[CRÍTICA] Alien: Covenant – Criador e Criatura!

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[CRÍTICA] Alien: Covenant – Criador e Criatura!

Por Gus Fiaux
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Ficha Técnica

Título: Alien: Covenant Ano: 2017 Lançamento: 11 de maio de 2017 (Brasil) Direção: Ridley Scott Classificação: 14 anos Duração: 122 minutos Sinopse: A tripulação da nave colonizadora Covenant, destinada a um planeta distante no outro lado da galáxia, descobre o que eles acham ser um paraíso, mas que acaba sendo um mundo sombrio e perigoso. Quando uma ameaça além da imaginação é revelada, eles precisam planejar uma fuga angustiante.

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Alien: Covenant – Criador e Criatura

Não há dúvidas de que Ridley Scott seja um diretor lendário. Seu trabalho nos cinemas nos ajudou a ter grandes obras-primas como Blade Runner, Thelma & Louise, Gladiador e até mesmo o primeiro filme da franquia, Alien, o Oitavo Passageiro. Porém, em Alien: Covenant, o diretor consegue trazer um filme que suga negativamente o mito do Xenomorfo, deixando no lugar uma trama rasa, tediosa e profundamente decepcionante.

Servindo como uma "continuação" direta para Prometheus, o filme aborda a viagem da tripulação da Covenant, uma nave colonizadora com destino a um planeta prestes a ser habitado. No meio do caminho, há um misterioso acidente, que faz com que o androide Walter (Michael Fassbender) acorde a equipe humana e eles então descobrem um novo planeta mais próximo que pode servir aos mesmos propósitos que seu distante alvo.

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A partir daí, uma equipe desce ao planeta e, após a infecção causada por uma misteriosa doença, eles descobrem o surgimento de um androide similar a Walter, chamado David, que é o único sobrevivente da nave de pesquisa Prometheus, desaparecida há dez anos.

Mas tudo começa a dar errado quando o tenebroso Xenomorfo dá as caras, perseguindo os sobreviventes e causando mortes e destruição no caminho. E é quando a tripulação começa a duvidar das boas-vindas de David, bem como seu propósito.

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É difícil definir um único erro em Covenant. O filme é um pouso forçado com direito a muita turbulência e avarias em seu percurso. Talvez, seu maior e mais aparente problema seja sua porca construção de personagens. Mesmo sendo um filme com uma proposta quase slasher, onde vemos cada um dos personagens ser morto após o outro, há uma construção tão falha que muitos deles sequer tem seu nome revelado.

Ainda assim, há quem se esforce. Katherine Waterston, que interpreta o papel de Daniels, é quem assume o protagonismo do filme e consegue entregar uma performance razoável. Da mesma forma, Michael Fassbender é o ator mais empenhado do longa, vivendo dois papeis muito diferentes. Porém, algumas decisões do roteiro e de direção acabam tornando seu esforço um tanto quanto vão.

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Com exceção dos dois, o filme acaba caindo em um limbo de atuações, nas quais todas são medianas e com base em personagens rasos e unidimensionais. A artificialidade é tamanha que as ações dos personagens não correspondem com suas personalidades e embora – mais de uma vez – vejamos pessoas casadas perdendo seus maridos ou esposas, o peso emocional das mortes é tão impactante quanto o cabelo loiro de Fassbender em sua primeira aparição como David ao encontrar a equipe.

E grande parte dessa falha de personagens acaba ditando o rumo do roteiro do filme, que nunca sabe ao certo o que é. Seus dois primeiros atos são uma gigantesca exposição científica, com algumas pitadas de discursos pseudo-filosóficos, que acabam rendendo cenas cansativas. Já o ato final é corrido, joga com uma dimensão atenuada de terror e ação e acaba de uma maneira previsível e mal-construída.

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Outro problema que deve saltar aos olhos do público é a falta de respostas para as inúmeras perguntas promovidas por Prometheus. Em vez de mostrar o que aconteceu ao final do filme e tentar evocar algum sentido para sua realização, Covenant comete o erro de explicar ao público sem lhe mostrar, dando a ideia de que o filme anterior é completamente desnecessário para a franquia.

Pior que isso apenas o fato de que, enquanto Prometheus ainda tinha uma base filosófica própria, lançando questionamentos abertos ao debate, Covenant sequer abre esse espaço, ficando refém de uma trama que não tem um conflito maior e serve apenas como um slasher espacial aleatório.

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Em termos técnicos, o filme se basta. A fotografia é competente, criando uma textura própria e ressaltando tons de cinza, o que acaba ressoando bem na proposta visual do filme. Porém, há pouco para ser enquadrado pelas câmeras: o trabalho de ambientação, figurino e direção de arte é pouco inspirado, criando conceitos prontos e que já vimos sendo feito melhores em outros filmes, dentro e fora da franquia.

A parte sonora se esforça e consegue ter mais sucesso na edição do que no próprio som, que é derivado e genérico, mas “costurado” com bastante clareza. Em termos de efeitos visuais, o filme não consegue se mostrar satisfatório, criando cenas cansativas e que acusam o tempo todo a irrealidade de seus eventos.

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O próprio Alien é uma grande decepção, tanto visualmente quanto em sua narrativa. Ele ganha uma nova “origem” confusa e complexa demais, que acaba rumando em direção ao questionamento principal do filme – porque um criador faz sua criatura? – mas não atinge nem metade de seu objetivo. Sua movimentação é mecânica e artificial, e ele aparece por muito menos tempo que o esperado.

O terror e a violência gráfica, tão presente em filmes como O Oitavo Passageiro, O Resgate e até mesmo Prometheus é diluído aqui. Há uma cena em particular, onde são feitas algumas revelações sobre o propósito de David e ela sequer consegue causar sentimentos como ódio ou repulsa, como deveriam.

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Em suma, é o filme mais atrapalhado da franquia, conseguindo ser até mais decepcionante que Prometheus, ou entediante que Ressurreição. Não há investimento emocional pelos personagens, não há sensação de horror e medo nos fazendo saltar das poltronas e todas as reviravoltas são falhas, seja por serem previsíveis demais ou por não terem a menor construção.

E enquanto o público realmente se tornou raivoso com Prometheus por prometer demais e cumprir de menos – com perdão pelo trocadilho – o mesmo problema pode retornar nesse sexto filme da série, que apesar de ter Alien no título, dá bem menos foco ao monstro alienígena do que ele merecia.

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A mão de Scott pesou aqui, e é curioso que o filme fale justamente do dilema entre criador e criatura, e como, às vezes, o criador é megalomaníaco demais e tem planos que não fazem sentido. Covenant é a resposta clara para isso: um filme que tenta figurar entre os melhores da franquia, mas que acaba se tornando uma criação deformada e vergonhosa.

Talvez seja a hora de Ridley mais uma vez passar a franquia adiante.

NOTA: 2/5