo sem deixar o público respirar para o próximo, o que acaba sendo meio incômodo.

Por outro lado, a construção de horror psicológico é falha. O diretor troca o desenvolvido pelo imediato e isso faz com que o filme perca um pouco o suspense. Para se ter uma ideia, a cena mais assustadora do filme ocorre logo após o primeiro ato, consequentemente deixando o restante da trama com sustos menos impactantes e cada vez mais tediosos.

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Ainda assim, é visível o esforço para entregar algo que não seja apenas mais um caça-níquel de Hollywood. O diretor David F. Sandberg, do elogiado Quando as Luzes se Apagam se esforça para conceber um longa que, apesar dos sustos, conte uma história digna de ser contada - que é justamente o que falta no primeiro spin-off.

Ele faz um bom trabalho no uso de sonoplastia - ainda que os sons acompanhados de jump scares sejam, em maioria, dispensáveis. A edição do filme peca aqui e ali por manter cenas que não contribuem para a narrativa, mas nada que comprometa a apreciação. Outro fator a ser comentado é a fotografia, que usa ângulos clássicos e convencionais de uma maneira bonita e bem planejada.

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Além disso, é bom lembrar um dos melhores atributos do filme. Com um antecessor rejeitado pelo público, A Criação do Mal tinha tudo para esquecer o primeiro filme da boneca, deixando a história em aberto e causando algumas lacunas temporais. Entretanto, ele faz justamente o oposto disso, conectando sua história e dando um novo valor para o primeiro spin-off.

Isso não apenas fecha a franquia da boneca dentro de si própria, como também mostra que os planos desse "universo" de Invocação do Mal estão sendo revistos, independente do lucro. Por outro lado, ele cria conexões interessantes com o próximo spin-off da franquia, voltado para a ameaçadora Freira Valak de Invocação do Mal 2 - aliás, por mais que não seja necessária, há uma cena referente a isso após os créditos.

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De modo geral, Annabelle 2 é um filme com mais acertos do que erros. Ainda é um filme bem engessado pelos clichês do terror mais comercial, mas ainda assim, traz consigo um grupo interessante de atrizes, um horror visceral que realmente assusta - embora se contente em fazer apenas isso - e uma expansão para o universo da franquia principal.

Por mais que seja facilmente ignorado com o passar dos anos, é um prelúdio que entretém na medida do possível, mostrando que, às vezes, até o maior dos impulsos capitalistas de Hollywood pode gerar retornos saudáveis, desde que tenha em mãos um diretor e uma equipe que estão no controle do negócio, em vez do estúdio.

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O primeiro Annabelle é um filme medíocre, que só serve para captar mais dinheiro em cima de uma franquia com muitas possibilidades. Isso tornou indesejável o lançamento de uma continuação-prelúdio, em um mercado dominado por filmes do tipo, com qualidade questionável.

Ainda que não seja tão original e não garanta a mesma experiência de Invocação do Mal e sua continuação, Annabelle 2: A Criação do Mal é uma grata surpresa, que assusta e, diferente do seu antecessor, possui uma história a ser contada.

Nota: 3/5